Parte III – O paradigma da economia ambiental
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Por Felipe Bismarchi, professor na Faculdade Fipecafi
O segundo dos três paradigmas da sustentabilidade é o que hoje podemos considerar como mainstream¸ ou seja, o principal paradigma, o mais adotado e disseminado pelas escolas de negócios, governos e organizações em geral. A expansão das discussões sobre ESG (ou ASG, em português), a preocupação dos investidores quanto aos impactos e riscos ambientais, sociais e de governança dos ativos investidos, é um sinal da consolidação deste paradigma como mainstream.
Este paradigma é bem representado pela figura do triple bottom line criada por John Elkington com três círculos com áreas de interseção com cada círculo indicando um domínio: sociedade, economia e natureza, em inglês, respectivamente, people, profit e planet. Sustentabilidade encontra-se na interseção dos três domínios, indicando, rentabilidade econômica, justiça social, inclusão cultura e responsabilidade ambiental.
Esta definição é extremamente alinhada com o conceito de desenvolvimento sustentável apresentado no Relatório Brundtland em 1987 que o classifica como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem impedir que as futuras gerações também satisfaçam suas necessidades”. Um conceito com óbvias evolução em relação à abordagem do paradigma convencional ao reconhecer que natureza e sociedade são dimensões fundamentais para os processos econômicos (e de negócios), contudo, ela mantém o olhar reducionista sobre a representação das pessoas (ainda como homo economicus), o mercado como o mais indicado – e muitas vezes único – local para resolução dos problemas e, portanto, a necessidade permanente de precificar e definir propriedade para tudo que se quer resolver: do clima à perda de biodiversidade, dirigidos por uma ética utilitarista e funcionalista.
Este paradigma é chamado de sustentabilidade fraca, entre outros motivos, por aceitar que existem agendas/temas econômicos que são dissociados das questões sociais e ambientais, ou seja, existem assuntos que devem ser tratados exclusivamente com pensamento e olhar econômico (foco financeiro, frequentemente), assim como assuntos que devem ser tratados no domínio social excluindo questões ambientais da lente a ser utilizada.
O olhar da economia ambiental vê cada domínio (natureza, sociedade e economia) como capital que podem se substituir mutuamente em função (e por meio) de mudanças de preços destes ativos e de tecnologia (chamado de technofix pelos críticos deste pensamento). Desta forma, por exemplo, quando um recurso natural finito como petróleo ou minérios se tornam escassos o seu preço sobe e estimula maior eficiência no uso dos recursos e/ou aumento de investimentos na busca de substitutos mais baratos para o fim que aquele determina recurso servia.
O foco de atenção da economia ambiental é eficiência, trabalhar para que o uso de recursos seja sempre em proporções maiores, o famoso fazer mais com menos, amparado, claro, pela tecnologia – o que corrobora a visão technofix citada acima – e utilizando os alcances já existentes em termos de eficiência no consumo de combustível dos automóveis, por exemplo, ou do uso de água em processos industriais. Este processo é chamado de descasamento (decoupling, em inglês) relativo e tem ocorrido indiscutivelmente nas últimas décadas em praticamente todos os setores em combate ao desperdício e no redesenho de produtos e processos.
Outra característica deste paradigma é a visão otimista em relação ao crescimento econômico infinito, visto como bom, possível e necessário para assegurar o desenvolvimento que se busca. O argumento para esta defesa volta-se à capacidade inovadora do ser humano (sob a narrativa da technofix) e usando os dados do descasamento relativo para corroborá-la. Este é um ponto de ruptura entre este paradigma e o paradigma que veremos na próxima semana: Economia Ecológica, chamado também de sustentabilidade forte.
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