Você sabe o que é etarismo?

Foto: Freepik

Por Felipe Bismarchi

Há uns dias, vi a notícia de que a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) discutia a mudança de imagem do idoso das placas indicativas por entenderem alguns deputados que a figura consagrada trata de preconceito (ver notícia: Projeto que modifica placas de sinalização para idosos avança na CLDF (correiobraziliense.com.br))

Este preconceito contra pessoas idosas é o que chamamos de etarismo ou idadismo, uma prática de exclusão ou alienação das pessoas com idade acima de 60 anos que às vezes é sutil e influencia a tomada de decisão e as práticas de organizações diversas e da própria sociedade. A mudança da imagem alusiva a pessoas idosas tirando a pessoa de bengala e curva para uma figura ereta e apenas com indicação 60+ é um símbolo importante nesta desconstrução do imaginário social sobre o idoso.

Segundo projeções do IBGE, aproximadamente 15% da população brasileira tem mais de 60 anos e essa proporção é esperada chegar em 25% em 2030, chegando já em 2025 com a sexta maior população de idosos do mundo. E qual a situação em que esta população se encontra? Quanto que o Brasil está se preparado para atender às necessidades e desejos de uma população que tem, claro, algumas limitações, mas que não é obrigatoriamente fragilizada, vulnerável e dependente. Inclusive, pesquisa de 2020 feita pelo SESC e pela Fundação Perseu Abramo (disponível: Idosos II Introducao (fpabramo.org.br)) indica que “pelo menos 64% dos idosos estão aposentados, e 95% deles contribuem com a renda da casa, sendo que 68% chefiam as famílias” (ver notícia: Brasil: 68% dos idosos são os principais responsáveis pelo domicílio (redebrasilatual.com.br).

Seja pela política pública de previdência e assistência social que pode ameaçar a valorização das aposentadorias ou mesmo o acesso a ela, seja pela precária infraestrutura de acessibilidade e mobilidade nas cidades do país ou pela ausência de esforços para a inclusão e alfabetização digital de uma geração que não nasceu nem viveu acostumada com todo o aparato tecnológico de hoje em dia ou ainda uma política de exaustão do trabalho e pressão produtivista que troca o empregado mais experiente (muitas vezes mais caro e com mais idade) por um empregado em início de carreira (certamente mais barato) cria-se uma sociedade em que o idoso é marginalizado, seus conhecimentos e experiências são menos valorizados, sua contribuição para a construção da sociedade em todas as dimensões em que vivemos é depreciada, vista como estorvo ou peso contábil-financeiro a ser minimizado de alguma maneira, negócios e soluções são menos pensadas porque no nosso imaginário ainda figura a imagem do idoso sentado em uma cadeira de balanço, usando bengala para se movimentar com dificuldade e contando causos da época quando era jovem. É uma representação que ainda encontra seus representantes mas é muito reducionista e perpetua a ideia de que a “terceira idade” é um período de pouco disposição, o que não é verdade, se cuidarmos durante toda a vida de nossa saúde física e mental, de buscarmos sempre equilíbrio entre trabalho, lazer, estudos e relacionamentos, muitos idosos – não tenho como afirmar mas infiro que a maioria atualmente – chegaram a esta condição humana porque encontraram esse equilíbrio, possuem muito a nos ensinar e podem fazê-lo nas organizações, com mentores, tutores e formadores da nova geração e não substituídos por eles, a complementariedade que gera diversidade só agrega às organizações em termos de empatia e inovação.

Diz a frase: “respeitar as pessoas idosas é tratar o próprio futuro com respeito”, o ciclo da vida é que o jovem de hoje seja o idoso amanhã. Trabalhar a integração intergeracional e administrar os conflitos que surgem deste encontro são ativos estratégicos poderosos para as organizações intensificarem a inovação por meio da escuta ativa, da empatia e da colaboração entre pessoas de gerações diferentes, trazendo toda sua bagagem para a conversa e possibilitando negócios e decisões com menos vieses e com mais inclusão!