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Por Andson Braga de Aguiar
Já não se discute atualmente se as organizações precisam ou não considerar as implicações ambientais de seus negócios. Essa discussão está superada na medida em que as organizações que não tiverem essa preocupação tendem a estar fora do jogo em um intervalo de tempo que pode nem ser tão longo. Existem atualmente fundos de investimento que apenas aportam recursos naquelas organizações que possam ser classificadas como ambientalmente responsáveis. É crescente o número de consumidores conscientes ambientalmente que estão dispostos a substituir seus padrões de consumo de produtos mais baratos, embora não responsáveis ambientalmente, para produtos mais caros e que podem ser classificados como ambientalmente sustentáveis.
Conforme refletido na COP26, o que se discute atualmente é o que as organizações vão fazer para responder às pressões de mercado e da sociedade em geral para se adequar a essa nova realidade, que requer das organizações negócios sustentáveis e compromisso com um programa de net zero. As organizações que se negarem a seguir esse caminho, ou que não tiverem os recursos para tanto, correm um risco não desprezível de perderem competitividade e de comprometerem a continuidade dos seus negócios.
Em resposta às pressões e demandas por maior compromisso com o meio-ambiente, muitas organizações começaram a divulgar mais ou menos informações sobre os riscos ambientais de suas ações, assim como, sobre as ações esperadas para mitigar tais riscos. Essas informações são, sem dúvida, importantes para que as organizações comuniquem ao mercado e à sociedade em geral o compromisso com uma gestão sustentável. Entretanto, essas comunicações nem sempre são percebidas como legítimas ou honestas, muitas vezes sendo entendidas apenas como ‘cheap talk’, ou ainda, como sendo vistas simplesmente como cinismo organizacional. Uma das razões para esse descompasso entre as comunicações externas que as organizações fazem sobre suas iniciativas próambientais e a percepção dos diversos grupos de interesse sobre essas iniciativas é que nem sempre esses discursos são acompanhados de ações efetivas.
Se o intuito das organizações for mover sua posição de um ponto em que são elaborados discursos favoráveis à sustentabilidade e às iniciativas próambientais para um ponto em que esses discursos se configuram em ações efetivas, parece fundamental que as organizações se preocupem também em criar as condições internas necessárias para tanto. Isso significa não apenas planos de ação bem elaborados, mas significa essencialmente a provisão de incentivos capazes de estimular internamente os comportamentos desejados.
O desafio é o fornecimento de incentivos para estimular não apenas o comportamento dos principais executivos das organizações, que cumprem um papel essencial nesse processo de transformação para uma cultura de sustentabilidade e de ações pró-ambientais. É igualmente importante que esses incentivos sejam criados para os níveis intermediários de gestão, os quais são os principais responsáveis em implementar uma parcela significativa das ações planejadas que estão alinhadas ao compromisso da organização com um programa de net zero. Entende-se que, somente assim, as organizações serão capazes de efetivamente estabelecer as normas sociais favoráveis para a realização de ações e a adoção de comportamentos pró-ambientais e, por consequência, serão capazes de moldar a cultura organizacional que valorize uma gestão sustentável.
A criação nas organizações de incentivos destinados a gestores intermediários é importante na medida em que se admita que nem todes temos uma preocupação intrínseca com as implicações ambientais de nossas ações; nem todes temos uma preocupação pró-social associada às escolhas que fazemos; nem todos adotamos voluntariamente e perseguimos intrinsecamente macro valores de universalismo e benevolência. Uma vez que temos orientações diferentes quantos às nossas crenças e valores, embora as organizações possam elaborar planos de ação bem-intencionados visando iniciativas pró-ambientais, essas iniciativas podem nunca ser implementadas pelos níveis intermediários da gestão devido a ausência de incentivos para tanto.
Uma reflexão final que aqui se coloca é que, ao considerarmos que as organizações precisam prover incentivos para estimular comportamentos próambientais de seus gestores de nível intermediário, torna-se então necessário que as organizações selecionem os mecanismos de incentivo que sejam apropriados para oferecer tais estímulos. Os normativos econômicos irão sugerir que essa seleção indiscutivelmente inclua incentivos na forma de recompensas condicionadas ao alcance de um determinado nível de desempenho ambiental. Exemplos de organizações seguindo esse caminho já são evidentes.
Complementarmente, ou alternativamente, as organizações podem fazer uso de incentivos menos formais para estimular comportamentos pró-ambientais de seus gestores de nível intermediário. As organizações podem, por exemplo, fazer uso de incentivos na forma de suporte institucional, comunicações internas, apoio e comportamento exemplar dos principais executivos em favor de iniciativas pró- -ambientais. Entende-se que o fornecimento desses incentivos menos formais pode ser de fundamental importância para a construção de uma sólida cultura organizacional de sustentabilidade e de ações pró-ambientais. A pergunta que fica nessa reflexão é saber quais organizações já estão se movendo do discurso para as ações, quais organizações já estão se movendo dos planos de ação para a implementação bem-sucedida desses planos com o apoio de incentivos fornecidos aos seus executivos e gestores, e ainda, quais incentivos poderão contribuir de maneira efetiva com esse processo, ou seja, quais são as melhores práticas.
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