Retomada do varejo e dos serviços em risco por conta dos indicadores macroeconômicos e do aumento da incerteza

Foto: Artem Beliaikin/Pixels

Conforme já publicado, as últimas pesquisas mensais do IBGE sobre o desempenho do comércio (PMC) e do setor de serviços (PMS), referentes ao mês de julho/2021, trouxeram resultados muito consistentes e acima das expectativas do mercado para ambos os setores: (i) crescimento de 1,2% do volume de vendas do varejo restrito na comparação com junho/2021, atingindo o recorde da série histórica e crescimento acumulado de 6,6% no ano; e (ii) crescimento de 1,1% do volume de serviços na comparação com junho/2021, atingindo o quarto mês de crescimento consecutivo e a taxa mais alta desde março/2016. Em uma primeira visão, tais resultados apontam para uma retomada da economia após o período de restrições impostas por conta da pandemia. Contudo, alguns sinais mais recentes têm acendido o sinal amarelo para esses setores.

Em primeiro lugar, a persistência de indicadores macroeconômicos com desempenho abaixo do esperado, com destaque para a alta da inflação e a manutenção de uma taxa de desemprego próxima à máxima histórica, tem gerado uma redução da renda da população e uma perda de confiança na economia. O Índice de Confiança do Comércio de agosto/2021 apresentou a primeira piora, ainda que discreta, após 4 meses consecutivos de crescimento. Do mesmo modo, o índice de confiança do consumidor de setembro trouxe o segundo mês seguido de queda, levando o indicador para o pior patamar desde abril deste ano. Esse desempenho aponta para uma desaceleração da retomada a partir do mês de agosto/2021, gerando muitas incertezas sobre os próximos meses.

Em paralelo, o fato de o crescimento observado no varejo e nos serviços ser heterogêneo, com desempenhos bastante desiguais entre as diversas atividades econômicas, coloca em xeque a visão de que a retomada da economia esteja ocorrendo de maneira ampla e robusta.

Na composição do varejo, por exemplo, observa-se que há uma retomada acelerada nos últimos 12 meses dos setores de tecidos, vestuários e calçados (+42,0%) e de outros artigos de uso pessoal e doméstico (+36,8%), enquanto outros como livros, jornais, revistas e papelaria (-23,2%) e móveis e eletrodomésticos (-12,0%) ainda sofrem para se recuperar. Já no que diz respeito ao setor de serviços, ainda que os últimos 12 meses tenham trazido crescimento em todas as atividades, o setor de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio foi o que teve a maior contribuição para o crescimento do indicador (+21%). Destaca-se também o crescimento dos serviços prestados às famílias, que tiveram variação percentual de 76,3% nos últimos meses, indicando uma forte retomada, mas ainda inferior ao que se observava antes da pandemia.

A grande conclusão a que se pode chegar a partir das considerações acima é de que a tão aguardada retomada da economia com a flexibilização das medidas restritivas relacionadas à COVID-19 está ocorrendo, mas tende a enfrentar desafios e ocorrer em um ritmo inferior ao esperado. Esse efeito tende a ser ainda mais forte para a população de renda mais baixa, a qual teve suas finanças mais diretamente impactadas pela pandemia. As medidas de controle da inflação e de extensão do auxílio emergencial em discussão tendem a contribuir positivamente para a retomada do caminho de crescimento, mas ainda com muito pouca segurança, devido ao aumento da incerteza política e econômica no curto prazo.

*Fernando Trambacos – Coordenador dos cursos de Inteligência de Mercado no Varejo e Planejamento e Gestão Financeira no Varejo da Faculdade FIPECAFI

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