O papel das micros e pequenas empresas diante dos desasfios da sustentabilidade

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Por Iago França Lopes

É notório a preocupação do mercado com os relatórios de sustentabilidade emitidos pelas grandes empresas no que tange a sua capacidade de influenciar a tomada de decisão e suas medidas de transparência. Assim, o diálogo de sustentabilidade permanente tem se concentrado fortemente em empresas que negociam seus ativos em Bolsa de Valores, estas no Brasil representam um pouco mais de 300 empresas que estão listadas na Brasil Bolsa Balcão [B]³.

Por outro lado, se observarmos a configuração empresarial do Brasil, é possível afirmar que um pouco mais de 95% das empresas são classificadas como Micro e Pequenas Empresas (MPE), ou seja, esse grupo de empresa por sua vez é responsável pela geração de emprego e renda de boa parte da população brasileira e com parcimônia é possível reconhecer que são marginalizadas diante das temáticas de sustentabilidade. O desafio aqui posto é para que a sociedade como um todo reconheça que há uma incongruência entre as preocupações sustentáveis em termos de atores presentes nessa arena de discussão. Para o ano de 2023 é relevante que as MPE se tornem atores presentes nessa rede de preocupações e ações efetivas que consigam garantir o cumprimento de missões sustentáveis diante dos produtos e serviços que são oferecidos para o mercado.

Por vezes essa inclusão das MPE nas discussões de sustentabilidade pode partir das grandes empresas, à medida que muitas destas visualizam nas MPE possíveis fornecedores. Assim, sob uma perspectiva de alinhamento é preciso que as práticas sustentáveis elencadas pelas grandes empresas sejam transpassadas para seus fornecedores, aqui vistos como MPE. Esse alinhamento mitiga um processo denominado hipocrisia organizacional, o qual coloca em voga e questiona se as ações de sustentabilidade praticadas pelas empresas estão para além dos relatórios emitidos para os acionais e atendimento da Comissão de Valores Mobiliários e dos normativos advindo da Lei das S/A e decorrentes atualizações.

Outro olhar o qual pode ser lançado para que as MPE sejam atores principais diante dos desafios globais de sustentabilidade está em reconhecer que estamos diante de mudanças climáticas globais que tendem a afetar toda a sociedade, assim, a curto e longo prazo é preciso desenvolver ações que possam abraçar todos os atores que dependem da manutenção do planeta para que haja vida. Posto isso, o compromisso de redução da emissão de dióxido de carbono também é das MPE. É preciso a construção de um dialogo para que os investimentos advindos de fundos reconhecidos como necessários na COP 27 para o combate da redução da emissão de CO2 alcancem também as MPE.

Se compararmos com as grandes empresas que emitem os seus relatórios de sustentabilidade é preciso que as MPE criem mecanismos para divulgar esses processos sustentáveis também como medida de prestação de contas. Aqui é um incentivo que permita dar visibilidade para a empresa e garantir a atração de clientes que prefiram consumir produtos e serviços advindos de práticas sustentáveis. Posto isso, reconhece-se como uma alternativa os chamados Selos ESG (Environmental, Social, and Corporate). Na prática os Selos ESG garantem que a empresa possui um compromisso sustentável baseado nos princípios do ESG e também possui um processo de atendimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Este selo é conferido a empresas certificadas no programa 2030 today.

Diante das reflexões trazidas é possível observar que existem alternativas para incluir as MPE nas discussões de sustentabilidade que transpassem o atendimento somente ao stakeholders. Acredita-se fortemente que tangenciar essa prática junto às MPE é  um caminho profícuo para a construção de diálogos e ações de sustentabilidade cada vez mais permanentes na sociedade brasileira.