Você conhece os limites do planeta?

Foto: Freepik

Por Felipe Bismarchi, Professor na Faculdade Fipecafi

Na sequência da nossa publicação anterior, hoje, veremos a fronteira externa do donut, o teto ambiental. Esta fronteira é composta por nove limites planetários apresentados por um vasto trabalho organizado pelo Stockholm Resilience Centre (Centro de Resiliência de Estocolmo) em publicações de 2009 e 2015 (e você pode acessar em Planetary boundaries – Stockholm Resilience Centre).

Estes limites são interdependentes e, em conjunto, asseguram as condições de vida na Terra: destruição da camada de ozônio (ozônio estratosférico), perda de integridade da biosfera (perda e extinção de biodiversidade), poluição química e liberação de novas entidades, mudança climática, acidificação dos oceanos, consumo de água e ciclo hidrológico global, mudanças no uso da terra, ciclos do fósforo e nitrogênio e carga de aerossóis atmosférico.

O gráfico mais atualizado, divulgado em um estudo de janeiro de 2022, trazendo pela primeira vez uma quantificação da poluição química, está a seguir:

Foto: stockholm resilience

cuja variável de controle ainda não é quantificável (carga de aerossóis atmosféricos) mas existem indícios de sobrecarga também. É certamente alarmante a nossa situação tanto pela gravidade da sobrecarga nestas fronteiras quanto pela quantidade de fronteiras simultaneamente ultrapassadas e ainda pela inexistência de uma governança global efetiva destas fronteiras.

Um caso de sucesso foi o Protocolo de Montreal (desde 1987) que baniu os CFCs que destroem a camada de ozônio, revertendo o buraco e reenquadrando nossa existência nos limites desta fronteira. O tempo de resposta da natureza às agressões causadas pela ação humana e sua recuperação, contudo, são muito maiores para o que espera nossa crescente ansiedade. Ainda para a camada de ozônio como exemplo, a última avaliação emitida pela Organização Meteorológica Mundial, em 2018, concluiu que a camada estava no caminho da regeneração mas que somente em 2060 os valores da camada sobre a Antártida retornariam a patamares anteriores aos anos 1980.

Cada uma destas fronteiras tem uma importância essencial na sustentação da vida (toda a vida, não só a humana) no planeta e este delicado equilíbrio dinâmico que propiciou o Holoceno, nossa atual época geológica de temperaturas e eventos climáticos estáveis, que está se rompendo levando cientistas a defender uma nova nomenclatura para o período geológico que vivemos para Antropoceno, momento em que a humanidade passa a ter força equivalente a uma força geológica, podendo alterar relevos, extinguir ou criar espécies e afetar dinâmicas ecossistêmicas. Ainda que a oficialização desta nova época demore alguns anos para os ritos globais necessários, precisamos imediatamente repensar a base ética sobre a qual operamos.

A solução para nos reenquadrarmos dentro dos limites planetários passa por admitirmos que não somos superiores à natureza, não estamos apartados da biosfera, não temos poder (intelectual, tecnológico, físico ou financeiro) capaz de substituir esta teia de vida dinâmica e complexa que garante as condições biogeoquímica do planeta. É fundamental abandonarmos a ideia cartesiana de conhecer a natureza para dominá-la e resgatarmos uma visão holística (de inspiração indígena, oriental e até mesmo de diversas religiões) de que somos parte deste sistema e precisamos repensar a qualidade de nossas conexões com todos os outros elementos constituintes. Essa mudança ética no Antropoceno é urgente e impacta sobre a prioridade das pautas da agenda global pública e privada seja para a Natureza seja para as Sociedades, como veremos na próxima publicação.

Para acessar o primeiro texto da série sobre a economia donut clique aqui!

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