Perspectivas para o conflito Rússia e Ucrânia

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 Por Flávio Riberi, Coordenador de cursos de pós-graduação da Faculdade Fipecafi

Não é de hoje que a Ucrânia e sua capital são vistas como intersecção do ocidente com o oriente, lugar geográfico estratégico do ponto de vista logístico desde o século V, quando a região era um afluente dos Cazares, localizada em um grande corredor comercial entre a Escandinávia e Constantinopla. O exército russo tem buscado centralizar sua investida no extenso território por fronteiras e cidades com relevantes polos industriais em uma inclemente ação para determinar a pressão para o fim do governo de Volodymyr Zelensky.

A visita da primeira dama dos EUA, Jill Biden, há algumas semanas, traz uma escalada no aceno institucional (e financeiro) que se iniciou com a visita de Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Estados Unidos para mostrar um apoio crescente à resistência ucraniana. A mensagem que chega ao mundo é a da preocupação norte-americana em conter, usando todos os meios ao seu alcance, a incursão russa. Essa linha estratégica iniciou-se com as vias diplomáticas e chegou ao estágio do endurecimento do posicionamento político, sanções econômicas e a costura de alianças globais para a disponibilização de equipamento militar à Ucrânia, sem que os EUA se envolvam diretamente com a guerra. A experiência norte- -americana com os anos de guerra fria credencia o país a conhecer profundamente seu oponente, não somente o líder supremo de uma nação, mas toda a lógica de funcionamento de um governo autocrático com o apoio de seus oligarcas. Parte deste conhecimento envolve uma demonstração de poder com a organização de exercícios militares realizados pela OTAN em regiões próximas a fronteiras com a Ucrânia por seus países membro, enquanto a Rússia desafia com demonstrações da utilização de mísseis balísticos intercontinentais. Por outro lado, a Rússia poderá sofrer ainda mais com as sanções após o anúncio da intenção da União Europeia de deixar de adquirir petróleo das Companhias Russas até dezembro de 2022.

Após a segunda retirada de civis da estratégica cidade de Mariupol, os países do Ocidente têm reforçado suas ações de apoio com armas e equipamentos em meio a uma série de visitas de representantes de governos e chefes de Estado ao país. Justin Trudeau, primeiro ministro do Canadá, confirmou que além de equipamentos militares enviará à Ucrânia recursos tecnológicos como câmeras para drones. Até o momento, estima-se que o ocidente tenha doado mais de USD 12 bilhões em recursos (tangíveis e monetários) à Ucrânia.

As incursões russas no território ucraniano por terra poderão estressar novas linhas pelo interior do país para assegurar uma rápida ocupação ainda durante o verão, que estará no auge em julho. Espera-se que com a queda das temperaturas no outono haja maior dificuldade em se estabelecer comunicações e a logística de guerra em um país que hoje possui estradas e corredores estretégicos avariados, muitos deles por bombardeios. Se a guerra persistir até o final do ano, é possível que, com a chegada do frio, a Rússia modifique o perfil da estratégia terrestre para outras formas de combate.

A guerra parece longe do fim, e enquanto o povo ucraniano busca defender seu território e os principais portos são alvo de bloqueios, o país se prepara para a próxima safra. No mês de abril/2022, a exportação agrícola da Ucrânia alcançou 60% do volume escoado nos períodos anteriores à eclosão da guerra. Resta saber se a tomada de centros econômicos com posicionamento logístico não asfixiará a remanescente fonte de geração de recursos para o país, o que aprofundaria sua dependência das economias ocidentais.

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