Entrevista: Por que o dólar fechou a R$ 4,91 nesta terça e o que esperar

Foto:jcomp/Freepik

O dólar vem arrefecendo em 2022. Na segunda-feira (21), a divisa encerrou em retração de 1,43%, a R$ 4,9440. Nesta terça-feira (22), foi registrada uma nova baixa, de 0,60%, fechando a R$ 4,9142, valor mais baixo desde 24 de junho de 2021. Para explicar um pouco a movimentação, o Denarius entrevistou o professor Flavio Riberi, coordenador de cursos de pós-graduação da Faculdade Fipecafi.

Denarius: Por que o dólar está caindo?

Flavio: A nona alta consecutiva da Selic para o patamar de 11,75% embute um incentivo para o fluxo de recursos dos investidores globais em busca de maior rentabilidade para seu capital. Só em janeiro e fevereiro de 2022, o fluxo cambial em dólares foi de USD 1,49 bilhões e USD 6,34 bilhões, totalizado entradas de quase USD 8 bilhões. Em apenas 11 dias em março, o Brasil absorveu ainda USD 2,6 bilhões em um fluxo cambial positivo, o que contribui para a formação de reservas e uma recuperação no fôlego para a apreciação do real observada até o momento. Observamos no fechamento do mercado em 22 de março de 2022, ainda, um novo recorde com o Dólar comercial cotado a R$ 4,9142. A valorização do Real desde o início de 2022 possui uma relação com o fluxo cambial positivo.

Um maior fluxo de dólares tende a forçar a cotação do câmbio para um patamar inferior. Claro que este fenômeno é apenas um retrato da cena econômica no mundo: os países desenvolvidos atualmente apresentam a taxa básica de suas economias em patamares inferiores a 1% a.a., enquanto que a resposta oferecida pelo Banco Central do Brasil, fundamentado no nível de risco país e seu esforço em conter um surto inflacionário, define uma taxa entre as maiores do mundo, perdendo apenas para economias com altíssimo grau de risco como Argentina, Rússia e Turquia. Ao passo que a taxa de juros no Brasil busca arrefecer o ânimo inflacionário, também é aquela que irá referenciar o financiamento doméstico, as corporações e famílias, além de servirem como base de remuneração de rolagem da dívida pública.

Denarius: Qual é o comportamento esperado da moeda para os próximos meses?

Flavio: O que devemos assistir nos próximos meses, com a confirmação do persistente fluxo cambial positivo, será uma gradativa valorização do Real, que por sua vez poderá incorporar oscilações fruto de ruídos advindos da cena política eleitoral com a formação dos blocos partidários e seus candidatos para as eleições.

Denarius: De que forma as eleições deste ano influenciarão a movimentação do dólar?

Flavio: Parte da cena política é uma velha conhecida dos brasileiros com o fla x flu entre direita e esquerda, mas com inúmeras incertezas sobre o surgimento e a musculatura que a candidatura de uma terceira via pode representar em termos de propostas que incorporem políticas públicas e segurança para os investidores no país. Não está descartada uma nova alta na taxa de juros pelo Banco Central e há um consenso em diferentes fóruns sobre mais um aumento que possa encerrar ou aproximar a taxa do fim do ciclo de alta. Um novo aumento da taxa Selic pode dar um novo ânimo para, no lado da economia, estimular a injeção de capital estrangeiro e consequentemente contribuir para a apreciação do Real. Ou seja: a combinação entre a aparente previsibilidade do rumo da política monetária e a incerteza da cena política pode ser um amálgama imprevisível que trará volatilidade a cotação do dólar.

Denarius: É o momento para comprar dólar?

Flavio: Precisamos acompanhar o movimento do que está acontecendo no mercado financeiro. A cada dia surgem eventos com o potencial de influenciar o valor da moeda estrangeira: hoje temos a guerra entre Rússia e Ucrânia, amanhã teremos uma pauta eleitoral no Brasil e uma pauta de reformas. Sabemos que o Brasil teria uma maior segurança jurídica com as reformas já implantadas e um ambiente melhor para o desenvolvimento dos negócios.

No passado, o dólar estava indiscutivelmente associado a uma percepção de reserva de valor. Hoje, na ótica da pessoa física vale acompanhar e adquirir moeda ou realizar investimentos em fundos atrelados ao câmbio quando se possui a perspectiva futura de compromissos que envolvam o uso de moeda estrangeira, como é o caso de viagens ao exterior.

Para as empresas importadoras há o potencial aproveitamento da oportunidade para a contratação de operações cambiais tendo em vista o travamento do câmbio, o que proporciona previsibilidade sobre o que será pago a seus fornecedores no exterior. Na outra ponta, empresas exportadoras também trabalharão com estratégias para proteger sua geração de receita para atingir a premissa-alvo da taxa de Câmbio contida em suas projeções orçamentárias.

(Redação: Victor Boscato e Fernanda Zambianco)

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