Vale a pena investir em empresas da Bolsa?

Foto: @rawpixel.com/Freepik

Por Fábio Sobreira, analista CNPI-P e Professor da Fipecafi

Há quem goste de discutir coisas como “preço não importa” ou “boas empresas têm que pagar dividendos” e estes são temas já discutidos em outros artigos e que geram sim excelentes discussões ao redor de uma boa mesa de bar… provavelmente na Faria Lima.

Mas fato é que estes não são os únicos temas que rodeiam os investidores e escritórios da famosa Avenida de São Paulo, lar dos mais poderosos capitalistas do país, com seus grandes bancos e suas poderosas corretoras de valores, que passam dia e noite pensando em meios de tornar o mercado financeiro cada vez mais atrativo a investidores e empresas, fomentando ainda mais o próprio mercado onde atuam e onde contribuem na geração de riqueza do país.

Desta forma, os brasileiros superavitários que poderiam apenas investir suas poupanças na Poupança ou em alguma outra renda fixa, qualquer que seja, passam a ter a oportunidade de alocar seus recursos também em empresas da chamada “economia real”. Empresas que geram lucro, riqueza, empregos e, com um bom grau de certeza, são o meio menos burocrático e arriscado de se fomentar o empreendedorismo, num país onde empreender é uma arte que muitos arriscam, mas poucos dominam.

Isto porque muito provavelmente seja mais fácil colocar seu pouco ou muito dinheiro em empresas já formadas e consolidadas em algum grau do que arriscar-se a alocar todo seu suor e recursos num empreendimento que, caso não dê certo, pode levá-lo a falência, ou ao menos, à uma série de dívidas com bancos e processos trabalhistas.

Fato é que, investir em empresas da Bolsa, ao contrário do que muitos pensam, é uma das formas mais democráticas de se tornar “sócio” de empresas. Tudo bem, você ainda não vai ser padrão e não vai poder entrar nas Lojas Renner, por exemplo, e dizer que quer ser tratado como “o dono” da empresa, porque provavelmente suas poucas ações não lhe darão o direito a isso. Porém, no fim do dia, você vai continuar sendo sócio, se quiser, das Lojas Renner, e vai poder usufruir, se não de algum tipo de atenção especial quando for a uma de suas lojas, dos lucros e dividendos distribuídos por ela, como se “dono” fosse, mesmo sem mandar em nada.

Poderíamos então entrar em mais uma acalorada discussão sem sentido de quem defende que: “sócio é ON!”, que diz que sócio é apenas aqueles que compram ações Ordinárias, ou seja, com direito a voto. E isso também não estaria errado, pois, de fato, ações PN não dão direito a voto. Ainda assim, a não ser que você seja muito rico e compre uma quantidade considerável de ações de alguma empresa, seu direito a voto não vai significar nada no fim do dia.

É claro que ações ON têm algumas garantias, em alguns casos, que a PN não têm, como o Tag Along de 100%, que é o direito de receber o mesmo valor por suas ações que um acionista majoritário receberia se vendesse as dele. Mas a verdade é que, além de muitas empresas estenderem este direito também às ações PN, o fato de uma empresa apenas ter ações ON não têm garantido os direitos que muitos pequenos acionistas almejam, como em casos recentes de Smiles ou Multiplus, empresas do Novo Mercado e apenas com ações Ordinárias que fecharam seus capitais na Bolsa por vontade de seus controladores, à revelia do desejo dos minoritários.

Podemos dizer então que, quando você investe na Bolsa, você fica à mercê de grandes gestores “malvadões” que fazem de tudo para multiplicar de todas as formas lícitas possíveis o dinheiro que acionistas, como você e ele, colocaram na empresa.

E isso provavelmente quer dizer que, para nos darmos bem investindo em ações, precisamos escolher nossos “malvados favoritos” e apenas verificarmos, vez por outra, se as atitudes destes gestores estão se traduzindo em resultados, informados nas demonstrações trimestrais. Vez por outra, quem sabe, é bom dar uma olhadinha se sobra um dinheiro para ele e eu compartilharmos e gastarmos como quisermos, cada um na proporção que investiu na empresa.

É claro que há outras opções para quem gosta mesmo de risco: abrir sua própria empresa, virar sócio do governo e torcer para que este sócio não fale ou faça nenhuma besteira que atrapalhe seus negócios além do que você pode suportar. Além disso, você terá que aprender a lidar com pessoas que podem lhe ajudar a crescer, se você as tratar da forma certa, como um bom líder e um bom gestor, para que todos cresçam juntos, cada um na proporção de risco e trabalho que se dispuser a dedicar a este seu negócio.

E aí, se tudo der certo, sua empresa crescerá e prosperará e, quem sabe, um dia você abrirá o capital desta empresa na Bolsa de valores e ganhará novos sócios minoritários que, talvez, por acaso, podem achar que você é um gestor malvadão que ganha dinheiro às custas dos menos afortunados e podem não enxergar os benefícios que seus produtos ou serviços trouxeram para a sociedade e que fizeram com que você chegasse onde chegou.

Certamente, nem toda empresa cresce de forma honesta e sustentável e nem todo empregado é um colaborador disposto a crescer com a empresa, mas são estas relações de trabalho que possibilitam que tenhamos no mercado empresas fantásticas e bem geridas.

E se você não teve sorte de montar e fazer uma empresa nascer e crescer, pode talvez ganhar na loteria ao comprar uma boa empresa no mercado por um preço bom o suficiente para que os benefícios econômicos futuros deste seu investimento superem, e muito, o preço que você pagou por ela, fazendo de você um investidor de sucesso.

Acredito que, pensando desta forma, olhar para uma ação e tentar entender se ela está barata ou cara apenas pelo valor de tela que aparece no seu Home Broker faz muito pouco sentido. É claro que existem movimentos repetidos que acontecem de tempos em tempos e que podem trazer algum padrão para quem quer ganhar dinheiro especulando com os papéis de uma empresa negociados em bolsa, mas aí o resultado será sempre um jogo de soma zero, onde, para um ganhar, o outro terá que perder.

Por isso prefiro pensar em ações como pedaços de uma empresa, gerida por pessoas, para pessoas, e com o objetivo de dar lucro. Assim, esses lucros podem ser distribuídos ou reinvestidos, num ciclo virtuoso de acumulação e distribuição de riqueza que, se bem entendo, pode fazer o país crescer e mais pessoas terem empregos e dinheiro.

Se você também pensa assim, considere investir em empresas, direta ou indiretamente, e ajude seu país a crescer de forma sustentável.

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