Inflação, taxa de juros e câmbio

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Por Gabriel Emir

Com o cenário eleitoral definido e com a ata do Comitê de Política Monetária COPOM de outubro , solidifica-se o consenso do mercado de que a manutenção da taxa de juros em 13,75% deve permanecer neste patamar até o primeiro semestre de 2023. Ameaças a este cenário apenas poderiam surgir se o novo presidente eleito Lula da Silva sinalizar que adiciona um déficit fiscal além do patamar de 200 bilhões de reais e ou revogação do teto de gastos via PEC. Na medida em que o nome do vice presidente eleito Geraldo Alckmin está coordenando a equipe de transição e nomes já sacramentados no mercado como possíveis ministros da fazenda e ou economia tais como André Lara Resende, Pérsio Arida reforça a expectativa do mercado de termos um governo que poderá gastar um pouco mais com programas sociais, contratados na campanha, mas dentro dos limites da prudência fiscal.

A ata ainda sinaliza que o ciclo de alta ancorou as expectativas de inflação do mercado convergindo para a meta já em 2023, o que é um bom resultado considerando que as pressões inflacionárias que os bancos centrais tem que tem adotado medidas monetárias contracionistas, pressionados pela alta da inflação em todo mundo devido a guerra na Ucrânia e com as consequências ainda da COVID 19 que colapsaram as cadeias de suprimentos, gerando grandes desequilíbrios entre a oferta e a demanda. O Copom afirma que no âmbito doméstico os bens industriais, a queda dos preços ao produtor e a extensão das pressões nas cadeias globais de valor, apresentaram desaceleração. Entretanto algumas variáveis que são sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, com grande inércia inflacionária, estão acima do intervalo desejável para o cumprimento da meta para a inflação, com expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 segundo a pesquisa Focus são respectivamente 5,6%, 4,9% e 3,5%.

Um grande indicador das expectativas do mercado em relação ao cenário econômico que se avizinha após a eleição é dado pela taxa de câmbio. O gráfico abaixo mostra a taxa de câmbio da média móvel de 5 dias, este movimento do câmbio após a eleição foi de valorização do real com o valor de R$5,11.

Parte deste movimento no câmbio pode ser explicado pelo aumento de perspectiva de investimentos no país (dado que aparece no boletim FOCUS com aumento de R$10 bilhões de variação positiva nas últimas 4 semanas, e parte por entrada de investimentos de capital estrangeiro principalmente alocando em renda variável na B3. Enquanto o investidor local continua migrando de renda variável para aplicações em Renda Fixa.

Outro aspecto a ser avaliado além do cenário econômico doméstico é a pressão inflacionária externa que está forçando medidas contracionistas de todos os bancos centrais. Por exemplo, temos o FED aumentando a taxa de juros que atualmente está entre 3,75% a 4,00%. O mercado prevê ainda que a taxa de juros deve subir ainda para níveis acima de 5% e Jerome Powell, presidente do Fed, reforçou no comunicado que o FOMC (comitê de políticas monetárias dos EUA) tem o compromisso de trazer a inflação de volta à meta de 2% ao ano.

Todas estas variáveis tornam o hiato do produto no Brasil positivo onde a economia permanece aquecida e com o mercado de trabalho acima do ponto de equilíbrio onde o crescimento se dá sem pressão inflacionária. Devemos portanto ainda ter taxas de juros em níveis elevados. É verdade que com a entrada de investimentos diretos no país, a valorização da taxa cambial abre espaço para um eventual corte da taxa de juros antes do final do primeiro semestre de 2023. Entretanto, não deve ser o cenário base para a condução de política monetária.

Bolsa Brasileira após as Eleições

O movimento da bolsa nos primeiros momentos pós eleição são relativamente positivos, com entrada de capital estrangeiro, aumento da liquidez nas ações negociadas da B3. Mas a base de comparação que levariam o valor das ações de volta aos valores máximos pré pandemia não podem mais ser levados em conta. Definitivamente temos um outro mundo, tanto se observarmos o mercado doméstico quanto o mercado mundial. O “easing” monetário em que os bancos centrais promoveram ao redor do mundo, a própria taxa de juros Selic em valores mínimos históricos de 3% a.a. no primeiro semestre de 2020 são situações que demorarão para retornar. Portanto mesmo a sinalização do novo governo que se instaura de que respeitará a ortodoxia econômica e a relativa vantagem que o Brasil se encontra mais longe dos conflitos da guerra na Ucrânia e em termos de riscos relativos uma boa alternativa para investimento em países emergentes, não teremos um grande movimento de alta nos preços das ações. Excetuando claro setores que se sabe podem ser altamente priorizados como educação, construtoras que atuam no segmento das classes C e D, empresas de varejo com o impulsionamento de programas de transferência de renda de caráter social podem também ser favorecidas. Empresas relacionadas ao agronegócio podem ser uma aposta segura, na medida que o governo busque investimentos externos para o desenvolvimento sustentável deste setor, claro que para a consolidação destes cenários a definição da equipe econômica que dará as diretrizes de mercado é fundamental. Em outra ponta temos algumas estatais sofrendo com baixas nos seus valores de mercado, como é o caso de Banco do Brasil e Petrobrás.

Gráfico de performance das ações da Petrobrás mostram o ajuste de preço pós eleição.

O índice IBOVESPA ensaiou uma subida logo após as eleições mas ainda não está definido uma tendência de alta ainda é muito cedo para verificar a reação do mercado aos movimentos do novo governo e em um primeiro momento a definição da equipe econômica e a condução de uma transição de governo tranquila deve dar o tom de como os mercados irão reagir.