Inflação e resgaste econômico são assuntos do panorama norte – americano de janeiro

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Por Cruz Daniel Lopez

Em função do persistente crescimento da inflação nos EUA, o Federal Reserve (Fed) sugeriu que poderia retirar o apoio à economia mais rapidamente do que os formuladores de políticas previam anteriormente, de acordo com a ata da reunião de dezembro. Os bancos projetaram no mês passado que aumentariam as taxas de juros três vezes em 2022, à medida que a economia se recupere e a inflação permaneça acima da meta do Fed. Economistas e investidores acham que esses aumentos podem começar já em março, quando agora se espera que o Fed conclua o programa de compra de títulos em grande escala que vem usando em conjunto com taxas baixas para estimular a economia.

Funcionários do Fed apontam para uma perspectiva mais forte para o crescimento econômico, bem como para a inflação contínua, dizendo que “pode ser necessário aumentar a taxa de fundos federais mais cedo ou em um ritmo mais rápido do que os participantes haviam antecipado”. Em contrapartida, deixando o aumento dos juros um pouco mais incerto, os dados do payroll de dezembro divulgados na última sexta (7) mostram que o mercado de trabalho está crescendo abaixo do que era previsto. Foram criadas 119 mil vagas, contra 400 mil das expectativas. Caso inicie mais rapidamente a redução dos seus estímulos, o Fed poderá desestimular ainda mais a economia mundial, com a retirada de recursos do mercado. Isso poderia ajudar a elevar as taxas de juros de longo prazo, tornando os empréstimos mais caros e, assim, enfraquecendo a demanda pelos produtos e serviços com consequente redução na pressão inflacionária.

As novas orientações do Fed geraram impactos diretos para o mercado de capitais norte-americano. As ações em Wall Street caíram na quarta-feira, minutos depois da divulgação da ata de dezembro. Embora o S&P 500 tenha caído um pouco antes da ata ser publicada, às 14h, o índice caiu drasticamente logo em seguida, alcançando perda de 1,9%, sua queda diária mais acentuada desde o final de novembro. A sinalização de aumento da taxa de juros já vinha sendo realizada pelo Fed, mas a resposta do mercado no mês passado foi silenciada. Com a divulgação da ata, contudo, os investidores compreenderam que taxas de juros mais altas eram inevitáveis, uma vez que os indicadores econômicos do país mostram uma boa recuperação frente à crise da Covid-19.

Os rendimentos dos títulos do governo são vistos como um indicador das expectativas dos investidores sobre as taxas de juros, os quais tiveram forte aumento na quarta-feira. O rendimento das notas do Tesouro de 10 anos subiu 1,71%, um nível não visto desde abril de 2020, quando os rendimentos dos títulos estavam disparando devido às preocupações com a inflação. A inflação continua em ascensão no início de 2022 e os democratas começaram a apontar um novo culpado pelo persistente aumento de preços: corporações gananciosas. À medida que os consumidores sentem a pressão dos preços mais altos dos alimentos, gás e produtos domésticos, cria-se um problema de mensagem política para o partido do presidente Biden.

Os legisladores e a Casa Branca inicialmente argumentaram que a inflação seria passageira e representava um sinal de que as tarifas das passagens aéreas e de hotéis estavam se recuperando, com a volta do consumo na área do turismo. Os problemas da cadeia de suprimentos e a crescente demanda do consumidor por bens, contudo, mantiveram os preços desses produtos elevados ao longo de 2021.

Mais recentemente, as pressões de preços começaram ampliar para categorias de serviços, como aluguel, em que os aumentos tendem a ser duradouros. A medida em que os salários sobem rapidamente, aumenta-se a possibilidade de as empresas continuarem a elevar os preços dos seus produtos e serviços para cobrir os novos custos. Como a inflação se mostra teimosamente pegajosa, funcionários do governo e legisladores proeminentes refinaram sua mensagem para colocar mais culpa nas corporações, especialmente aquelas em setores com firmas poderosas, como as de processamento de carne ou gás.

A disseminação da variante Ômicron, altamente infecciosa, provavelmente alimentará ainda mais inflação, já que os americanos continuam comprando em vez de gastar mais fora de casa, de acordo com o economista-chefe da Federação Nacional de Varejo (National Retail Federation-NRF), Jack Kleinhenz. Não obstante, o consultor do principal grupo de comércio varejista disse na quarta-feira, em um comunicado à imprensa, que não espera que a última onda de casos da Covid induza uma desaceleração econômica ou fechamento de negócios. Kleinhenz disse que “cada variante sucessiva desacelerou a economia, mas que o grau de desaceleração foi menor”. E, acrescentou, afirmando que os consumidores podem ter mais confiança para gastar por estarem totalmente vacinados ou por ouvirem sobre casos mais brandos da variante.

Os casos da Covid nos EUA atingiram um recorde de pandemia de mais de 1 milhão de novas infecções na segunda-feira (03), de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. O aumento nos casos de coronavírus fez com que varejistas e restaurantes, incluindo Starbucks, Apple, Nike e Gap, propriedade da Athleta, fechassem lojas ou diminuíssem o horário de atendimento, ao lidar com a falta de pessoal ou a higienização intensiva. O Walmart também fechou temporariamente cerca de 60 lojas nos Estados Unidos em dezembro. A Macy’s disse na terça-feira que está reduzindo o horário de funcionamento da loja para o resto do mês.

O dano geral da variante Ômicron parece ter um efeito menor agora que as empresas tiveram tempo para se ajustar à segurança de seus trabalhadores e consumidores. Novas medidas para suprimir todos os danos financeiros da pandemia começaram a alcançar a economia emergente, o que levará a um aumento de novas questões. Escassez de oferta, inflação, fechamento de mercados, demanda do consumidor na pandemia e questões de saúde estão entre a lista de novos impactos que a variante lançou na economia americana. Inovações em tecnologias e cuidados de saúde, como vacinas, comprimidos contra Covid-19 e melhorias nas plataformas digitais, impediram a economia de vacilar em uma recessão severa, permitindo uma transição mais suave para a nova economia americana em crescimento.

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