Porque exigimos tanto dos políticos, mas não fazemos o mesmo com executivos, gerentes e lideres de empresas?!

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Por Drª Cíntia Araujo, Professora e pesquisadora em Administração

Se você estudou Administração, certamente teve uma disciplina chamada Teoria Geral da Administração. Muitos acham que é uma disciplina “chata” por ter conteúdo teórico bastante denso.

Apesar desta “fama” ingrata, eu gosto muitíssimo desta disciplina porque ela nos dá a oportunidade de conhecer teorias e conceitos que regem as nossas vidas dentro das organizações até hoje. E hoje, vou aproveitar a teoria dos papéis gerenciais do professor canadense Henry Mintzberg para refletir sobre o papel dos(as) executivos(as), gerentes e líderes nas empresas[1].

Primeiro, uma breve apresentação da teoria dos papeis gerenciais. Mintzberg dividiu os diversos papéis gerenciais em 3 famílias: papeis interpessoais, papeis de informação e papeis de decisão.

Quando focamos nos papeis interpessoais, Mintzberg ressalta que os líderes/gerentes desempenham papeis dentro e fora da empresa. Primeiro, o(a) líder age como um símbolo, sendo um representante e relações públicas. O(a) líder também é quem Direciona e influencia pessoas de modo a cumprir os objetivos das equipes e da empresa. E por fim, o(a) líder tem o papel de ligação, construindo relacionamentos, especialmente com líderes de outros áreas a fim de facilitar a troca de informações e recursos.

E agora, vocês me perguntam: que isto tudo tem a ver o título do artigo?!

Ora bolas, acabamos de exercer o nosso direito ao voto, em que elegemos o Presidente da República, Governadores, Deputados Federais e Estaduais. Em períodos eleitorais é muito comum, e justo, falarmos sobre a importância de se escolher representantes idôneos, honestos e competentes.

Em tempos de redes sociais e hiper valorização das empresas de tecnologia, nomes como Steve Jobs, Bill Gates, Elon Musk, Mark Zuckerberg tornaram-se ídolos pop e referências de liderança no mundo corporativo.

Tal cenário, traz um grande incomodo – além do fato de que os grandes “ídolos” do mundo dos negócios serem quase sempre homens brancosPorque exigimos tanto dos políticos, mas não fazemos o mesmo com os executivos, gerentes e lideres de empresas?!

Refletir sobre isso é fundamental.

Hoje, mais que nunca, as empresas, especialmente as grandes companhias e multinacionais, não são somente parte da sociedade; elas exercem influência e poder que reflete na construção e transformação da sociedade.  Atentem para este interessante trecho de Jaime e Lúcio[2]

“…as empresas são simultaneamente criadoras de riquezas, lugar de experimentação e inovação, provedoras de integração social e senso de pertencimento, produtoras de cultura, financiadoras de atividades artísticas; mas também espaços de exploração e sofrimento no trabalho, instrumentos de dominação, responsáveis por exclusão e desigualdade.”

Com isso em mente, pensem nas últimas notícias sobre dois dos grandes ídolos do mundo dos negócios. Escrevo esta coluna, ouvindo notícias sobre a demissão em massa que ocorreu esta semana na Meta de Zuckerberg – 11 mil funcionários foram demitidos de uma vez [3]. Isto, logo após seu CEO e fundador ter anunciado uma iniciativa ambiciosa de investimentos no metaverso, com o intuito de reverter a queda do valor das ações da empresa após comprovado vazamento de informações de usuários do Facebook[4].  

Aliás, o Twitter, recentemente comprado por Elon Musk também anunciou uma – desastrosa – demissão em massa, em que funcionários receberam o aviso de demissão por e-mail e muitos destes foram demitidos por engano e foram chamados a retornar[5].

Inclusive, Musk tem aparecido na imprensa por diversas questões polêmicas, como quando exigiu o retorno do trabalho presencial de seus funcionários, mesmo sem haver espaço para todos[6] e as seguidas denúncias de discriminação e racismo ocorridas na Tesla, em que uma área da empresa era chamada de “plantation” – termo reconhecidamente racista nos EUA, que tem a mesma conotação do termo no nosso português “senzala”[7].

Com tudo isso em mente, todos e todas, gerentes, executivos(as), líderes, supervisores(as), subordinados(as) e aqueles que ainda estão estudando e ansiosos a ingressar no mercado de trabalho, precisamos voltar aos papéis gerenciais e analisar?

Como representar a minha empresa? Que tipo de relações públicas eu sou?

Que relacionamentos tenho construído para melhorar o ambiente de trabalho da minha equipe?

Que tipo de influência exerço sobre os meus liderados? É positiva ou negativa? 


[1] Maximiano, A. C. A. (2006). Teoria Geral da Administração. Atlas.

[2] Jaime, P., & Lucio, F. (2017). Sociologia das Organizações. Cenage. p. 106

[3] Redaçao. (2022, November 9). Meta demite mais de 11 mil funcionários, e Zuckerberg assume responsabilidade pela decisão. Infomoney. https://www.infomoney.com.br/carreira/meta-demite-mais-de-11-mil-funcionarios-e-zuckerberg-assume-responsabilidade-pela-decisao/

[4] UOL. (2018, April 10). Zuckerberg pede desculpas e assume erros em depoimento ao Congresso dos EUA. Tilt – UOL. https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/04/10/mark-zuckerberg-depoimento-ao-congresso-dos-eua.htm

[5] UOL. (2022, November 7). Após demitir, Twitter pede que parte dos funcionários volte ao trabalho… – Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/11/07/twitter-pede-que-parte-dos-funcionarios-demitidos-voltem-a-trabalhar.htm?cmpid=copiaecola. UOL-Negócios. https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/11/07/twitter-pede-que-parte-dos-funcionarios-demitidos-voltem-a-trabalhar.htm

[6] Avelino, Y. (2022, September 26). Elon Musk exige trabalho presencial na Tesla, mas falta espaço para todo mundo. Tecnoblog. https://tecnoblog.net/noticias/2022/09/26/elon-musk-exige-trabalho-presencial-na-tesla-mas-falta-espaco-para-todo-mundo/

[7] Paul, K. (2022, February 19). Black workers accused Tesla of racism for years. Now California is stepping in. The Guardian. https://www.theguardian.com/technology/2022/feb/18/tesla-california-racial-harassment-discrimination-lawsuit

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