Entrevista: O que muda na atratividade dos investimentos com a expectativa de elevação da Selic?

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Como os indicadores econômicos e as decisões políticas impactam no mercado de investimentos?

Recentemente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic, taxa básica de juros, a 10,75% ao ano. Ontem, no Relatório Focus, os analistas elevaram a expectativa da taxa para 12,25% até o fim de 2022. Além disso, a inflação no patamar de dois dígitos e o fato de estarmos em ano de eleição presidencial, formam um contexto de incertezas no Brasil.

Sempre de olho nas movimentações do mercado, o Denarius entrevistou George Sales, Professor de Finanças e Mercados da Fipecafi, sobre os melhores caminhos para investimentos nesse início de ano.

Denarius: Quais são os principais tipos de investimentos realizados pelos brasileiros?

George: Dentre os brasileiros que investiram, segundo a ANBIMA, 53% deles colocaram o dinheiro em produtos financeiros. Pela primeira vez, os produtos financeiros ultrapassaram a soma de todos os outros destinos dados para as economias, alcançando uma população estimada em 20 milhões de brasileiros. Na distribuição desses investimentos a poupança segue como líder com mais da metade investidores, seguido de longe pelos títulos privados, fundos de investimento, ações e títulos públicos.

Denarius: Com o aumento na taxa de juros, quais aplicações se tornam mais interessantes? Investimentos de menor risco deverão se tornar mais rentáveis e atrativos?

O aumento da taxa de juros atrai o investidor para aplicações em renda fixa, assim com a taxa Selic em 10,75%, maior patamar em 4,5 anos. O investimento em títulos públicos torna-se uma excelente opção, pois possuem alta liquidez de negociação e, ao mesmo tempo, permitem uma rentabilidade acima dos títulos bancários. Quanto ao risco de crédito desses papéis, trata-se risco soberano e, portanto, possuem uma baixa probabilidade de default.

Denarius: Ainda em relação à elevação da taxa de juros, nesse começo de ano, vale a pena manter o dinheiro em aplicações de renda variável? Se sim, quais seriam mais indicadas? Se não, como encontrar uma alternativa substituta?

George: Em geral, o aumento da taxa Selic pressiona o Ibovespa para um patamar mais baixo. Contudo, por conta da nossa moeda estar defasada há oportunidades esporádicas para os investimentos em renda variável. Adicionalmente, na bolsa sempre há oportunidades, pois ao olharmos individualmente os papéis, existem sempre oportunidades contrarias às expectativas gerais. Assim, temos ações de empresas ligadas ao petróleo que estão se beneficiando devido ao elevado patamar de preços do barril. As ações da Petrobras, por exemplo, estão no maior patamar dos últimos 10 anos.

Denarius: Quais outros fatores (internos e externos) deste começo de ano podem exercer impacto direto sobre os investimentos dos brasileiros? Por que?

George: Atualmente, o principal fator impactante é a inflação de dois dígitos, oriunda de um aumento da liquidez monetária promovido pelo governo durante esses dois anos de pandemia. Praticamente todos os governos fizeram a mesma coisa para manter as pessoas em casa, e isso aumentou a inflação de diversos países. Adicionalmente, temos o dólar como outro fator de risco, pois o patamar elevado dessa moeda pressiona o valor dos ativos de mercado, que tornam-se mais baratos aos investidores estrangeiros e, consequentemente, mais caro aos nacionais. Um exemplo disso é o elevado preço do petróleo, que fixa uma grande cadeia inflacionária.

Denarius: Os mercados de criptomoedas e NFTs têm ganhado espaço e a atenção de muitos investidores. Qual a sua percepção dessas opções nesse momento da nossa economia? Algum conselho para os interessados que estão iniciando neste tipo de investimento?

George: As criptomoedas e as NFTs (sigla em inglês para “tokens não-fungíveis”) tiveram uma forte elevação no ano de 2020 e 2021, pois alguns fatores impulsionaram como a alta demanda institucional, escassez das criptomoedas, entrada de grandes investidores e pelo ativo ter caído na grande mídia e no gosto de um público que cresce a cada dia. Adicionalmente, diversos aplicativos de análise e acompanhamento desses ativos surgiram, o que facilitou e ajudou na disseminação o conhecimento. Um grande conselho é a cautela, pois a volatilidade é alta e pode haver queda repentina dos preços.

Denarius: Recentemente, uma pessoa não divulgada gastou 450 mil dólares para ser vizinho do cantor Snoop Dogg no Metaverso, deixando claro que existem pessoas investindo fortemente nesse meio. Aparentemente, esse universo deve ser promissor no longo prazo? Quais as expectativas para esse mercado?

George: Ainda não é uma realidade que se possa dizer ser promissor, recentemente o Facebook (Meta) divulgou seus resultados financeiros e não foram satisfatórios, fazendo o papel dessa gigante recuar agressivamente no mercado. No longo prazo pode até ser promissor com pessoas nascidas após os anos 2.000, pois possuem mais familiaridade com as tecnologias e, portanto, são mais propícias a consumir tais produtos.

Denarius: Neste ano teremos eleições no Brasil e a previsão é de um cenário de incertezas econômicas. Sendo assim, seria mais seguro olhar para o mercado de investimentos no exterior? Para quem busca essa alterativa, quais são os melhores caminhos?

George: Em ano de eleição aumenta-se a volatilidade da bolsa e, portanto, abre caminho para maiores ganhos, ou até mesmo, maiores perdas. O investimento no exterior pode dar uma estabilidade maior e, consequentemente, evitar sustos desagradáveis. O melhor caminho para atingir esse objetivo é investir em ETFs (Exchange Traded Fund) que fazem aquisições de índices de preços estrangeiros, como é o caso do ETF HASHDEX NASDAQ ETHEREUM REFERENCE PRICE FDO. IND. e do ETF ISHARES S&P 500 FDO INV COTAS FDO INDICE.

Denarius: Nos EUA temos visto uma grande possibilidade de aceleração da retirada de estímulos econômicos com a consequente elevação da taxa de juros norte-americana. Quais os impactos deste cenário para o mercado de investimentos no Brasil em 2022?

George: O mercado americano dita o ritmo dos investimentos pelo mundo, pois a maioria dos países e grandes empresas exportadoras possuem reservas de contas em dólar e, portanto, podem investir nos EUA. E o aumento da taxa de juros americana pode impactar a captação desses recursos.

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