ESG é só trending ou os profissionais da área de negócios deveriam buscar um aprofundamento?

Por Elise Soerger Zaro

O acrônimo ESG (Environmental, Social and Governance) tem sido sinônimo de sustentabilidade no mundo corporativo. A ESG representa, principalmente, a estruturação de uma linguagem das empresas com o mercado de capitais que deve decorrer de mudanças de práticas e de estratégias. Primeiramente, a ESG tem representado as melhores práticas ambientais, sociais e de governança. Sendo assim, engloba uma diversidade de assuntos, desde as emissões de carbono, matéria-prima de fontes renováveis até questões como diversidade, satisfação dos empregados com o trabalho e estruturas de proteção dos interesses dos minoritários. Sendo assim, ainda existem muitos desafios a serem superados, como: metodologias para análise da performance ESG; mecanismos para capturar nos relatórios corporativos as perspectivas futuras; e impulsionar mudanças reais direcionadas ao desenvolvimento sustentável.

Atualmente, está em discussão pela IFRS Foundation uma norma para a divulgação de informações sobre sustentabilidade, com a criação do International Sustainability Standards Board – ISSB. As normas ainda focam em divulgações gerais de sustentabilidade e mudanças climáticas. No entanto, tendem a expandir exigências ao longo do tempo, por uma estratégia de building blocks approach, ou seja, uma estratégia de construção de blocos e expansão das áreas e demandas de informação.

Essa normatização deriva do espaço ocupado pela discussão ESG, passando de uma preocupação isolada do departamento de sustentabilidade para um tema de destaque e estratégico para o C-Level. Muitas empresas, por uma série de pressões, fazem divulgações de sustentabilidade de forma voluntária. Essas pressões começaram com grupos de ativistas e ambientalistas, mas hoje vem dos consumidores, mercado de capitais e mercado de crédito. Várias pesquisas demonstram uma mudança no comportamento dos consumidores, que estão demonstrando uma maior preocupação com fatores ambientais e sociais, isso fica saliente em boicotes a marcas que se envolvem em problemas nessas áreas. Existem também pressões do mercado de capitais tanto pela busca por investimento socialmente responsável, quanto por gestores com estratégias de busca de oportunidades trazidas pela integração do ESG. É possível encontrar muitas evidências que apresentam uma relação entre a adoção de práticas ESG e melhora no desempenho financeiro, redução do custo de capital e aumento do valor da empresa.

O mercado de crédito também se apresenta como um impulsionador das práticas ESG, tanto com exigências contratuais, solicitando informações de sustentabilidade ou certificações para obtenção de crédito, como classes de ativos como os Green Bonds, ou títulos verdes de dívida que são específicas para financiamento de projetos com benefícios ambientais. Os Green Bonds são os mais populares no mercado, mas existem também Social Bonds e Sustainable bonds, destinados a financiamento de projetos sociais e projetos mais abrangentes com benefícios sociais e ambientais, respectivamente. O mercado de crédito é muito relevante para o financiamento das empresas na maioria dos países do mundo, sendo assim os órgãos reguladores têm criado exigências para as instituições financeiras, a fim de ter um efeito na cadeia. Na Europa essas exigências já estão mais estruturadas e em vigor. No Brasil estamos em um processo de implementação das Resoluções 4.943/2021, 4.944/2021 e 4.945/2021, que tratam sobre a gestão de riscos sociais, ambientais e climáticos e da Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática.

Porém, existem muitas críticas quanto a falta de padronização das informações ESG apresentadas de forma voluntária, a dificuldade de assimilar uma gama de temas tão extensa e a credibilidade das informações. Além disso, é documentada a prática de greenwashing praticadas por algumas empresas. Ou seja, a empresa utiliza-se diversos mecanismos como omissão de informações negativas, manipulação de discurso e utilização de discursos vazios com o intuito de parecer ter um desempenho ESG melhor.

Existem várias iniciativas que buscam estruturar frameworks e normas para ajudar a minimizar esses problemas e aos poucos estão sendo debatidas regras para divulgações ESG obrigatórias. No Brasil, a apresentação de um relatório de sustentabilidade ou relato integrado eram voluntárias, mas aplicada uma estratégia de Nudge, pois o formulário de referência solicitava essa informação no caráter relate ou explique. A partir da aprovação da Resolução CVM nº 14 a Orientação Técnica CPC 09 – Relato Integrado as empresas têm uma estrutura conceitual para a integração das informações ESG no modelo de negócios e as que adotarem relato integrado devem realizar o procedimento de asseguração por terceira parte, com uma firma de auditoria.

Esse processo de criação de regras de divulgação mandatória é um passo na direção de melhora da qualidade das informações divulgadas, porém será um processo gradativo para a melhora das práticas para a média das empresas. E a principal reflexão que podemos fazer é como direcioná-las para gerar mudanças efetivas de processos nas empresas para uma melhor performance de sustentabilidade e para que consigamos enfrentar os desafios impostos à sociedade.