Paradigmas da Sustentabilidade – quais são e quais suas implicações

Foto: Rawpixel.com/Freepik

Por Felipe Bismarchi, professor na Faculdade Fipecafi

Parte IV – O paradigma da economia ecológica

Nosso último artigo trouxe o terceiro paradigma da sustentabilidade, o da economia ecológica, também chamado de sustentabilidade forte em relação à sustentabilidade fraca da economia ambiental.

A Economia Ecológica (EcoEco) parte da lei da entropia para estabelecer que é impossível sustentar o crescimento infinito em um planeta finito por ser fechado na troca de matéria com o universo e que é movido pela energia do Sol acumulada ou transformada nos múltiplos sistemas naturais em nosso planeta. Com esta constatação, a abordagem da EcoEco adota os limites da Natureza, as fronteiras planetárias, a capacidade de carregamento da Terra como limite para o crescimento da economia em termos de extração, uso e descarte de materiais e energia, em uma análise de estoques e fluxos e não só fluxos como o faz a economia convencional.

Partindo do sistema maior Terra que dá os limites máximos (em quantidade absoluta), sob o olhar da sustentabilidade forte (EcoEco), encontraremos subsistemas, um deles o da espécie humana: que chamamos de subsistema social, ou sociedade que trata da maneira como as pessoas se organização em coletividade, seus costumes, regras, valores, preferências, entre outros aspectos, cada um, um subsistema e, dentre eles, o da Economia.

A perspectiva da Sustentabilidade Forte da EcoEco modifica radicalmente (na essência) o lugar da Economia, colocando-a, devidamente, como um subsistema da sociedade que por sua vez é um subsistema do único sistema que temos: o planeta Terra, a natureza. Desta maneira, a economia não opera sob bases “universais” e com pessoas reduzidas a máquinas de calcular egoístas. A Economia sob esta perspectiva, e por consequência, a Administração e a Contabilidade com todas as suas áreas de especialidades, operam para garantir o enquadramento da humanidade aos limites planetários enquanto viabilizam a manifestação da pluralidade humana dentro das múltiplas culturas que surgem, fundem e transformam ao longo do tempo.

Neste paradigma a sequência econômica a que estamos habituados de pensar em alocação eficiente, crescimento permanente (que sabemos que é fisicamente impossível) e distribuição justa passa a ser, primeiro, definição de escala segura e sustentável (a partir da capacidade de carregamento do planeta, ou seja, de seus limites/fronteiras), distribuição justa dos recursos cujas escalas foram estabelecidas e, por fim, alocação eficiente destes recursos.

As decisões não são somente baseadas em instrumentos de preço e mercado, passam pela arena política, pelo exercício cidadão e democrático das discussões de valores e limites sociais que serão impostos aos mercados e da maneira como globalmente serão distribuídos os limitados recursos globais entre os povos do mundo a fim de assegurar não só a vida humana mas toda a teia de vida existente na Terra.

Sustentável para a EcoEco, ou seja, Sustentabilidade Forte significa aumentar o bem estar humano garantindo uma teia saudável de vida do planeta Terra como muito bem apresentou Kate Raworth no livro Economia Donut. Os desafios para chegarmos neste nível são enormes, desde disseminarmos o conhecimento dos limites planetários cujo mais amplo estudo foi feito pelo Stockholm  Resilience  Institute (está disponível, em inglês, em Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet (science.org)) até repensarmos forma de organizar nossa sociedade da política à educação, passando pelo acesso a direitos de cidadania, democracia e negócios. Essa jornada precisa de um passo de libertação de nossos imaginários, da maneira como pensamos o mundo e sonhamos o futuro. Esse é o assunto do nosso último artigo desta sequência: a decolonização do pensamento.

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