Tecnologia, Gestão e Transição Energética: o novo paradigma

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Por Luiz Guilherme Rodrigues Antunes e Luís Matheus Tavares Silva

Segundo o Dicionário Cambridge, energia pode ser definida como o poder para produção de algo. A partir do surgimento da sua primeira fonte – o fogo, o homem vêm desenvolvendo a tecnologia para aprender a manipulá-la. Como consequência do avanço tecnológico na geração de energias, houve o desenvolvimento econômico e social da humanidade, beneficiando grande quantidade de pessoas e nações – indicadores de desenvolvimento econômico. Contudo, as formas de geração de energia mais utilizadas têm impactado profundamente o planeta Terra, provocando catástrofes, como o aquecimento global, desmatamento e escassez do combustível fóssil. 

Embora o combustível fóssil tenha sido utilizado para melhorar a qualidade de vida da humanidade – força motriz dos avanços sociais e econômicos das décadas anteriores – atualmente, ela tem se tornado o maior empecilho para o próprio desenvolvimento das nações.  Gestores públicos, pesquisadores, organizações do terceiro setor e sociedade em geral têm percebido a necessidade de se alterar as formas de produção e a matriz de consumo energéticos.  Portanto, aproximamo-nos do seguinte paradoxo: como continuar gerando riqueza e desenvolvimento socioeconômico sem que soframos consequências ambientais severas?  

Para esta respostas, especialistas têm apontado para a junção do desenvolvimento de novas tecnologias e o melhoramento das práticas de gestão a fim de proporcionar o desenvolvimento sustentado das nações. Todavia, tanto a tecnologia quanto a gestão devem ser inseridos dentro do processo imperativo de transição energética, implicando na mudança da principal fonte de energia empregada atualmente. No processo histórico, a extração energética no meio ambiente se deu de forma acidental e circunstancial, promovendo impactos indesejados, como aumento da temperatura média da Terra. Por sua vez, o surgimento de tecnologias de ponta associadas aos progressos da ciência da gestão reforça, aos gestores e políticos, a necessidade de novas práticas de gerenciamento mais responsáveis.

Três cenários promovem a adequação da tecnologia e da gestão em meio ao contexto de transição energética: (a) escassez das fontes mais usuais; (b) mudanças climáticas severas, o qual tem demonstrado seu amplo poder de destruição; e (c) rápidos avanços tecnológicos na sociedade – a quem aponte as potencialidades da digitalização mundial (transformação digital). Os resultados das pesquisas das últimas décadas já indicam a produção em massa de tecnologias como eólica e solar, a custos reduzidos, e usabilidade do hidrogênio verde. Esse último, no que lhe diz respeito, é considerado, por especialistas, como excelente instrumento para a matriz energética mundial, pois tem a capacidade de baixa emissão de carbono, relação eficiente entre custo e benefício, além de resíduos como vapor de água e ar quente.

Contudo, ainda há uma série de desafios para essa tecnologia, em especial, ser difundida. Dentre eles estão as dificuldades em adquirir/atualizar as tecnologias já utilizadas, estímulos econômicos para a ciência e tensões geopolíticas entre nações devido aos conflitos de interesses. Na esfera operacional, também há problemas quanto à logística e estocagem, à medida que elas apresentam grandes cadeias de suprimentos, implicando na perda de energia em meios de transporte, armazenamento e manuseio. Apesar disso, aportes financeiros têm sido feitos a fim de desenvolver e melhorar qualitativa e quantitativamente as estações de hidrogênio no mundo. A Europa, por exemplo, encontra-se na vanguarda deste processo em busca de uma matriz energética mais limpa. A União Europeia (UE), por outro lado, tem se destacado por possuir parcerias público-privadas focadas em desenvolver projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para tornar o hidrogênio aplicável em larga escala. Estima-se, portanto, que até 2027 a UE terá investido cerca de 2 bilhões de euros para atingir esse objetivo.

Seguindo o modus operandi da Europa, no Brasil, o Estado do Ceará está encabeçando pesquisas e desenvolvimento para viabilizar a produção de hidrogênio verde no País. Conjectura-se que, a partir deste ano, 2022, o investimento público-privado brasileiro seja em torno de 2 bilhões de dólares nos próximos cinco anos. Ao todo, treze empresas privadas já assinaram o memorando com o Estado do Ceará e outras estão em processo de negociação. Além delas, a Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) e o Complexo do Porto do Pecém (CIPP S/A) compõem os atores responsáveis pela implementação do hub no Estado.

Com o êxito desses projetos em todo o mundo, o hidrogênio verde poderá ser utilizado como alternativa ao combustível fóssil. Diversos benefícios poderão advir da utilização desta nova tecnologia. Como exemplificação, já se reconhece a redução massiva da produção de gases de efeito estufa e possível redução das taxas de aquecimento global. Entretanto, a mudança paradigmática é mais profunda do que a proposição de novas tecnologias. Somente poderemos desfrutar, de modo factível, dos benefícios das novas tecnologias conforme haja remodelação dos mindsets dos tomadores de decisões.

Isso implica, por um lado, na absorção da tecnologia no mercado empresarial, não somente na perspectiva de proposição de ganhos financeiros, comercialização e proposição de modelos de negócio para a venda da tecnologia, mas também na absorção de valores socioambientais. Por outro lado, o campo empresarial, conjuntamente com os pesquisadores da área das ciências organizacionais, necessita desenvolver novas modalidades e ferramentas de gestão que permitam a remodelação e/ou atualização das formas convencionais de utilização da energia nos processos produtivos. Porém, isso só vai acontecer a partir de maior integração, união e comprometimento dos atores como a sociedade, governo, universidades e setor produtivo.

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