O “almoço grátis” do Mercado Financeiro

Foto: @standret/Freepik

Por Fabio Sobreira, analista CNPI-P e Professor da Fipecafi

Existe uma frase importante no mundo econômico que é: “não existe almoço grátis”, citada, dentre tantos outros momentos, por Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia em 1976.

Na prática, isto quer dizer que, se uma empresa está barata é porque alguma coisa preocupa o mercado. Se a taxa de juros está alta é por causa do medo da inflação ou de incertezas que geram insegurança nos investidores. Se o dólar está caro, quem exporta sai ganhando, mas quem importa sai perdendo.

Tudo isto é verdade e é exatamente por isso que associamos risco à retorno quando falamos de investimentos, sendo que, quanto maior o risco, maior o “possível” retorno. Em teoria então, não há como você ganhar mais com seus investimentos a não ser que tome mais risco para isso.

Mas é aqui que vem a mágica do mercado de capitais com suas infinitas possibilidades de escolhas. Você não precisa empacar todo o seu suado dinheiro em terrenos, casas ou negócios familiares, como faziam nossos avós. Você pode diversificar seus investimentos de forma a diminuir os riscos chamados de “sistêmicos” ou “não diversificáveis”, visando manter seus rendimentos, porém, diluindo sobremaneira as oscilações.

Quer dizer que eu devo então comprar o máximo de ativos que eu puder para me proteger do risco sistêmico? A resposta é: hmmmm… não é bem assim!!!

Na verdade, para uma boa diversificação, é necessário que haja um bom balanceamento entre a quantidade de ativos e a correlação entre eles.

Em uma proteção ideal, os efeitos da diversificação acontecem logo de cara, quando deixamos de comprar um único ativo e abrimos espaço para outras possibilidades de investimentos, sempre objetivando maximizar a relação risco x retorno. Mas há um nível no qual a quantidade de ativos já não produz o mesmo efeito, dado que você já estaria exposto a uma quantidade suficiente de ativos.

Não existe um número ideal, mas alguns estudos apontam que, a partir de 15 ou 20 ativos, a diversificação passa a ter pouco ou nenhum efeito real de proteção na sua carteira, pois quase todo o risco diversificável, ou não sistêmico, já foi diluído. Veja exemplo abaixo:

O próprio índice Ibovespa, apesar de conter mais de 90 ativos, têm mais de 50% de sua composição feita por empresas de commodities ou bancos, o que, na prática, produz grande volatilidade e pouca proteção. 

Uma das formas mais fáceis de diversificar seus investimentos, sem precisar escolher cada ação e medir sua correlação individualmente, é expor-se a fundos de índices, os chamados ETFs, com baixa correlação ou de setores diversos.

Veja no exemplo abaixo um investimento feito desde 2018 em apenas 3 destes fundos de índices, aportando ao mesmo tempo em Fundos Imobiliários, que têm como índice o IFIX, em Ações Brasileiras, com o Ibovespa, e na Bolsa Americana, representado pelo SP500. 

Se tivéssemos escolhido o ativo vencedor, o SP500 (linha amarela), seu rendimento seria melhor, mesmo com a recente queda do dólar e das ações que compõem este índice. 

Por outro lado, se escolhêssemos o Ifix (linha vermelha), teríamos uma volatilidade menor, como é comum nos Fundos Imobiliários devido sua maior previsibilidade caixa, porém, nosso retorno seria o pior possível nesta comparação.

Já se você montasse um portfólio contendo apenas o Ibovespa (linha azul), por exemplo, teria conseguido ao longo do tempo praticamente o mesmo retorno que uma carteira contendo ⅓ em cada um dos índices (pontilhado verde). 

Notem porém que os picos e vales no gráfico, que representam neste caso as oscilações e o risco inerente a cada um dos ativos, seria menor no Portifolio com os 3 ativos, o qual teria um risco “não sistêmico” menor, proporcionado pela baixa correlação entre o IFIX e o IBOV com relação aos SP500, que historicamente fica em torno de 0,30.

Outro fator importante é que a quantidade de ativos na carteira pouco adianta se os ativos escolhidos estiverem altamente correlacionados, como é o caso, por exemplo, de um investidor que resolve colocar todo seu dinheiro nos 4 grandes bancos com ações negociadas na Bolsa de valores.

Vejam que, via de regra, estes bancos seguem um mesmo padrão de movimentos, com correlação entre 0,80 e 0,90 de um máximo de 1. Na prática, isto significa que, quando um deles oscilar 1%, os demais devem oscilar entre 0,80% e 0,90%, na média.

Desta forma, em vez de estar protegido pela diversificação, você está apenas investindo em um mesmo setor, o bancário, deixando de expor seu patrimônio a outros setores e se proteger de fato.

Na prática, isso significa que você teria menos chances de sair perdendo caso precisasse vender seus ativos em um ponto específico ao longo do tempo, pois sua volatilidade, medida pelo Desvio Padrão da Média dos ganhos, seria muito menor.

Alguns homens e mulheres valentes diriam que, neste caso, as chances de ganhar muito dinheiro também seriam menores e que preferem correr o risco de “ganhar uma bolada” na Bolsa, escolhendo ativos vencedores. Mas, na prática, o que vemos é que muitos destes acabam perdendo muito dinheiro e saindo da Bolsa, acusando seus players de praticarem algum tipo de manipulação onde somente os grandes investidores vencem, fazendo-se de vítimas.

Diversificar é preciso e traz melhor retorno ao longo dos anos do que concentrar a carteira, mas o perfil de cada investidor e sua aversão a perdas deve ser o fator principal nesta difícil equação entre risco e retorno, que é a base do Mercado de Capitais.

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