São Paulo, 13/07/2021

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O novo Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) na última segunda-feira (12), projetou uma nova alta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – principal ferramenta para mensurar a inflação no país. Segundo os economistas, o índice deve encerrar o ano em 6,11%, ante os 6,07% projetados no último levantamento, o que representa a 14º elevação semanal nas estimativas. No acumulado de 12 meses até junho, o índice chegou a 8,25%.

As projeções afastam ainda mais o IPCA da meta definida pelo BC para o ano corrente. No fim do último mês, a autarquia revisou a estimativa do teto do índice de 5% para 5,8%, reconhecendo que o percentual ficará de fora da meta de 3,75% – com margem de 1.5 ponto percentual para mais e para menos. Por meio de sucessivas elevações na taxa básica de juros (Selic), que hoje está em 4,25% ao ano, a entidade tenta contornar um possível descontrole inflacionário. De acordo com o economista-chefe do Denarius, Samuel Durso, a depreciação do real frente ao dólar, a elevação do preço das commodities no mercado internacional e as políticas de transferência de renda para contrabalancear os efeitos da pandemia são fatores que ainda irão influenciar positivamente na alta dos preços até o final de 2021.     

O mercado já espera que a taxa básica de juros encerre 2021 em 6,63%, alta de 0,38 ponto percentual em comparação às projeções do último mês. Para o próximo ano, o mercado estima que a Selic alcance 7%, enquanto o IPCA deve se alcançar o patamar de 3,75%.

No mercado internacional a situação não é diferente. Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), divulgado nesta terça-feira (13), indica alta além do esperado por analistas no mês de junho – de 0,9% na comparação com maio, ou de 5,4% no acumulado anual. Com isso, aumentou-se o temor de que o Federal Reserve inicie uma política monetária contracionista antecipadamente, o que teria impacto em economias emergentes, como a brasileira.    

A secretária do Tesouro norte-americana, Janet Yellen, avaliou no último mês que a aceleração da inflação no país seria resultado da reabertura da economia após as medidas de restrição adotadas no âmbito da pandemia do novo coronavírus. “A aceleração da inflação está ligada às dificuldades da reabertura econômica, que tem provocado gargalos de oferta”, afirmou Yellen em depoimento a um comitê do Congresso norte-americano, pontuando que o movimento deve ser temporário.  No início de 2021, o recém-eleito Joe Biden, anunciou um pacote de estímulos de quase US$ 2 trilhões, o que explica, em partes, o crescimento da inflação no país. 

No último relatório trimestral de inflação, o Banco Central brasileiro traçou cenários para a retomada dos juros nos Estados Unidos – o que poderia levar o IPCA a 9,1% no acumulado do ano até setembro. O diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, avaliou o atual cenário como “perigoso”, visto que a reabertura do setor de serviços e a recomposição de preços no mercado deve pressionar ainda mais a inflação no país. “Esse é o momento talvez mais crítico para a gente saber como a economia vai funcionar no pós pandemia“, avaliou o diretor em uma live promovida pelo Santander. “É um momento particularmente difícil para ter essa precisão de como será o consumo de serviços“, concluiu.

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