Liderança e gestão de mudança

Foto: Freepik

Por Dr. Paschoal Tadeu Russo

A capacidade de mudar é fundamental para a continuidade da vida, não só das empresas, mas de todos os seres vivos. A Teoria da Evolução, desenvolvida por Charles Darwin (1809-1882), afirma que é o ambiente, por meio de seleção natural, que determina a importância da característica do indivíduo ou de suas variações, e os organismos mais bem adaptados a esse ambiente têm maiores chances de sobrevivência, deixando um número maior de descendentes. Os organismos mais bem adaptados são, portanto, selecionados (escolhidos) pelo ambiente e, assim, ao longo das gerações a atuação da seleção natural mantém ou melhora o grau de adaptação dos organismos, fixando suas características no ambiente².

Tratando-se das organizações, compreender a realidade como um fluxo que traz oportunidades constantes para mudanças e interações, leva a visualizá-las como unidades em construção e reconstrução. Diferentemente da visão passiva apresentada por Charles Darwin, os executivos, à frente das organizações, pretendem determinar as mudanças, levando-as, por meio de processos, de seu estado atual para um estado futuro desejado, para tanto, sendo capazes de lidar com os problemas que surgem ao longo dessa jornada. Nas organizações os processos para tais transformações são fortemente influenciados pela liderança e a competência em gerenciamento da mudança.

Existem evidências de que muitos programas de mudança falham devido à má gestão, ou seja, problemas em planejamento, monitoramento e controle deficientes, falta de recursos, de know-how, além de políticas e práticas corporativas incompatíveis. Os esforços de mudança geralmente carecem dos recursos necessários, por exemplo, orçamento, sistemas, tempo e informações, e a experiência necessária – conhecimento e habilidades. As políticas e práticas corporativas às vezes permanecem as mesmas e se tornam inconsistentes com os objetivos e estratégias de mudança. Outras vezes, a mudança é considerada como uma “solução rápida”. Isso implica não considerar as mudanças para a organização como um todo e, portanto, causa interrupções imprevistas e inaceitáveis. Pode-se dizer que as iniciativas de mudança são muitas vezes o resultado da adoção ingênua de modismos de gestão.

Pesquisas que vem sendo desenvolvidas há mais de vinte anos confirmam que os atributos, em ordem de importância, para que as empresas consigam se modificar e prosperar, são: liderança, valores corporativos, comunicação, formação / consolidação de equipe (team building) e educação / treinamento.

Os desafios preliminares da mudança dependem, em primeiro lugar, dos líderes, que precisam estar aptos a visualizar onde a empresa se encontra e onde deverá estar no futuro, e em segundo lugar, das demais pessoas da organização, de forma que se possa assegurar suas adaptações às mudanças propostas pelos líderes. Entre diversos desafios nesse processo está o de balancear o alinhamento (representa o entendimento compartilhado, orientação comum, valores comuns e prioridades compartilhadas) com a adaptabilidade (demonstrada pela sensibilidade ambiental, tolerância a visões contrárias, vontade de experimentar, tolerar o fracasso e aprender com ele) contribuindo com a construção da capacidade de responder rapidamente às mudanças.

A fim de lidar com a complexidade e amplitude dos processos de mudanças nas organizações, as lideranças precisam lidar com diversas dimensões do processo de gestão, entre elas: visão, valores/cultura, estratégia, empoderamento/capacitação, motivação e inspiração.

Visão: A base da liderança eficaz é definir e comunicar uma visão atraente do futuro, deixando claro porque é importante chegar lá e inadequado (ou perigoso) permanecer aqui.

Valores: são os princípios queridos pelos quais as pessoas vivem, por isso, não é sábio desconsiderá-los, sobretudo se foram valorizados ao longo do tempo. Os valores pessoais são intrínsecos e os corporativos são extrínsecos e servem como orientação do comportamento em toda a organização. Uma liderança eficaz é capaz de identificar e promover valores compartilhados.

Estratégia: sem ela, a mudança é um sonho desordenado. Isso significa dizer que a liderança eficaz é capaz de desenvolver e comprometer-se a implementar estratégias de negócios, de forma racionais, com base em cenários possíveis para a organização.

Empoderamento/capacitação: Empoderar é dar poder às pessoas, o que na prática ocorre, quando elas se toram capazes de fazer o que precisa ser feito. A capacitação também não se limita à visão individual, mas o líder, além de contribuir com o processo individual de transformação dos liderados, precisa remover os obstáculos à mudança, entre eles estruturas, sistemas, que minam a visão e desencorajam as pessoas inovadoras.

Motivação e inspiração: Líderes eficazes motivam e inspiram as pessoas a fazerem o que precisa ser feito. Eles estão à frente das mudanças alinhando objetivos organizacionais com as necessidades, desejos, valores, interesses e aspirações dos indivíduos e do uso de uma linguagem positiva e apelativa. A motivação também surge de vitórias de curto prazo.

Por fim, como síntese do que foi apresentado, trazemos a fala do ex-presidente dos EUA Harry S. Truman: “Os homens fazem a história e não o contrário. Em períodos em que não há liderança, a sociedade fica parada. O progresso ocorre quando líderes corajosos e habilidosos aproveitam a oportunidade para mudar as coisas para melhor.” ³ A mudança requer uma boa gestão, mas acima de tudo exige uma liderança eficaz.

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