Você sabia que as organizações têm memória?! O que é memória organizacional e suas implicações

Foto: Freepik/diana.grytsku

As empresas têm memória, sim!

Se você não ouviu o termo “memoria organizacional” pode ter ouvido outros termos pelos quais esta dimensão pode ser denominada: base de conhecimento empresarial, memória de grupo, mente de grupo, memória coletiva, inteligência coletiva, inteligência corporativa ou base de conhecimento compartilhada[1]. Uma definição bastante didática de memória organizacional é que esta constitui-se de conhecimento corporativo, que representa experiências prévias armazenadas e compartilhadas pelos membros da organização. Tal memoria inclui desde arquivos, manuais, sistemas e banco de dados como também aquele conhecimento que é disseminado no “boca-a-boca” como opiniões, experiências pessoais e coletivas1

Assim como para nós humanos, a memória organizacional molda as atitudes, decisões, símbolos e o modo como as pessoas se inter-relacionam dentro de uma organização/empresa.

Fazendo relações com a forma como lidamos com nossas memórias, tal como os humanos, as organizações/empresas tendem a destacar as memórias que remetem fatos positivos como conquistas, tradições, sucessos, enquanto “apaga” memórias relacionadas a fatos negativos como fracassos, erros, acidentes e afins. Não é à toa, que há casos em que as corporações/empresas “apagam” de sua história fatos como envolvimento com guerras, racismo e escravidão (Veja reportagens sobre Volkswagen e outras empresas de origem alemã, com envolvimentos com o regime ditatorial brasileiro[2] e o regime nazista alemão[3]).

Há um pouco mais de 2 anos, em 19 de novembro de 2020, às vésperas do dia da Consciência Negra e meses depois do caso trágico ocorrido nos EUA com George Floyd, João Alberto, de 40 anos, foi agredido por seguranças de um hipermercado em Porto Alegre da maior rede de varejo alimentar do país, o Carrefour.

Em 2021, o Grupo Carrefour assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto a diversos órgãos, celebrado entre a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério federais e estaduais (Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, Ministério Público do Trabalho, a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul[4].  

A partir deste Termo, a empresa se comprometeu a realizar uma série de medidas e programas institucionais para fomentar inclusão racial, assim como combater ações de violência e discriminação como a que acarretou na trágica morte de João Alberto. Entre estas medidas estão concessão de bolsas de graduação e pós-graduação para pessoas negras[5] e mudanças estruturais no sistema de segurança de toda sua rede de supermercados. Neste novo sistema, todos profissionais de segurança deverão passar por treinamento e utilizar câmeras de segurança em seus uniformes[6].

Em seu site, a empresa apresenta o programa “Não Vamos Esquecer”, em que relata o andamento do processo de reparação e compensação dos familiares de João Alberto, como também seu programa institucional de diversidade e inclusão racial. Confira nas figuras abaixo.

Figura 1: Printscreen programa Carrefour “Não vamos esquecer”

Fonte: Carrefour após João Alberto: Compromissos públicos, acordos com familiares e negociação com autoridades em prol da diversidade. (n.d.). Grupo Carrefour Brasil. https://www.grupocarrefourbrasil.com.br/nao-vamos-esquecer/carrefour-apos-joao-alberto-compromissos-publicos-acordos-com-familiares-e-negociacao-com-autoridades-em-prol-da-diversidade/

Que este exemplo do Grupo Carrefour nos ensine que experiências e conhecimentos acumulados (tanto positivos quanto negativos) sejam compreendidos e gerenciados de forma responsável, de modo que erros passados não sejam “fantasmas” a serem temidos ou escondidos no armário, mas ferramentas para criação, inovação, melhoramento de tomadas de decisões e construção de um ambiente de trabalho inovador e saudável para todos os seus membros.

Figura 2: Plano de Ação do Carrefour para o combate ao racismo

Fonte: 8 compromissos assumidos e o Plano de Ação do Carrefour para o combate ao racismo e à discriminação. (n.d.). Grupo Carrefour Brasil. https://www.grupocarrefourbrasil.com.br/nao-vamos-esquecer/


[1] Laspisa, D. F. (2007). A influência do conhecimento individual na memória organizacional: Estudo de caso em um call center.

[2] Vendruscolo, S. (2020). Volkswagen assina acordo milionário de reparação por colaborar com ditadura e abre precedente histórico. El País – Brasil. https://brasil.elpais.com/brasil/2020-09-24/volkswagen-assina-acordo-milionario-de-reparacao-por-colaborar-com-ditadura-e-abre-precedente-historico.html

[3] Marchesan, R. (2017). Volks, BMW, Hugo Boss: essas e outras gigantes ajudaram Alemanha nazista. UOL  Economia. https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/09/12/empresas-nazismo.htm

[4] Termo de Ajustamento de Conduta – Carrefour Comércio Ltda., (2021). https://www.mpf.mp.br/rs/atos-e-publicacoes/termo-de-ajustamento-de-conduta-tac/tac-carrefour/termo-de-ajustamento-de-conduta-tac-assinado-com-o-carrefour

[5] TAC Carrefour: publicado edital de bolsas de graduação e pós-graduação para pessoas negras. (2022, Agosto 22). Defensoria Pública da União. https://www.dpu.def.br/noticias-rio-grande-do-sul/58-noticias-rs-geral/69989-acordo-com-carrefour-publicado-edital-de-bolsas-de-graduacao-e-pos-graduacao-para-pessoas-negras

[6] Redação (Novembro 2021). Caso Joao Alberto: Carrefour implanta novo sistema de segurança no pais. Poder360. https://www.poder360.com.br/brasil/caso-joao-alberto-carrefour-implanta-novo-sistema-de-seguranca-no-pais/

(Redação: Fernanda Zambianco)