Gestão da Cadeia de Suprimentos – Cooperação ou Confrontação Oportunista

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Por Sergio Rodrigues Bio

Ao longo de toda a Cadeia de Suprimento (C.S.) – de fornecedores da camada inicial até o produto que adquirimos no varejo – preços das matérias-primas, insumos, componentes, bens fabricados, etc., são sucessivamente negociados até chegar ao preço do produto que, como clientes finais, decidimos pagar (ou não). A cada etapa, cada empresa envolvida busca assegurar margens que remunerem o investimento feito. Incontáveis trocas compensatórias de custos vão ocorrendo entre as empresas e, portanto, o custo total resultante e o preço para o cliente final beneficia-se pela eficiência do todo ou, é negativamente afetado pelas ineficiências. Frequentemente, no entanto, determinada empresa da C.S. analisa o excelente resultado na reunião executiva mensal, “comemorando” algumas decisões e ocorrências do período:

  • Com o mercado e a demanda aquecida “eles” não tiveram como não aceitar nosso “oportuno” aumento de preço;
  • Completamos as iniciativas de redução de inventários: “empurramos para eles” até os itens que vão ser descontinuados, ao mesmo tempo em que completamos o Programa de entregas “Just-in-time” com os fornecedores-chave sem assumir nenhum custo adicional de entregas.

Ora, clientes estão assumindo preços aumentados agora. Fornecedores estão arcando com custos adicionais. Duas coisas são certas:

1ª – As empresas envolvidas vão encontrar, necessariamente, formas de repassar estes ônus;

2ª – O custo total na C.S. será maior, preços finais tenderão a aumentar.

E uma terceira ocorrência é bem provável: as pessoas que se sentiram “vítimas” do oportunismo irão “contabilizar” os prejuízos visando futuros “ajustes”.

Com o tempo, excelentes resultados de alguns em detrimento dos outros levará a perda de competitividade da C.S. É estranho, mas o autor recentemente interagia com uma empresa que “comemorava” o excelente resultado do trimestre, enquanto o produto final da C.S. vinha perdendo posição para um novo concorrente (e a empresa tinha 75% de suas vendas concentrado na fabricante deste produto final). O cenário ideal certamente não é este. Na indústria manufatureira entre 45 e 55% dos custos de produção já são dados pelos custos dos fornecimentos, como é indicado no excelente e pioneiro livro Gestão de Custos Interorganizacionais, dos Profs. Welington Rocha e Bruno C. Souza (editora Atlas). Ainda que, internamente, todas as empresas envolvidas operem num bom nível de eficiência (o que não é o caso) há ineficiências criadas na interação entre elas na C.S. (gestão da demanda e inventários, ineficiências logísticas, entre outras) pressionando os custos.

De alguma forma, os preços, a cada estágio, pretendem cobrir os custos de produção, as despesas administrativas, comerciais, financeiras, os custos de oportunidade, os custos tributários, as margens de lucro. O cenário ideal, aí sim, é de que estes preços preservem as margens sem “carregar adiante” os ônus de ineficiências que afetem a competitividade da C.S. Há vasta literatura e experiência acumulada pelas empresas para a gestão de custos de produção e das despesas. O que importa aqui é discutir como o “modelo” de supply chain que resulta da pauta estratégica poderá afetar (positivamente) os custos na C.S., através de ações como gestão colaborativa da demanda, desenvolvimento conjunto de produtos, terceirização / novos modelos de manufatura, entre outras. Importa ainda, gerenciar o custo logístico (o supply chain interno), via de regra pouco compreendido e “sub-gerenciado”. Em logística, o custo total é resultante não de uma somatória dos custos, mas sim dos trade-offs de custos (trocas compensatórias) decorrentes das opções logísticas em especial entre: Níveis de Serviços objetivados X Níveis e Posicionamento de Estoques X Transportes.

A figura a seguir ilustra os custos que decorrem das relações relativas aos negócios inter-empresas e os custos logísticos, ou do supply chain interno. Na cadeia de suprimento como um todo o efeito sobre o custo pode ter sua primeira origem num Fornecedor tier3, tier 2, em relação à empresa foco. Em cada empresa da C.S., os custos logísticos, envolvem do abastecimento até a entrega de produtos aos clientes.

Fica a questão para reflexão do prezado leitor: Cooperação ou Confrontação oportunista na Gestão da Cadeia de Suprimentos?