Até quando?! O caso de Tyre Nichols e a urgência de políticas antirracistas

Foto: Freepik

Por Cintia Araujo

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”, disse a grande filósofa, professora e ativista americana Angela Davis[1].

Suas palavras ecoam ainda mais forte quando vemos a repetição de um trágico caso de violência policial nos EUA, que resultou na morte de um homem negro. Desta vez, o jovem de 29 anos, Tyre Nichols, que faleceu 3 dias após ter sido espancado por policiais em Memphis[2][3]

Leitores e leitoras podem pensar: “Que este assunto tem a ver com a coluna do Denarius??”

Oras, ao pautarmos assuntos como diversidade, inclusão, sustentabilidade social e combate e prevenção a violência contra mulheres, é imperativo que pautemos este assunto.

Este caso de violência ressalta aspectos importantíssimos para executivos, gestores e profissionais responsáveis pela gestão de pessoas, pois, traz à tona o papel determinante do racismo estrutural nos rótulos sociais que definem como negros e pardos são vistos e tratados dentro da sociedade. Assim, negros e pardos têm, paralelamente, mais chances de serem parados pela polícia e menos chances de serem contratados e/ou promovidos a cargos de gestão.

Neste cenário, as empresas exercem um papel de protagonismo na mudança da sociedade[4]. As empresas não podem nem ser ingênuas ou evasivas, tratado as questões da diversidade e inclusão superficialmente, focando somente nas campanhas de marketing e engajamento de clientes “diversos”, sem analisar e reajustar seus processos de gestão de pessoas e sua cultura organizacional[5].

Os programas de diversidade precisam ir além das palestras e treinamentos anuais. É urgente que as empresas desenvolvam políticas/programas de longo prazo, com monitoramento de resultados, responsabilização de executivos e gestores, estabelecimento de metas estratégicas e implementação de programas de prevenção e combate a todas formas discriminação e assédio[6].

Somente dessa maneira será possível criar ambientes verdadeiramente inclusivos e inovadores. Afinal, qual empresa deseja correr o risco de ter um de seus vendedores maltratando um cliente negro/pardo por subestimar sua condição financeira e social? Qual empresa quer correr o risco de ver seus funcionários sofrendo com sintomas de ansiedade e depressão por sofrerem discriminação ou assédio?

Estas são algumas das situações enfrentadas por empresas que se omitem da instância da questão racial em nosso país.

Todos queremos viver em uma sociedade mais justa e mais pacífica. Por isso, a questão racial não é exclusiva dos negros, mas é uma pauta de todos. 


[1] Redação. (2021, November 20). Dia da Consciência Negra: Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. SINTAC – Sindicato dos Fazendários do Ceará. https://www.sintafce.org.br/dia-da-consciencia-negra-nao-basta-nao-ser-racista-e-preciso-ser-antirracista/

[2] Redação. (2023, January 31). Caso Tyre Nichols: três bombeiros também são demitidos. G1. https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/01/31/caso-tyre-nichols-tres-bombeiros-tambem-sao-demitidos.ghtml

[3]Levinson-King, R. (2023, January 30). Unanswered questions from videos of Tyre Nichols’ arrest. BBC News. https://www.bbc.com/news/world-us-canada-64442019

[4] PMI. (2022). Megatendências 2022.

[5]Araújo, C. C. S. de A., & Carneiro Jr., E. (2020). Reconhecendo as relações de raça no contexto organizacional: Um Modelo Conceitual de Maturidade em Gestão da Diversidade. XXIII Seminários Em Administração (SEMEAD 2020).

[6]Araújo, C. C. S. (2022, October 22). Efeitos da violência no potencial feminino e medidas necessárias para criação de ambientes de trabalho seguros. Boletim Denarius. https://denarius.info/efeitos-da-violencia-no-potencial-feminino-e-medidas-necessarias-para-criacao-de-ambientes-de-trabalho-seguros/