Quais os principais impactos econômicos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia no Brasil?

Foto: @AlikaObraz/Freepik

O início dos ataques após semanas de tensão entre a Rússia e a Ucrânia, deve refletir economicamente no mundo todo. Apesar de o Brasil não estar próximo fisicamente da Ucrânia, com o movimento do comércio internacional, a economia brasileira tende a ser afetada, o que chegará, inevitavelmente, à carteira dos brasileiros.

O conflito ocorre em um momento onde a inflação está alta e o juros na casa dos dois dígitos no Brasil. Também vale ressaltar que o combustível é o item que mais influência no índice de inflação (IPCA), e o petróleo já registrou altas imediatamente após as primeiras notícias envolvendo a guerra.

A Rússia é uma das maiores exportadoras de petróleo no mundo e, com as sanções prometidas por parte da Otan, o mundo deve testemunhar consequências no preço do petróleo. Como o barril é cotado em dólar, os impactos nesse mercado refletirão por aqui. Para se ter uma ideia, a Rússia produz mais de 10 milhões de barris da matéria-prima ao dia, já o Brasil produz em torno de 3 milhões de barris/dia.

Quando o assunto é petróleo, o professor Flavio Riberi, coordenador de cursos de pós-graduação da Faculdade Fipecafi, lembra que em uma economia de guerra há muitas mudanças no consumo de determinados produtos. “O petróleo não fornece só o combustível, mas uma série de outros insumos para diferentes industrias que até inclusive a aplicação militar. Portanto, a Rússia deverá direcionar o que ela produz para ela mesma, alterando os níveis de produção interno, influenciando a oferta de produto e consequentemente o preço. Podemos esperar grandes oscilações”, explica.

Outro fator que deverá movimentar a economia mundial de alguma maneira é a venda do gás natural. “O gás que a Rússia fornece, principalmente para a Alemanha, tem o objetivo de suprir o aquecimento no período de inverno. Não é algo que vá afetar de uma forma sumária, mas é um elemento que compõe a matriz energética europeia, sendo um item relevante da pauta de exportação da Rússia que pode entrar no jogo diante das severas sanções promulgadas pelos EUA e União Europeia”, aponta Flavio Riberi, destacando, no entanto, que é um momento não tão crítico para essa preocupação, visto que o período mais severo do inverno no hemisfério norte está no fim. Podemos esperar no Brasil um ajuste de preços no gás devido as mudanças nos custos dos processos de regaseificação.

Todo esse conflito pode trazer também mais pressões inflacionárias vindas do dólar. A moeda norte-americana vinha sendo negociada no patamar mais baixo em sete meses com o interesse do investidor de fora por ativos brasileiros trazendo bilhões em divisas para a Bolsa. É esperado que a procura por dólar cresça com o investidor adquirindo dólares para ter ativos mais estáveis no exterior.

A confusão também pode impactar na inflação dos alimentos, visto que a Rússia e a Ucrânia correspondem por quase um terço das exportações mundiais de trigo (28%) e um quinto das exportações de milho (18%).

Nesse sentido, a guerra chega em um péssimo momento para a produção agrícola, pois agora é o período de desenvolvimento das lavouras de trigo, que começa a ser colhido no segundo trimestre. Nesse período também é quando ocorre a maior exportação de milho.

É esperada uma retração de 19% no comércio mundial de milho, caso as vendas da Ucrânia e da Rússia sejam totalmente suspensas. Isso influenciaria para que o Brasil dependesse da segunda safra que é plantada entre os meses de janeiro e março.

O agronegócio brasileiro surfa uma onda muito boa no mercado internacional e é forte candidato a ser supridor de algumas demandas nesse cenário de economia de guerra. Porém, depende fortemente dos fertilizantes importados da Rússia. “Essa preocupação do agronegócio provavelmente foi o motivo da ida do presidente Jair Bolsonaro ao país, mesmo com toda a tensão pré-guerra nas últimas semanas”, pondera o professor.

Pensando nos investimentos, Riberi explica que o setor dos alimentos Commodities deve ganhar atenção do mercado. “Em função desse cenário de incertezas, o investidor vai buscar ações neste segmento, pois é um investimento em um porto seguro, já que todos precisam de alimentos, então outros setores perdem a atratividade. Minerais também é algo que o mundo sempre vai consumir”.

(Redação: Fernanda Zambianco/Victor Boscato)

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