Foto: Caio Coronel/Itaipu Binacional/Agência Brasil

As regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil estão enfrentando a pior crise hídrica desde 1931. A temporada de chuvas nessas áreas, que se estendeu de setembro de 2020 a março deste ano, registrou o menor nível de entrada de água nos reservatórios desde o último século. Com isso, a geração de energia no país, que depende em grande parte das hidrelétricas, tem sido comprometida – o que levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a acionar as usinas termelétricas disponíveis. Essa energia, entretanto, causa maiores danos ao meio ambiente, além de aumentar os custos para os consumidores.

Segundo estimativas do ONS, no mês de julho, os reservatórios dessas regiões, onde estão localizadas as principais hidrelétricas brasileiras, devem atingir 26,4% – índice ainda menor do que o registrado no mesmo período de 2001, quando marcaram 26,8%, resultando em racionamento de energia. 

Além disso, o nível das represas também ameaça o abastecimento para o consumo das cidades. Ao menos oito municípios das regiões Sul e Sudeste já limitam o acesso à água pela população.

A discussão ganha novos rumos a aceleração do Programa Nacional de Imunização (PNI) contra a covid-19, resultando em um aumento na atividade econômica e, por conseguinte, do consumo de energia elétrica pela indústria e pelo comércio.

Tal fenômeno tem levado a indústria a traçar planos de contingência para contornar os altos preços nas contas de luz.  “Não sabemos ainda o tamanho do problema. Mas é de se esperar que a crise hídrica comprometa investimentos, mesmo em setores que estão com a demanda aquecida”, disse o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo ele, a solução para a crise hídrica não deve ser a curto prazo.

De acordo com levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgado no início do mês, o consumo de energia pela indústria em maio subiu 11,7% ante o mesmo período de 2020. O estudo indica ainda que a alta foi puxada pelo comércio e indústria, enquanto o consumo residencial teve queda, visto que as empresas têm retornado à modalidade presencial de trabalho. “A expansão das atividades de comércio e serviços do País resultou na maior taxa de consumo do setor desde o início da pandemia da Covid-19”, afirmou a entidade.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, entretanto, não demonstrou preocupação com a alta no consumo. Em um evento da sanção presidencial ao projeto de capitalização da Eletrobras, no Palácio do Planalto, Guedes comemorou a alta nas taxas de utilização de energia elétrica, que, segundo ele, está “bombando”. “Neste ano vamos crescer uns 5%. A economia brasileira voltou muito mais rápido do que o esperado. O consumo de energia elétrica está bombando. A arrecadação também bombando. Todos os setores da economia e regiões estão criando empregos”, disse o ministro. 

No final de julho, em entrevista ao programa A Voz do Brasil, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Christiano Vieira da Silva, descartou a possibilidade de racionamento e avaliou que os reservatórios da região Sudeste devem atingir níveis adequados até novembro – até lá, o país deve continuar utilizando as termelétricas.

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