Mensurar a sustentabilidade

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Por Iago França Lopes

A contabilidade ao longo da sua história contribuiu para a manutenção dos negócios e para o processo de prestação de contas das organizações. Para além, quando ocorreu a separação da propriedade e controle e com o surgimento dos novos sistemas contábeis de integração, entre áreas organizacionais, a mesma foi ganhando uma nova roupagem e ocupando posição de destaque na sociedade. De modo contemporâneo, com a chegada das discussões sobre ESG e sobre Relato Integrado nas últimas décadas (2010-2020), a comunidade contábil passa por mais um processo de mudança e provocação. 

Esse processo de mudança e provocação tende a exigir do profissional da contabilidade um dispêndio maior de tempo, isso para construção de mecanismos de comunicação ainda mais aprimorados, para uma prestação de contas cada vez mais transparente com os stakeholders. Esse aprimoramento incide na ideia de que os interessados na informação contábil tendem a demandar daqui para frente informações que transcendam o aspecto financeiro. Tal situação tem mudado, haja visto que em muitas situações os gestores e elaboradores das narrativas contábeis tem sobrepostos seus interesses sobre os dos verdadeiros financiadores da dívida da empresa.

Nessa direção, os stakeholders tendem a exigir discussões que incluam indicadores não-financeiros cada vez mais personalizadas a respeito da saudabilidade do negócio nos demonstrativos contábeis e nos relatórios emitidos ao mercado. Assim, mensurar a sustentabilidade é uma tarefa que combina indicadores financeiros e não-financeiros. 

Os indicadores financeiros, são comumente conhecidos, a saber: retorno sobre investimentos/projetos, retorno sobre o patrimônio da companhia, retorno sobre campanhas de marketing e sobre aporte de capital em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, entre outros. Já os indicadores não financeiros envolvem clientes, colaboradores, aspectos socioambientais, qualidade, relacionamento com a sociedade e demais nuances que permeiam o relacionamento da empresa com o meio. Tais indicadores são mais sensíveis e mais personalizados a realidade de cada empresa, isso considerando setor e região de atuação, por exemplo.

Com esse reconhecimento estamos diante de acionistas e interessados pelas informações sobre sustentabilidade que questionam as narrativas feitas pelas empresas. Assim, repetições de normas e relatos subjetivos perdem força diante desse grupo de pessoas. Estamos diante de um público questionador. Recentemente uma pesquisa publicada na RGO – de minha responsabilidade juntamente com a professor Dra Ilse Maria Beuren e a Mestra Gislene Martins analisamos o conteúdo informacional a respeito dos riscos narrados pelas empresas. O que nós identificados são relatos poucos informativos e com muita ausência de apoio quali-quantitativo. Em algumas condições apenas a repetição da norma era vista. Esse cenário precisa ser mudado.

O que se espera das organizações daqui para frente é que as suas práticas de sustentabilidade sejam apresentadas a partir de narrativas palpáveis, com uma combinação de elementos financeiros e não-financeiros que possam ser vistas como consultivas para a tomada de decisão. O custo para disponibilizar informação sem tempestividade e valor agregado ao mercado é algo que precisa ser discutido, pois pode aumentar a assimetria informacional entre agentes e acionistas. Diante dessa natureza, mensurar a sustentabilidade de forma adequada e pautada em instrumentos fidedignos é um convite a ser aceito pelas organizações a curto e longo prazo.