Paradigmas da Sustentabilidade – quais são e quais suas implicações

Parte II – O paradigma clássico ou convencional

Foto: @rawpixel.com/Freepik

Por Luis Felipe Bismarchi, professor na Faculdade Fipecafi

O primeiro dos três paradigmas que veremos sobre sustentabilidade, ou seja, sobre a visão da relação entre Natureza, Sociedade e Economia, é o chamado paradigma convencional ou clássico. Foi o primeiro a surgir e atribuem sua origem aos fundadores da Economia Clássica, um dos nomes principais, é o do Adam Smith.

Neste paradigma a Economia é vista como um sistema isolado, que não causa nenhum impacto irreversível nem significativo sobre a Natureza e que opera em sociedades homogêneas representadas pela imagem do homo economicus, uma representação dos seres humanos como pessoas totalmente racionais, egoístas, calculistas e maximizadoras de sua utilidade. Essa representação é, muitas vezes, defendida com uma frase escrita por Adam Smith em A Riqueza das Nações: “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses”, o que esquecem de nos contar os que usam esta frase nesta obra é que antes de A Riqueza das Nações, Smith escreveu Teoria dos Sentimentos Morais em que observa os vários valores que conduzem os comportamentos sociais muito além do egoísmo, sinalizando, inclusive, que os valores das sociedades (sua moral) moldam a dinâmica de sua economia, bem diferente do que se defende no paradigma clássico que o diz seguir.

Esta falácia do homo economicus que tem sido paulatinamente desconstruído por diversas pesquisas em psicologia, antropologia, sociologia em campos variados, como a economia comportamental que observa nossas limitações de racionalidade em função de vieses cognitivos que afetam nossas decisões e escolhas, ou mesmo, o estudo da dádiva, da ação não utilitarista, egoísta e interesseira entre povos no Pacífico.

Além desta limitação, outro problema com o paradigma clássico é ver a Natureza como infinita provedora de recursos e sorvedouro de rejeitos, ou seja, nos modelos clássicos de economia, não existe limitações impostas pela Natureza e esta não sofre nenhum tipo de impacto irreversível por ação econômica. Uma falha grave de premissa destes modelos que, contudo, ainda encontra ressonância nos negacionistas da mudança climática gerada por ação humana até hoje.

Neste paradigma, sustentável, em gestão, significa o mesmo que rentável. Uma das frases mais emblemáticas para este entendimento de sustentabilidade organizacional é do Milton Friedman, em um ensaio de 1970 ele escreveu: “a responsabilidade social de um negócio é aumentar seus lucros”. Esta visão mais restrita de sustentabilidade possui, ainda hoje, apaixonados defensores que até recentemente era o chamado mainstream (o principal paradgima) tanto da gestão de empresas, quanto da formulação de políticas públicas, quanto das salas de aula das Escolas de Negócio pelo planeta.

Este paradigma deu espaço, sem muita ruptura, apesar da roupagem ao nosso segundo paradigma que veremos na próxima semana: o paradigma da economia ambiental. Antes de conhecê-lo, pense um pouco mais sobre o paradigma clássico e observe no seu dia-a-dia, em suas conversas e nos seus comportamentos, ele explica bem ou mal sua realidade? Você move suas principais decisões com base em cálculo de ganhos individuais?

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