Gestão de risco ambiental em organizações em períodos de crises

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Por Iago França Lopes

A última década foi marcada por inúmeros acidentes ambientais envolvendo grandes corporações, a exemplo da Vale S.A., quando observamos o Acidente em Mariana (MG) (2015) e o Acidente em Brumadinho (2019). Diante dessas situações, os atuantes no mercado financeiro se questionam a respeito dos processos e das narrativas contábeis sobre a gestão de riscos ambientais praticados por empresas, uma vez que as narrativas contábeis possuem capacidade de influenciar na tomada de decisão e estas devem permitir previsibilidade para o decisor, em termos de futuridade e continuidade organizacional.

Questionar esses processos e as narrativas sobre a gestão de riscos ambientais é um feito inerente da atuação do usuário externo, no que tange usar a informação contábil para tomar decisão. Para além, em momentos de crises ambientais os relatórios contábeis são consultados pelos stakeholders com vistas a entender o cenário o qual a empresa opera e as formas como constrói ações para mitigar os riscos ambientais inerentes a sua atividade operacional. 

No entanto, quando consultado os relatórios contábeis a respeito da gestão de riscos ambientais, o que é observado é que boa parte das organizações não tem alterado as suas narrativas contábeis a respeito dos riscos ambientais. Em uma pesquisa realizada em 2021 por mim e pelos Pesquisadores Doutores Vanderlei dos Santos, Valdirene Gasparetto e Darci Schnorrenberger percebemos que em momentos de crise hídrica as empresas do setor elétrico praticamente não alteram as suas narrativas a respeito da gestão de riscos.  Em 2014 os pesquisadores Klann, Kreuzberg e Beck também identificaram baixas narrativas contábeis a respeito da gestão dos riscos ambientais nas maiores empresas listadas na Brasil Bolsa Balcão. Este processo é preocupante, uma vez que o usuário demanda de informações fidedignas da realidade da empresa para tomar decisões.

Diante do cenário é preciso avançar em uma perspectiva, por um lado é percebido que as empresas tem cumprido fielmente as instruções normativas a respeito da gestão de riscos, uma vez que se observado que quanto às recomendações da Instrução CVM 480, de 07 de dezembro de 2009 no que tange riscos, há atendimento. Por outro lado, o que deixa o cenário um pouco cinzento é a falta de alteração nas narrativas mesmos em períodos de crises. Há alguns questionamentos a serem feitos. Porque as informações de gestão de riscos ambientais em períodos de crise, a exemplo de crises ambientais pouco se alteram? Quais as consequências para o mercado dessa não alteração? As empresas não se preocupam em considerar as contingências ambientais em suas narrativas diante de crises? É claro que tais questionamentos precisam ser vistos com parcimônia, mas ao mesmo tempo instigam a reflexão a respeito dessas publicações contábeis praticas pelas empresas, em termos efetivos e tempestivos para a tomada de decisão do usuário.

Nesta direção, as narrativas contábeis sobre a gestão de riscos ambientais demandam de maior atenção por parte dos gestores. Esse chamamento é com vistas a atender as necessidades informacionais dos usuários da informação contábil, uma vez que em momentos de crises os relatórios contábeis são peças chaves para a tomada de decisão. Para além, no aspecto normativo a provocação que faço aqui é que apenas o cumprimento das recomendações feitas pelo normatizador são pouco significativas se estas não atendem as características qualitativas da informação contábil e não possuem capacidade de influenciar a tomada de decisão do acionista.