Desafios de sustentabilidade para os usuários internos da contabilidade

Por Iago França Lopes, Professor, Doutor em Contabilidade e CEO na Peephole

Foto: Freepik

É notória a preocupação com os usuários externos da contabilidade no que tange fornecer informações a respeito de sustentabilidade que possam alterar a tomada de decisão. Esses usuários são os investidores, acionistas, bancos, fornecedores e clientes de uma forma geral que estão interessados no percurso de sustentabilidade traçado pela empresa, como forma de responder ao compromisso social que as mesmas possuem por usufruir dos fatores de produção.

Assim, muito tem se dedicado a compreender as narrativas que estão dispostas nos relatos integrados, no Global Reporting Initiative (GRI) e demais espaços que se pode encontrar elementos de sustentabilidade praticados pela empresa. Por outro lado, pouco se fala das posturas dos usuários internos diante dos desafios globais de sustentabilidade. Os usuários internos são aqueles que utilizam a informação internamente para tomar decisão e direcionar a continuidade da empresa no mercado de atuação.

Posto isso, quais são as práticas de sustentabilidade adotadas pelos usuários internos que vão para além dos descritos nas narrativas publicadas pelas empresas? Esse questionamento abre espaço para uma reflexão que mesmo a contabilidade não sendo uma área que usufrui de forma “direta” dos fatores de produção indiretamente existe o consumo de papel, por ser uma área tradicional, na qual em algumas ocasiões os documentos precisam ser arquivados por 5 anos. Para além dessa questão, por ser uma área que opera em ambiente global muitas são as viagens dos executivos e o transporte destes emite Dióxido de carbono na atmosfera. Ainda pode-se observar que a hospedagem desses executivos em hotéis onde existe um tempo de espera elevado para esquentar a água do chuveiro, uma vez que o hotel adota uma sistemática de aquecimento a gás são exemplos clássicos de oportunidades nas quais práticas de sustentabilidade podem ser adotadas.

Assim, reconhecer que internamente existe a necessidade de se pensar a sustentabilidade e o compromisso ambiental é um passo importante que deve ser colocado na agenda dos gestores para o ano de 2023. Antes mesmo da chegada do ano novo, pode-se observar algumas iniciativas que permitem cumprir o compromisso sustentável das instituições, aqui quando fala-se de instituições está-se falando de empresas, instituições, ONGs e demais instituições da sociedade civil.

Uma iniciativa que merece ser destacada é a praticada pela ANPCONT (Associação de Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis). No período de 03 a 06 de dezembro a associação realizou o seu congresso anual e recebeu em Foz do Iguaçu – PR um pouco mais de 400 congressistas. Na ocasião, em uma postura sustentável a instituição levantou uma campanha zero papel para os próximos eventos e fez uso de copos constituídos de 100% fribra de bambu e feitos de maneira 100% livre do Bisfenol A (composto orgânico sintético usado na produção de vários plásticos). São iniciativas dessa forma que a contabilidade precisa começar a institucionalizar no seu cotidiano. Este exemplo é um chamamento para que em conferências posturas sustentáveis não sejam esporádicas e passe a comporta inclusive o processo de planejamento das mesmas.

Quantas reuniões e conferências as empresas lotadas nos espaços contábeis realizam anualmente, qual o consumo de embalagens e plásticos nesse cenário? A reflexão aqui posto é que os usuários internos ao praticarem a sua performance dentro das organizações precisam entender que as suas ações também são reflexos da cultura da empresa e efetivamente do que a empresa narra para o mercado em termos sustentáveis. Assim adotar uma postura sustentável internamente é responder também às expectativas ambientais de preservação do meio ambiente, que pode ser observado como uma prática que ultrapassa as narrativas contábeis expostas para os stakeholders e de elevada importância para a sociedade.