Como Analisar os Fundamentos de uma Empresa

Foto: DCStudio/Freepik

Por Fábio Sobreira

Analista CNPI-P e Professor da FIPECAFI

Em nosso último artigo, falamos da importância da contabilidade para a Bolsa de Valores, por ser ela a base da análise fundamentalista, apesar de todos os ruídos de notícias ou até mesmo de fatos relevantes que possam ocorrer no meio do caminho, que alteram com o valor intrínseco das ações de uma empresa.

E aqui faço a separação entre fatos relevantes e notícias, que circulam nas grandes mídias e podem ou não estarem informando algo, de fato, relevante, ou tal fato não ter qualquer relevância para a análise fundamentalista, sendo apenas boatos ou comentários sobre possíveis acontecimentos que podem ou não ter alguma influência nos resultados das empresas.

Também é importante separar fundamentos de indicadores, apesar destes estarem altamente correlacionados entre si. Na verdade, os indicadores nada mais são do que o reflexo dos fundamentos destas empresas em números, numa tentativa de facilitar a vida dos analistas, criando-se assim o que chamamos de Factor Investing, ou investimentos baseados em fatores.

Claro, não é fácil escolher quais indicadores empregaremos ao analisarmos o potencial de uma empresa, mas usualmente são utilizados aqueles relacionados aos retornos que a empresa vem conseguindo com seus investimentos, como o ROE ou o ROIC, indicadores de margem, Bruta, EBITDA ou Líquida, os quais medem a eficiência operacional do negócio, além de algum indicador de endividamento, como a Dívida Bruta sobre o PL ou a Dívida Líquida sobre o EBITDA. Estes últimos são muito importantes para medirmos o grau de alavancagem das empresas e demonstraram-se muito importantes durante as crises recentes, já que o seu descontrole têm levado muitas empresas à falência.

Porém, ainda mais difícil é escolher, dentre as tantas informações disponíveis ao mercado, quais seriam aquelas utilizadas para avaliar-se os fundamentos destas empresas, por serem estes critérios muito mais subjetivos do que objetivos.

No geral, um dos fatores mais amplos para esta análise é o Segmento de Listagem, sendo o Novo Mercado o preferido por aqueles que querem uma maior segurança para se tornarem sócios de empresas listadas. Empresas do Novo Mercado são obrigadas a seguir algumas regras que são bem vistas aos olhos dos investidores e que acabam gerando valor para as mesmas no longo prazo.

Uma destas regras é o Free Float, que é o percentual de ações disponíveis no mercado. No Novo Mercado, além destas ações serem todas ON, ou seja, com direito a voto, deve-se ter, à grosso modo, pelo menos 25% de ações em circulação. Com isso, o capital votante da empresa não ficaria todo dentro dela, mas uma parte estaria nas mãos dos chamados “investidores minoritários”.

Além disso, em caso de uma OPA, que seria o encerramento das negociações das ações em Bolsa, além de um tag along dando direito aos minoritários de 100% do valor negociado pelos majoritários, este fechamento de capital apenas aconteceria se tivesse a aprovação de pelo menos ⅓ dos titulares das ações.

Outro critério bastante popular é o de a empresa obrigar-se a instalar áreas de Auditoria Interna e Compliance, além de ter um conselho administrativo de, no mínimo, cinco membros, sendo 20% deles independentes.

Vale lembrar que todos estes fatores, apesar de serem excelentes indicadores de responsabilidade das empresas com seus acionistas minoritários, não garantem que elas realmente tenham boas intenções com seus investidores. Como exemplo, podemos citar casos emblemáticos como a Multiplus, que fez uma OPA em 2019 e a Smiles, a qual foi incorporada pela Gol este ano, ambas sob protestos de muitos investidores que se sentiram prejudicados pelas condições e valores oferecidos por suas controladoras.

Ainda piores foram os casos da CVC e da IRB Brasil, empresas do Novo Mercado que reconheceram erros e distorções contábeis em seus balanços, os quais foram muito mal vistos pelos investidores da Bolsa, manchando permanentemente as reputações destas empresas perante o mercado. Na IRB o nível de desinformação e perda de confiança foi tão grande que as ações da companhia caíram de patamares acima dos 40 reais em janeiro de 2020 para valores abaixo de 5 reais nas cotações de novembro de 2021.

Analisar fundamentos é uma arte que poucos dominam e sua banalização em mídias sociais faz parecer que pode e deve ser feito por qualquer um que tenha pouco conhecimento de negócios e contabilidade, bastando apenas seguirmos algumas dicas de influencers ou nos basearmos cegamente em relatórios de casas de análises para “nos darmos bem” no mundo dos investimentos.

É a escolha de bons ativos a preços justos e a paciência para esperar seus investimentos produzirem frutos que dão tranquilidade aos investidores de empresas, sejam elas listadas ou não.

Como Warren Buffett diz, “A Bolsa é um mecanismo de transferência de dinheiro dos impacientes para os pacientes”.

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