Um pensamento sobre ecologia decolonial

Foto: Freepik

Por Felipe Bismarchi

Há um tempo terminei de ler o livro de Malcom Ferdinand Ecologia Decoloniai que recomendo fortemente a todos os interessados em Sustentabilidade e, especialmente, aqueles que são do eixo Sul do mundo, como nós brasileiros.

Malcom traz em uma escrita leve e profunda, o histórico da conexão desfeita ao longo de séculos entre a agenda de justiça social e a agenda ambiental que ele chama de dupla fratura. Esta separação faz com que o pensamento ecológico ganhe contornos desassociados das causas sociais enquanto as lutas sociais reivindicam espaço no debate público sem discutir, salvo algumas exceções, as questões ambientais que estão indissociadas.

Com um relato riquíssimo do período do tráfico de africanos escravizados para o Caribe e de suas lutas e resistências, Malcom busca reconectar a indissociável relação entre a Natureza e a Sociedade em suas pluralidades e desafios contextuais, descontruindo uma imagem de Natureza e Humanidade homogeneizantes (e geralmente visibilizando uma parte só, frequentemente dos colonizadores e povos dominadores) e evidenciando suas multiplicidades e que elas precisam ser reconhecidas para que a caimnhada em direção à Sustentabilidade seja inclusiva e equânime para que ninguém fique, parafraseando-o, nos porões dos navios e sim saiam ao convés deste navio-mundo e construam uma identidade global localmente consistente, inclusiva e combativa da dominação, exploração e destruição (e morte) das pessoas e da Natureza.

Com os eventos que temos visto acontecerem em função das mudanças climáticas causadas pela ação humana (inclusive assim afirmadas com certeza pelo recente relatório periódico do IPCC) ganham força discussões que trouxemos aqui como justiça ambiental, transição climática justa e combate ao racismo ambiental. 

Este precioso livro de Malcom Ferdinand me fez relembrar e reforçar os textos de Edgar Morin sobre a condição humana tripla e indissociável: indivíduo-sociedade-espécie e do princípio dialógico do pensamento complexo desenvolvido por ele em que fenômenos podem ser concomitantemente complementares, antagônicos e concorrentes nos levando a perceber o mundo com mais E do que OU, isto é, não cabe discutir Ambiental OU Social em prioridade ou urgência e sim compreender que Ambeintal E Social são indissociáveis E prioritários E urgentes E estão ligadas ao modelo civilizatório colonial que ainda reproduzimos com novos formatos e tecnologias mas que ainda vê a natureza como provedora de recursos e sorvedoura de rejeitos mas não sujeito de direitos plenos de existir com dignidade, assim como aceita pessoas de categorias distintas (umas mais dignas e outras menos) por meio dos mais variados discursos e políticas da falácia da meritocracia ao racismo reverso. 

O livro é um convite para repensarmos que civilização é essa, quem está sendo ouvido, visto e participando de sua construção e quais condições de sustentá-la neste planeta. Vale cada página!