Perspectivas para o varejo em 2022 continuam conservadores a marcadas pela incerteza

Foto: Pixabay

Por Fernando Trambacos, Coordenador dos cursos de Inteligência de Mercado no Varejo e Planejamento e Gestão Financeira no Varejo da Faculdade Fipecafi.

Após dois anos de grande volatilidade por conta das consequências da Covid-19, o ano de 2022 já começou com expectativas pouco otimistas para o varejo, apesar da volta à normalidade com o gradativo relaxamento das restrições sanitárias. Em que pese o resultado relativamente bom do varejo na comparação entre 2021 e 2020 e do aumento da confiança do consumidor na medição de fevereiro de 2022 (maior patamar desde junho de 2021), a junção de fatores estruturais internos bastante desfavoráveis, com o agravamento das condições externas, deve pesar para uma retomada consistente do varejo brasileiro ao longo do ano.

Os números da última Pesquisa Mensal do Comércio, referentes ao fechamento do ano de 2021, mostram que o comércio varejista ampliado brasileiro teve crescimento de 4,5% em 2021, na comparação com 2020, recuperando a perda de 1,4% observada na comparação entre 2020 e 2019. Apesar de ser um bom resultado no todo, o fato de a maior parte desse ganho estar concentrada no primeiro semestre do ano, enquanto o segundo semestre de 2021 teve regressão de 1,7% frente ao mesmo período de 2020, já sinaliza um arrefecimento da retomada.

Olhando para os próximos meses, o ambiente interno brasileiro parece não trazer grandes expectativas de mudança frente ao que vem sendo observado nos últimos meses, apontando para uma manutenção do baixo crescimento econômico, combinado com inflação e desemprego elevados. Esse cenário se agrava com a perspectiva de uma eleição extremamente polarizada no segundo semestre, o que deve contribuir para um aumento de volatilidade e uma postergação de investimentos. Tal contexto coloca sob pressão principalmente as parcelas menos favorecidas da população, as quais têm sua renda, e, portanto, seu poder de consumo, bastante pressionada, impactando negativamente o comércio varejista.

Paralelamente, existe a expectativa de que o cenário externo também apresente condições desfavoráveis para a economia brasileira, exercendo ainda mais pressão sobre a retomada do varejo. O mercado está atento particularmente a dois fatores: em primeiro lugar, as consequências do conflito na Ucrânia, que tendem a pressionar os preços de combustíveis, sendo esse um dos itens que contribuem para a elevação da inflação; e, em segundo lugar, para o iminente aumento de taxa de juros nos Estados Unidos, consequência da inflação elevada que também vem sendo observada naquele país, o que contribui para um aumento do dólar e, como consequência, um encarecimento da importação de produtos, sejam para consumo ou investimento.

Diante de tudo o que foi colocado acima, fica clara a origem do conservadorismo das expectativas em relação ao desempenho do comércio varejista em 2022. Apesar dessa tendência estrutural, porém, o fato de o varejo brasileiro ser extremamente diversificado e capilarizado implica que diferentes segmentos e regiões sejam impactados de maneiras diferentes pelas tendências macro do mercado.

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