Com emprego em alta, contexto econômico dos EUA é otimista apesar da guerra

Foto: @wirestock/Freepik

Por Cruz Daniel Lopez

A economia dos Estados Unidos desafiou os efeitos da Ômicron, crescendo a taxas saudáveis e criando empregos para centenas de milhares de americanos que retornam ao trabalho, mesmo em meio à contaminação expressiva. O relatório divulgado pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), dos EUA, indicou que as empresas americanas adicionaram 678.000 novos empregos em fevereiro de 2022, acima dos 481.000 em janeiro de 2022. Os números de emprego de fevereiro são os mais altos em sete meses e foram acima das expectativas do mercado. Com isso, a taxa de desemprego caiu para 3,8% em fevereiro, ante 4% em janeiro. O relatório de empregos veio uma semana depois de outro relatório do governo, que mostrou que a economia do país cresceu 7% no quarto trimestre de 2021, dando o impulso para ganhos sólidos na geração de empregos no país.

Em uma primeira tentativa de avaliar os impactos econômicos da invasão russa na Ucrânia, os analistas de mercado dizem que os EUA terão um crescimento mais lento e com inflação mais alta. A economia da Europa, em contrapartida, deverá sofrer uma recessão, enquanto a Rússia, especificamente, mergulhará em um declínio de dois dígitos. A atual expectativa para a economia dos EUA é de crescimento de 3,2% este ano, uma modesta redução de 0,3% em relação à previsão de fevereiro, mas ainda acima da tendência mundial. A inflação para gastos de consumo pessoal deve subir 4,3% este ano, 0,7 ponto percentual acima do levantamento anterior de fevereiro. No entanto, ainda pouco se sabe sobre como os EUA responderão a um provável choque do petróleo em decorrência da crise na Ucrânia. A maioria dos analistas considera os riscos para suas previsões distorcidos em direção à inflação mais alta e ao crescimento mais baixo. A remoção completa do petróleo russo da oferta global pode significar um resultado muito mais danoso do que tem sido considerado.

O aumento dos preços das commodities, as amplas sanções financeiras e o potencial de proibição das importações de energia da Rússia após a invasão da Ucrânia ameaçam prejudicar uma economia global ainda enfraquecida pela Covid-19. Os governos ocidentais também estão complicando a tarefa dos bancos centrais que estavam se preparando para eliminar gradualmente o dinheiro fácil. O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, declarou recentemente que a invasão da Ucrânia pela Rússia provavelmente elevaria a inflação e disse que proporia um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros na reunião que se inicia no dia 15 de março.

Além disso, os mercados de ações voláteis estão corroendo as economias de fundos de pensão nos EUA, depois que os sistemas de previdência pública finalizaram 2021 com participações acionárias em alta, considerando os últimos 10 anos. Esses fundos tinham, em média, 61% de seus ativos em ações ao final de 2021, acima dos 54% de 10 anos atrás. A guerra entre a Rússia e Ucrânia e as expectativas de que o Fed aumentará as taxas de juros este mês prejudicaram os preços das ações, reduzindo essas participações em bilhões de dólares. Com a inflação na máxima de 40, os investidores começaram o ano fugindo das ações de crescimento, levando o Nasdaq de janeiro ao seu pior mês desde março de 2020, os primeiros dias da crise provocada pela pandemia.

De uma forma geral, as ações em todo o mundo oscilaram no início de março, juntamente com os preços do petróleo e do níquel, o qual subiu tanto que as suas negociações foram fechadas em Londres. Na Rússia, em contrapartida, o banco central fechou o mercado de ações do país na segunda-feira em uma tentativa de conter um declínio acentuado esperado depois que sanções financeiras do ocidente foram implementadas. O mercado de ações do país sofreu uma queda devastadora de até 50% na semana passada após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Para reduzir ainda mais o declínio em seu mercado de ações quando reabrir, o banco central do país instruiu os corretores a não executar ordens de venda de ações russas de investidores estrangeiros.

Mesmo com o recente movimento de apreciação do real frente às principais moedas internacionais, dois fatores externos podem alterar o fluxo de capital no curto prazo. O primeiro deles representa o anúncio iminente do aumento da taxa de juros nos EUA. Nos dias 15 e 16 de março o Federal Open Market Committee (Fomc) realizará sua segunda reunião do ano e um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros norte-americana tem sido esperado pelo mercado.

Apesar de o Fomc já ter anunciado, ao longo dos últimos encontros, a necessidade de elevar a taxa de juros para frear o avanço da inflação foi anunciado com antecedência pelo Federal Reserve (Fed) e já está parcialmente precificado pelo mercado. Não obstante, impactos de menor escala poderão fazer a taxa de câmbio voltar a um patamar mais próximo do que era observado no início de 2022.

Adicionalmente, o segundo fator que poderá trazer uma alteração no fluxo de capitais para o Brasil nos próximos meses é o desenrolar da crise político-militar entre Rússia e Ucrânia. Tanto a Rússia quanto a Ucrânia são países importantes para o cenário econômico mundial. Enquanto a Rússia representa um dos maiores no EUA, parte do capital internacional hoje direcionado no Brasil pode migrar para o mercado norte-americano, buscando uma fonte de remuneração mais segura, quando o anúncio de fato ocorrer. Ao contrário do que ocorreu em 2013, contudo, a retomada dos juros nos EUA não deverá trazer grandes impactos para o Brasil, que já está com o câmbio depreciado. Além disso, o anúncio do tapering (redução dos estímulos) produtores de petróleo do mundo, a Ucrânia detém uma parcela significativa da produção de grãos, em especial, trigo e milho. A redução da oferta dessas commodities poderá pressionar o preço dos produtos no mercado internacional, trazendo novas ondas de inflação para o Brasil.

Os preços dos produtos comercializados pela Rússia e Ucrânia, desde o início da guerra, têm apresentado uma significativa elevação no cenário internacional, o que já traz consequências para o Brasil. A Petrobras, que adotou a política de paridade com o mercado internacional no governo Temer, em 2016, tem sido questionada sobre novos ajustes no preços dos combustíveis. É importante lembrar que a falta de paridade foi uma das principais críticas aos últimos governos, que seguraram artificialmente os preços dos combustíveis a partir da gestão da estatal. Agora, com uma nova onda de aumento dos preços do petróleo, o presidente e sua equipe econômica analisam soluções de curto prazo para contornar a paridade internacional e frear o possível avanço do preço da gasolina e diesel, o que traria impactos negativos para a popularidade do atual governo neste início da corrida presidencial. Sendo assim, é possível que no curto prazo a Petrobras volte a subsidiar o preço dos combustíveis no mercado interno, minimizando os efeitos da guerra na Ucrânia.

Por fim, para o Brasil, a crise provocada pela invasão russa na Ucrânia poderá gerar prejuízos também para o agronegócio. Isso porque, grande parte dos fertilizantes utilizados na produção do setor agropecuário no Brasil vem da Rússia. As dificuldades de produção e escoamento de carga no contexto de guerra, além das barreiras econômicas impostas pelo ocidente à Rússia, poderão dificultar (ou até mesmo impedir) a importação deste item nos próximos meses, reduzindo a produtividade das próximas safras brasileiras.

Contato: [email protected]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.