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Por: Samuel Durso

O resultado do mês de julho para o principal índice de inflação da economia brasileira, o IPCA, mostra o que já era esperado pelo mercado: o preço dos principais produtos da cesta de consumo dos brasileiros continua em ascensão. A alta do indicador ficou em 0,96% no mês, maior valor para o período desde 2002. O acumulado para 2021 mostra que a inflação do mercado brasileiro já está em 4,76%. No acumulado dos últimos 12 meses, a alta é e 8,99%.

Entre os principais fatores que justificam esse aumento expressivo está o preço da energia elétrica. A crise hídrica instaurada no primeiro semestre do ano tem demandado a utilização de fontes energéticas mais caras, as termelétricas, o que é repassado para o consumidor final por meio de tarifas mais elevadas. Em julho, o grupo com maior variação no IPCA foi justamente o habitacional, impactado pela alta da conta de luz (7,88%).

A meta de inflação estipulada pelo governo federal para 2021 foi 3,75%, com margem de variação de 1,5% para mais ou para menos. O teto da meta inflacionária, portanto, seria de 5,25%. Os dados do Boletim Focus mostram que o mercado já espera um resultado acima do patamar máximo, podendo alcançar o valor de quase 7% no acumulado do ano.   

As consequências da instabilidade inflacionária já são sentidas pelo mercado. O Banco Central, por meio do Copom, tem elevado constantemente a taxa básica de juros, a Selic, que deve chegar no final de 2021 no patamar de 7,25%. Com isso, o acesso ao crédito para pessoas físicas e jurídicas fica mais restrito. Além disso, há uma alteração considerável no fluxo de investimentos verificado nos últimos anos no mercado de capitais, com maior valorização da renda fixa em detrimento da renda variável.

As razões por trás da inflação também preocupam o mercado. Uma pesquisa conduzida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre junho e julho de 2021 com 572 empresas, indica que 49% dos respondentes mostram-se muito preocupados com a crise hídrica. Além disso, 98% dos empresários consultados acreditam que haverá aumento dos preços e 62% consideram ser provável ou certo que haverá alguma restrição no fornecimento de energia ainda em 2021. 

Enquanto do ponto de vista do consumidor o aumento do IPCA significa a elevação do custo de vida, para as empresas, as razões por trás do fenômeno podem gerar uma redução da competitividade. O aumento dos custos com energia, assim como a ameaça de racionamento para o segundo semestre podem dificultar o crescimento das empresas brasileiras, com consequente perda de mercado frente às concorrentes internacionais.

Deixando a situação ainda mais complicada, os impactos negativos da Covid-19 para o mercado de trabalho brasileiro ainda poderão pressionar o IPCA no segundo semestre. O contingente de pessoas desocupadas, que já atinge aproximadamente 14,8 milhões de brasileiros, tem demandado políticas de auxílio financeiro para a garantia mínima de sobrevivência. O atual programa de auxílio emergencial, assim como o recente anúncio do Programa Auxílio Brasil, poderá aumentar a circulação de moeda no mercado, gerando uma pressão de demanda para produtos básicos da cesta de consumo, como alimentos e bebidas, por exemplo.

No cenário esperado para o segundo semestre do ano, manter a inflação dentro dos limites estabelecidos no início de 2021 parece um sonho difícil de ser alcançado.   

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