Quer mudar de emprego em 2023?! Se sim, você não está só…

Por Cintia Araujo, pesquisadora e professora na Faculdade FIPECAFI

Um ano novinho em folha se inicia! Momento ideal para executarmos nossos planos e resoluções. Correto? Correto. 😊

Bem, se entre os itens do seu “checklist” de metas para 2023 está “mudar de emprego”, saiba que você não está só. Diversas pesquisas têm indicado um fenômeno global em que profissionais têm deixado seus empregos, muitas vezes sem ter nenhuma outra proposta de trabalho ou outra fonte de renda.

Talvez já tenha ouvido falar do termo “quiet quitting”, termo que foi popularizado graças a um vídeo de TikTok gravado por um jovem engenheiro, Zaid Kah, que provocava sua audiência a repensar seus valores sobre o sentido do trabalho2. Segundo Khan, no quiet quitting “Você segue desempenhando suas funções, mas sem seguir a mentalidade de que o trabalho deva ser sua vida”. [1]

Diversas reportagens associam esta brusca mudança de percepção do sentido do trabalho[2] aos jovens, à geração Z.

Mas não é bem assim.

Como sabemos, a Covid-19 ceifou a vida de milhões de pessoas, deixou outros milhões em luto pelos seus entes perdidos, e causou sequelas físicas, cognitivas e emocionais em outros tantos.

Tal cenário, tem mudado radicalmente o modo como as pessoas encaram suas carreiras, relacionamentos e outros aspectos de suas vidas. Daí, o movimento chamado “Grande Evasão” (em inglês, Great Attrition).

A “Grande Evasão” é um fenômeno global em que profissionais têm deixado suas carreiras, ou mudado radicalmente o rumo de suas trajetórias profissionais buscando satisfazer necessidades pessoais como maior qualidade de vida, sentir-se parte de um propósito maior, exercer maternidade/paternidade, focar em seus relacionamentos ou dedicar-se ao cuidado de entes queridos como avós, pais, irmãos. (Vale ressaltar que uma das tristes consequências da pandemia, foi a o grande número de pessoas que passaram a precisar de cuidados, ora por terem adquirido problemas físicos/emocionais/cognitivos, ora por terem perdido seus cuidadores ou responsáveis[3].)

Assim, os velhos bordões do mundo corporativo como “você precisa vestir a camisa da empresa” não têm o mesmo impacto no envolvimento e sentimento de pertencimento dos profissionais.

Uma pesquisa[4] desenvolvida pela renomada consultoria empresarial americana McKinsey & Company, que abrangeu mais de 13 mil funcionários de diversas empresas da Austrália, Estados Unidos, Índia, Canadá, Singapura e Reino Unido indica que 2 em cada 5 profissionais com vínculos empregatícios pretendem sair dos seus empregos nos próximos 6 meses. Veja o gráfico abaixo.

Figura 1: Probabilidade (em %) de que entrevistados deixarão seu emprego atual nos próximos 3 a 6 meses

Fonte: (de Smet et al., 2022, p. 4)3

Nas próximas semanas, falarei mais sobre a Grande Evasão, quiet quitting e outras tendências do sentido do trabalho e sua relação com a gestão de pessoas.

Certamente, profissionais, mas em especial, as empresas precisam atentar a estas mudanças comportamentais e socioculturais. Do mesmo modo que as empresas monitoram e analisam as transformações do comportamento do consumidor, a fim de obter maiores vendas e competitividade, elas também precisam avaliar as transformações do comportamento humano que têm mudado – e muito rapidamente – a maneira como as pessoas percebem o seu trabalho e suas carreiras, de modo atrair e reter talentos.


[1] Freitas, C. (2022, September). Guia da Carreira – Quiet quitting: o que é e como afeta o mercado de trabalho. Guia Da Carreira. https://www.guiadacarreira.com.br/blog/quiet-quitting-o-que-e-e-como-afeta-o-mercado-de-trabalho

[2] Sentido do trabalho pode ser definido como o valor que o trabalho possui para o indivíduo no âmbito pessoal, sua satisfação e autorrealização. 

Fonte: Neves, D. R., Nascimento, R. P., Felix Jr, M. S., Silva, F. A. da, & Andrade, R. O. B. de. (2018). Sentido e significado do trabalho: uma análise dos artigos publicados em periódicos associados à Scientific Periodicals Electronic Library. Cadernos EBAPE.BR, 16(2), 318–330.

[3] Lisboa, V. (2022, December 26). Covid-19 deixou 40 mil crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil | Agência Brasil. Agência Brasil. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-12/covid-19-deixou-40-mil-criancas-e-adolescentes-orfaos-de-mae-no-brasil

[4] de Smet, A., Dowling, B., Hancock, B., & Schaninger, B. (2022, July). The Great Attrition is making hiring harder. Are you searching the right talent pools? McKinsey Quarterly.