O alerta do colapso no Silicon Valley Bank: a importância da gestão financeira responsável para a estabilidade do mercado global

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Redação: Victor Boscato
Colaboração: Gabriel Emir Moreira e Silva
Supervisão: Fernanda Zambianco

O colapso de um dos principais bancos do Vale do Silício, o Silicon Valley Bank (SVB), tem gerado preocupação em diversos países e no mercado financeiro internacional. A instituição financeira em questão, que atendia principalmente clientes do setor de tecnologia, enfrentou problemas de má gestão e investimentos arriscados, levando à sua falência.

Essa situação tem impactos significativos não apenas na economia local, mas também na economia global, especialmente porque muitas empresas do setor de tecnologia mantinham suas contas no banco em questão. Além disso, muitas das companhias de tecnologia da região dependiam dos investimentos e empréstimos concedidos pela instituição financeira falida para continuar operando, o que pode levar a uma desaceleração no crescimento do setor.

A falência do SVB também levanta questões sobre a necessidade de maior regulamentação e controle no setor financeiro, especialmente no que diz respeito a instituições que lidam com investimentos arriscados e com grande concentração de clientes do setor de tecnologia. Esse evento serve como um alerta para a importância de uma gestão financeira responsável e cuidadosa, especialmente em setores altamente voláteis como o de tecnologia e inovação.

Além disso, o colapso do SVB também pode levar a uma maior aversão ao risco por parte dos investidores, o que pode afetar negativamente o mercado financeiro como um todo. A incerteza gerada por esse evento pode levar a uma retração nos investimentos e uma desaceleração na economia global.

Quais os motivos?

Um dos principais motivos para a falência foi o fato de o Federal Reserve (Fed) ter movimentado as taxas de juros ao longo do último um ano para conter a inflação.

Tais medidas tornaram os custos de empréstimos mais elevados, reduzindo o ímpeto das ações de tecnologia que beneficiavam o SVB.

Além disso, as taxas de juros mais elevadas que também desaceleraram o valor dos títulos de longo prazo que o SVB e outros bancos “engoliram” durante a era das taxas de juros bem baixas, quase zero.

Vale ressaltar que a carteira de títulos de US$ 21 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões) do SVB rendia uma média de 1,79% – o rendimento atual do Tesouro é de cerca de 3,9%.

Com tudo isso acontecendo e afetando o banco, o capital de risco começou a secar, fazendo com que esvaziassem os fundos mantidos pelo SVB.

Desta forma, o banco estava acumulando grandes perdas não realizadas em títulos no momento em que o volume de saques dos clientes só crescia.

Risco sistêmico

Um dos grandes temores do sistema financeiro tanto no Brasil quanto nos EUA e no mundo é o problema do Risco Sistêmico, que é definido como a possibilidade de um choque em uma parte do sistema financeiro se espalhar e afetar todo o sistema. Um exemplo que ocorreu foi a crise financeira global de 2008, que começou nos EUA com a falência do Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimento do mundo na época. Este fato desencadeou uma cadeia de eventos que levou a uma crise financeira global. Houve uma escassez de liquidez que obrigou os bancos centrais a fazer programas emergenciais para capitalização dos bancos, como resultado, muitos bancos e outras instituições financeiras em todo o mundo sofreram grandes perdas.

Desde então, os Bancos Centrais em todo o mundo criaram mecanismos para mitigar o risco sistêmico. Eles introduziram novas regras e regulamentos para garantir que as instituições financeiras tenham capital suficiente para lidar com crises financeiras. O Fed criou testes de estresse regulares para avaliar a capacidade das instituições financeiras de resistir hipoteticamente a grandes choques financeiros.

O que agrava possibilidade de risco sistêmico é justamente os ciclos econômicos em um ambiente de baixas taxas de juros e consequentemente o aumento da alavancagem financeira. Cenário este que foi posto pela crise que o Covid-19 proporcionou nos últimos anos. Houve um “easing” monetário com objetivo de mitigar a desaceleração econômica entre 2020 e 2021, o que ocasionou, juntamente com a guerra na Ucrânia, uma alta generalizada de preços devido à interrupção na cadeia de suprimentos encarecendo toda a cadeia de valor. Desde o ano passado, portanto, o Fed e outros bancos centrais vem aumentando sistematicamente a taxa de juros com o objetivo de conter a alta inflacionária.

As economias emergentes, em particular, podem ser vulneráveis a choques financeiros devido a grandes volumes de dívida em moeda estrangeira e baixos níveis de reservas cambiais. Aqui no Brasil não foram verificados desdobramentos no mercado financeiro, muito pelo contrário, podendo possibilitar uma antecipação da queda da taxa de juros caso os EUA voltem a sinalizar com uma baixa na taxa de juros. Quando bancos como o SVB começam a apresentar fraturas é sinal que o “remédio” começa a “matar” o paciente, no caso aqui a economia real.

Outros casos

Vários bancos faliram nas últimas décadas em diferentes partes do mundo. No entanto, a frequência com que isso acontece varia de acordo com fatores como a estabilidade econômica de cada país e a qualidade da gestão financeira dos bancos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, um dos casos mais conhecidos de falência bancária recente foi o – citado acima – Lehman Brothers em 2008, durante a crise financeira global. A falência do Lehman Brothers teve um grande impacto na economia global, levando à recessão e ao aumento do desemprego em vários países.

No Brasil, alguns bancos também faliram nos últimos anos. Em 2019, por exemplo, o Banco Neon, um banco digital com foco em serviços bancários para pessoas físicas, teve sua liquidação decretada pelo Banco Central do Brasil após enfrentar problemas financeiros. Em 2020, o Banco Mercantil do Brasil também passou por uma intervenção do Banco Central por apresentar prejuízos acumulados.

Embora a crise do banco tenha sido um evento isolado, ele serve como um alerta para a importância de uma gestão financeira responsável e cuidadosa, especialmente em setores altamente voláteis como o de tecnologia e inovação.