Paradigmas da Sustentabilidade – quais são e quais suas implicações

Foto: Pixabay

Por Felipe Bismarchi, professor na Faculdade Fipecafi

Parte V – Você já ouviu falar de decolozinação ou pensamento decolonial?

Quando estudamos história (seja do Brasil, seja geral) a gente aprende sobre os variados processos de colonização que ocorrerem e um ponto comum entre praticamente todos é a instalação de uma relação de subserviência entre o colonizador (ou também matriz) e o colonizado (ou colônia) em que o primeiro toma sua visão de mundo, seus valores, costumes, ritos, cultura em geral, como superior ao do segundo, visando “desenvolver”, “evoluir”, “civilizar” seu colonizado tirando-o desta posição selvagem, primitiva em que se encontra.

Uma consequência, claro, é a negação de praticamente qualquer valor que o colonizado pode possuir em sua cultura e estilo de vida que precisa ser suplantado pelo da matriz a fim de ser melhor.

Na América Latina esta foi relação com a Europa Ocidental (notadamente Espanha e Portugal) por quase 4 séculos, na África este período foi ainda maior e por uma quantidade igualmente maior de matrizes europeias, além da “dupla colonização” por conta dos muitos africanos escravizados trazidos para a América Latina, ainda colônia europeia também. A libertação política começou a se disseminar pela América Latina no século XIX e pela África após as duas guerras mundiais, a esse movimento chamamos de descolonização e ele é aprendido nas escolas como parte do nosso currículo.

Pensadores, inicialmente franceses e depois disseminados por outros países europeus e países do Sul Global (onde está o Brasil), passaram a evidenciar em pesquisas e trabalhos, contudo, um segundo processo de colonização que não havia acabado apesar da libertação política de povos latino-americanos, africanos e asiáticos: o imaginário. Tiraram, então, o “S” e deram o nome de decolonização ou decolonialidade ou pensamento decolonial a este movimento.

O pensamento decolonial tem como objetivo libertar o imaginário dos povos das premissas de suas matrizes. O imaginário engloba uma miríade de temas e dimensões que configuram cultura e identidade dos povos, reconhecimento e orgulho de sua história e saberes ancestrais e formas variadas de viver no mundo. A decolonialidade busca reconhecer como de igual valor a diversidade dos povos humanos que, como já falava Edgar Morin, é parte indissociável da unidade da humanidade. Em outras palavras, decolonizar significa, entre outras coisas, ressignificar expressões usadas de maneira pejorativa como “coisa de índio”, “trabalho de preto” para indicar que tem menos valor ou desenvolvimento que o que é, frequentemente, branco, europeu (ou estadounidense), “de gente”.

E não é só sobre as pautas de costumes e manifestações culturais que a decolonialidade atua, mas também, precisamos urgentemente nos decolonizar da visão de desenvolvimento atrelada à disponibilidade cada vez crescente de produtos e serviços a serem consumidos, do conceito de negócios geridos para eliminar a concorrência e acumular o máximo de participação de mercado para aumentar ininterruptamente os ganhos de seus acionistas. E temos urgência nesta decolinização do imaginário dos negócios, da gestão e da política porque este imaginário está nos levando ao colapso das condições planetárias que sustentam nossa vida na Terra enquanto espécie, da mesma forma como tem nos tornado cada vez mais egoístas, ensimesmados e apáticos à dor, ao sofrimento e às mazelas que afetam os outros. Um modelo de algumas poucas centenas de anos que nos instiga a nos vermos (e imaginarmos) como mão-de-obra e consumidores não tem condições de nos levar adiante quando por dezenas de milhares de anos antes conseguimos sobreviver e avançar como espécie de forma social e solidária. É imediata a necessidade de decolonizarmos a Administração e a Economia em prol da vida humana no planeta e podemos começar refletindo sobre o que significa uma boa vida ou bem viver para cada um de nós? Por que organizações deveriam existir? Qual o papel do dinheiro? O que o dinheiro deve poder comprar? O que é relevante para uma existência plena e digna? Construir essas respostas de maneira plural e democrática (com escuta ativa de todos os participantes, como prescreve a verdadeira democracia) é uma das potentes ferramentas para decolonizarmos nossa existência. Junte-se ao movimento, liberte-se, sonhe e, juntos, vamos construir futuros desejáveis para toda humanidade e para toda vida em nosso planeta.

Abaixo os outros artigos da série:

Parte I – O que é um paradigma?

Parte II – O paradigma clássico ou convencional

Parte III – O paradigma da economia ambiental

Parte IV – O paradigma da economia ecológica

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