Disseminando Informações ao Mercado: As Práticas de Relações com Investidores pela
Internet

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Por Cláudio Eduardo Doiche Júnior e Renê Coppe Pimentel

Para a negociação pública de ativos em bolsa de valores, as empresas estão sujeitas ao cumprimento de diversas normas de divulgação de informações financeiras e operacionais, atividade altamente regulada em todo o mundo. No entanto, parte significativa das empresas tem como prática a divulgação não apenas de informações para atender estritamente a legislação, mas vão além, promovendo um amplo e detalhado trabalho de divulgação.

Se por um lado, tal oferta adicional e voluntária de informações gera custos, muitas vezes significativos, afetando caixa livre da empresa e, por consequência, dos acionistas, há uma forte crença de que tais divulgações estão associadas a benefícios para empresas, tais como, aumento da base acionária e da cobertura de analistas, redução da volatilidade das ações, da assimetria de informação e do custo de capital e que, por sua vez, impactariam positivamente no preço das ações e no retorno para os acionistas.

Tipicamente, a área de Relações com Investidores (RI) assume papel central na formulação de políticas de divulgação e transparência. Assim, as áreas de RI concentram funções cujo objetivo é melhorar a divulgação das informações e facilitar o acesso, seja através de um portal eletrônico, seja de uma equipe profissional especializada para atender os investidores e auxiliá-los, por exemplo, na melhor compreensão dos demonstrativos e de outros documentos divulgados, dentre outras práticas.

Apesar de estrategicamente relevantes para as empresas, é muito difícil qualificar, objetivamente, programas de RI com base em suas melhores práticas. Visando propor uma medida objetiva de análise da qualidade de programas de RI no Brasil, realizamos um mapeamento e análise das práticas de RI adotadas por empresas listadas. Para apresentar um amplo retrato de tais práticas em websites, foram mapeadas as atividades desenvolvidas nos portais eletrônicos de RI de 158 empresas não-financeiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que representam 95% da capitalização de mercado de tais empresas.

Para tanto, utilizamos o instrumento mais amplo e compreensivo encontrado na literatura proposto por Nel (2016) e pelo Investor Relations Guideliness (UK), contendo um total de 341 itens de avaliação, divididos em 11 categorias, que avaliam as empresas em questões, tais como divulgação de informações financeiras, tempestividade, na facilidade de acesso às informações (acessibilidade), etc.

O mapeamento indica que, de maneira geral, as empresas direcionam seus portais de RI, primordialmente, para a divulgação de informações financeiras e corporativas de forma adequada, haja vista que na grande maioria dos casos foi possível, por exemplo, encontrar históricos das demonstrações financeiras, tanto anuais quanto trimestrais, além de apresentações aos investidores em slides, bem como ter acesso a informações gerais sobre as empresas.

No entanto, diversos portais de RI deixam de prover informações detalhadas sobre outros pontos relevantes, tais como Responsabilidade Social e sobre Governança Corporativa, ou ainda informações sobre novos negócios e projetos, necessários para uma adequada estimativa do fluxo de caixa futuro da empresa, em especial, faltam aspectos relacionados ao valuation e informações prospectivas concretas (forward looking information). Também, na média, foi difícil identificar de forma direta informações sobre debêntures e dívidas.

Apesar do movimento para ampliação das divulgações relativas a questões ESG, tais divulgações ainda são insipientes em diversos portais, muito embora em alguns casos fosse possível obtê-las por outro modo, como acessando repositórios CVM e B3, a maior dificuldade de acesso gera dúvidas sobre o real compromisso do programa de RI em informar de maneira ampla o usuário de seu portal sobre tais aspectos.

Assim, em um primeiro momento, é possível afirmar que as empresas brasileiras listadas divulgam satisfatoriamente informações financeiras e corporativas, comparadas inclusive com padrões internacionais. Se por um lado é possível identificar que há (1) boa acessibilidade das informações, (2) bom fornecimento de informações financeiras e (3) corporativas, (3) realizadas de forma tempestiva, por outro lado, há uma significativa possibilidade de melhoria nos aspectos relacionados (1) às informações aos debenturistas e credores, (2) às práticas de ESG, e (3) às informações prospectivas.

A coleta e mapeamento dos portais de RI é um primeiro passo de uma longa jornada para se analisar os determinantes e consequências da qualidade das práticas de RI no país, o que possui efeitos práticos, inclusive para reconhecimento público dos melhores programas e iniciativas de RI no Brasil.

Uma ampliação das informações divulgadas, principalmente aquelas ligas ao fluxo de caixa futuro do negócio, permitiriam que atuais ou potenciais investidores realizem melhores estimativas. Do mesmo modo, informações relacionadas às práticas ESG iram possibilitar que uma gama maior de stakeholders tenham informações mais detalhadas sobre as práticas corporativas.

Contato: denarius@bruno