O “Efeito manada” pode te derrubar!

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Por Alessandra Taraborelli

Com certeza, você já deve ter ouvido a expressão “efeito manada” e, se pensar um pouquinho mais, talvez já tenha participado deste movimento em algum momento da sua vida. De acordo com a psicologia, o efeito manada é um fenômeno coletivo onde uma ou algumas pessoas seguem um líder ou um movimento como forma de sobreviver e de se proteger diante de situações adversas. Esse fenômeno não é considerado ruim, pois parte do instinto primário de sobrevivência comum a todos os seres vivos. Mas, por outro lado, ele pode levar à manipulação de situações que sejam favoráveis apenas a um grupo específico.

Ainda segundo a psicologia, existem alguns fatores que podem incentivar este movimento. Entre eles estão a necessidade de pertencer e se adequar a um grupo, a crença de que é sempre bom seguir o comportamento alheio, o sentimento de segurança que o grupo pode proporcionar e o medo de ser excluído ou abandonado pelos seus pares.

Mas você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com a Bolsa de Valores, onde todos os dias são negociados bilhões de reais em ações de empresas de capital aberto? A resposta é: muita coisa.

Assim como no dia a dia, o efeito manada é muito constante no mundo financeiro. Imagine que você está lendo um jornal econômico e se depara com a notícia de que a B3, Bolsa de Valores brasileira, está com uma ação para incentivar a entrada de pessoa física no segmento, que consiste em doar um determinado número de ações de uma empresa que apresentou valorização de mais de 50% no último ano, para os novos entrantes no mercado de capitais. É quase uma oferta relâmpago, com prazo de acabar no encerramento dos negócios. Quando você pensa no percentual de ganho registrado no passado, isso enche os olhos.

Você consulta seu saldo bancário e verifica que tem um dinheiro aplicado em um investimento mais conservador e que, ao contrário da ação que está sendo ofertada pela Bolsa, apresentou uma leve apreciação no mesmo período. Então começa a ver muitas reportagens mostrando que as pessoas estão empolgadas com a oferta e pensa: por que, não?

Você resgata o seu investimento, abre uma conta em uma corretora de valores e faz sua primeira aplicação no mercado acionário. Ou seja, para tomar a decisão teve como referência o que está sendo divulgado pela imprensa e chegou à conclusão que não podia ficar de fora. Ou seja, acompanhou um determinado grupo, você realizou o efeito manada.

À princípio, parece ser uma decisão acertada. A Bolsa vem registrando ganhos, a ação oferecida como brinde vem performando muito bem, por que ficar de fora? Uma lição muito importante que todo mundo deve ter em mente quando pensar em investimentos é que o lucro adquirido até aqui não é garantia de bom resultado daqui para frente. Isso vale, principalmente, para o mercado acionário, mas também deve ser considerado nos outros tipos de investimentos.

Um dos últimos grandes efeitos manada na Bolsa brasileira foi em março de 2020, quando a pandemia do coronavírus tomou proporções não imagináveis e vários fatores mundiais levaram a incertezas e pânicos aos mercados globais. Sem saber o que viria pela frente, os investidores começaram a se desfazer das ações, o que gerou muito nervosismo e o movimento foi seguido por vários outros investidores.

Entre os dias 09 e 18 de março de 2020, a B3 precisou acionar o circuit breaker seis vezes. O circuit breaker é um tipo de botão de pânico acionado pela Bolsa toda vez que o Ibovespa, principal índice acionário, cai mais de 10%. Ao ser ativado, as operações são suspensas por um determinado período. O objetivo é dar um tempo para os investidores esfriarem a cabeça e refletirem sobre suas decisões, evitando que a Bolsa continue afundando.

Diante das incertezas e consequências da doença, que já estava levando alguns países a adotarem o lockdown, os investidores resolveram se desfazer de suas posições e embolsar o dinheiro ou investir em ativos com menor risco. Neste caso, pode ter sido um efeito manada positivo, já que o Ibovespa encerrou o ano com alta de 2,92%, bem abaixo da inflação oficial de 4,52% no período.

Mas isso nem sempre é verdade. Algumas vezes, investidores com maior poder aquisitivo, como fundos, investidores qualificados, entre outros, entram realizando uma transação – de venda ou compra de ação – para atender a uma determinada demanda particular. Por terem uma grande quantidade de ações em carteira podem levar o mercado para a direção desejada e, neste caso, você que só viu o movimento e resolveu acompanhar, pode perder boa parte dos seus recursos.

Por isso, vale ressaltar que, para tomar qualquer decisão no mercado financeiro, o ideal é ter algum tipo de conhecimento ou procurar por ele antes de acompanhar o que todos estão falando, para que você tenha mais subsídios para sua tomada decisão e não se apoiar apenas no que está sendo dito.

Mas independente do tipo de investimento que você quer fazer, é importante definir suas metas, fazer um planejamento para alcançar seus objetivos, saber controlar a emoção em momentos adversos para não acompanhar a manada sem ter certeza se aquele “caminho” é o melhor para você e, senso crítico para acompanhar e separar as informações que estão sendo divulgadas sobre determinado assunto.

E, como diz o velho ditado, nunca deposite todos os ovos em uma única cesta. A melhor opção é sempre diversificar os investimentos e os prazos de vencimentos.