A temporada de balanços do segundo trimestre de 2022 até agora

Por Fabio Sobreira

O mês de agosto chegou e a temporada de balanços do segundo trimestre de 2022 (2T22) está a todo vapor, com algumas grandes empresas já refletindo em suas cotações os desempenhos de seus resultados.

A largada foi dada novamente pelas “apressadinhas” Weg e Romi, as quais, guardadas as devidas peculiaridades e proporções de receita e valor de mercado, já que a primeira é muito maior que a segunda em todos os sentidos, pertencem ao mesmo setor de Bens Industriais e apresentaram números um pouco abaixo dos apurados no mesmo período do ano passado (2T21). Ainda assim, ambas vieram com balanços sólidos e bons resultados, causando um aumento de suas cotações nos últimos dias.

Na semana seguinte, várias empresas de diversos setores também divulgaram seus resultados, com destaque para as empresas com maior participação no índice Ibovespa, Vale e Petrobrás.

A Petrobrás deu um show à parte, com um balanço muito robusto e lucro recorde, o qual possibilitou que a empresa anunciasse absurdos 17 bilhões de dólares de dividendos (89 bilhões de reais). Este valor, porém, é 60% maior que seu lucro no trimestre, de 54 bilhões de reais, o que obrigará a empresa a queimar uma parte expressiva de seu caixa de 100 bilhões apresentado em seu último balanço patrimonial. O mercado certamente gostou dos números da empresa, com suas ações subindo quase 6% no dia seguinte à sua divulgação.

Já a Vale não teve a mesma dinâmica e, apesar de ter apresentado um crescimento de seu lucro em relação ao trimestre anterior (1T22) de mais de 30%, caiu quase 25% em relação ao mesmo período do ano passado (2T21), no auge do rally das commodities, quando o minério de ferro ultrapassou os 220 dólares. O mercado reagiu com certo receio aos números apresentados e a cotação da empresa caiu mais de 1% no pregão seguinte, mesmo com o aumento de mais de 7% no preço do minério de ferro naquele mesmo dia.

Mas a Vale não é a única empresa do setor de materiais básicos que vem sofrendo com seu próprio sucesso do passado. No dia seguinte à divulgação da Vale, foi a vez da Usiminas soltar o seu balanço e, ainda pior do que a primeira, viu seu lucro cair 16% com relação ao trimestre anterior (1T22) e quase 77% com relação ao mesmo período do ano passado (2T21). Com essa queda no lucro trimestral, os indicadores da empresa também foram reajustados e seu Poder de pagar dividendos (Poder de Lucro) caiu de quase 90% para “apenas” 54% no dia da divulgação dos resultados, sendo ainda um dos maiores da bolsa. No dia seguinte ao balanço, a cotação da USIM5 caiu quase 5%.

Dentre os destaques negativos temos o setor de Varejo, um dos mais prejudicados pelo esfriamento da economia causado principalmente pelos sucessivos aumentos das taxas de juros, que saltaram de 2% para 13,75% em pouco mais de um ano. O Pão de Açúcar, por exemplo, apresentou prejuízo de 125 milhões no trimestre, contra um lucro de 1,42 bilhões no trimestre anterior (1T22).

Mas nem tudo são espinhos no setor, Lojas Renner apresentou um bom balanço, com aumento considerável de seu lucro de mais de 80% em comparação tanto ao trimestre anterior quanto ao mesmo período do último ano. O aumento de 37,8% das vendas nas mesmas lojas e de 27,3% no Volume Bruto de Mercadorias foram alguns dos motores que impulsionaram o resultado da empresa.

No setor financeiro, o destaque foi a Cielo, que apresentou um resultado líquido consolidado de 635 milhões de reais, o maior desde o quarto trimestre de 2018, com um crescimento de 252% sobre o mesmo período do ano passado (2T21). Além disso, a empresa teve volume transacional recorde no 2T22, com 221 bilhões de reais tendo passado por suas maquininhas. Um dia após a divulgação dos resultados, as ações da empresa subiram quase 10% e já acumulam alta de mais de 100% apenas em 2022.

Dentre os grandes bancos, sem muitas novidades. Bradesco e Santander viram seus lucros ficarem praticamente estáveis com relação ao trimestre anterior, com o crédito sendo o principal destaque para o Santander, enquanto a venda de seguros segurou os lucros do Bradesco. Nos últimos 5 dias, Bradesco vem apresentando alta maior do que a do Santander, apesar de seu resultado ter saído alguns dias depois.

Já entre as empresas do setor de papel e celulose, a Klabin apresentou resultados mais consistentes, enquanto a Suzano vem demonstrando altos e baixos em seus lucros trimestrais. Para termos uma ideia, apesar do lucro da Suzano despencar mais de 98% na comparação com o 2T21 e o 1T22, a empresa apresentou um crescimento maior de seus lucros, de 37%, contra 20% da Klabin, na comparação entre os resultados do ano de 2021 contra o anualizado de 2022, que leva em conta os últimos 4 trimestres e não apenas um trimestre isolado. Importante, porém ressaltar que, se olharmos um pouco mais para trás, em 2020, ambas apresentaram prejuízos, o que demonstra o quanto é importante fazer análises mais abrangentes das empresas em vez de olhar apenas o que acontece no curto prazo.

Outros balanços serão ainda divulgados até o dia 15 de agosto, mas acredito serem estes os principais destaques desta temporada até aqui. Fica o desafio para as empresas de não somente vencerem os desafios naturais causados por uma SELIC próxima a 14% tanto para a manutenção de suas atividades operacionais quanto para despertar o interesse de investidores que podem obter hoje altos resultados na Renda Fixa, sem os riscos naturais da Renda Variável.

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