Copa Catar 2022: Até que ponto a diversão compensa?!

Foto: Pixabay

Por Drª Cíntia Araujo, Professora e pesquisadora em Administração

Neste cenário de diversão global, temos a tão esperada Copa do Mundo de 2022, no Catar. Como não se contagiar com o clima de copa?! Cresci em uma família que curtia muito futebol e Copas do Mundo. Lembro com nostalgia das ruas e muros pintados com a mascote da Copa do México de 1986, da emoção de decorar o nome dos jogadores dos times estrangeiros e as bandeirinhas de plástico penduradas nos postes das ruas. Mas, daí a gente cresce, tem acesso a informações que antes nos eram irrelevantes. 

Toda esta “intro” para comentar um pouco sobre as controvérsias e polêmicas que cercam a Copa do Catar.

Primeiramente, a escolha do país foi cercada de suspeitas e objeções[1]. Segundamente, A FIFA (Federação Internacional de Futebol) por si só, é uma instituição controversa e cheia de acusações graves de corrupção. Neste item, o fato da FIFA que, apesar de ser uma instituição sem fundos lucrativos, ter contratos milionários de patrocínios com empresas como Adidas, Coca-Cola e Qatar Airways, e que, desde 1974 só ter tido 3 presidentes, todos homens brancos em um esporte jogado por milhões de  indivíduos de todos os gêneros e todas etnias/raças- o brasileiro João Havelange, sogro do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira que saiu da presidência sob diversas acusações de corrupção[2] ; Joseph Blater e o atual Gianni Infantino[3].

Apesar de grande parte da mídia fazer “vistas grossas” sobre as polêmicas que cercam o evento, não há como ignorarmos as diversas acusações que recaem sobre o governo local.

O país é regido por um sistema de monarquia absolutista em que os direitos constitucionais e direitos humanos são muito pouco respeitados. Então, enquanto a maioria dos turistas que se divertem nos estádios gozam de direitos humanos fundamentais, no Catar, a prática homossexual é proibida, sendo passível de pena de açoitamento, apedrejamento e, até punição de morte.

A “cereja do bolo” fica por conta das denúncias de utilização de trabalho análogo a escravidão na construção dos estádios: segundo denúncias, desde 2010, 6500 imigrantes do sudeste asiático que trabalhavam no Catar morreram, sendo 37 deles, trabalhadores atuando na construção dos estádios da Copa.

Daí, podemos nos perguntar: será que a FIFA sabe/sabia disso? Pois, em maio deste ano a Anistia Internacional fez um pedido de doação de U$ 440 milhões, endereçado ao seu presidente Gianni Infantino, para compensar os danos sofridos pelos trabalhadores envolvidos na construção dos estádios utilizados no evento.

A resposta de Infantino foi: “quando você dá um emprego para alguém, mesmo em condições difíceis, você está dando dignidade e orgulho para aquela pessoa” [4].

Aparentemente, a diversão compensa, mesmo que sob o custo do sofrimento de muitos.  

Uma pena.


[1] Aragão, T. (2022, Junho 21). Polêmicas sobre Catar como sede da Copa são conhecidas há mais de doze anos. RFI. https://www.rfi.fr/br/podcasts/o-mundo-agora/20221121-pol%C3%AAmicas-sobre-catar-como-sede-da-copa-s%C3%A3o-conhecidas-h%C3%A1-mais-de-doze-anos

[2] Cifuentes, P. (2015, Junho 2). Investigação fecha cerco contra corrupção na CBF. El País. https://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/02/deportes/1433258683_223960.html

[3] Issa Hayatou foi presidente interino em 2015, sendo substituído por Gianni Infantino

[4] Malek, L. (2022, Novembro 17). Ditadura, mulheres, população LGBQTIA+, trabalho escravo: entenda as polêmicas na Copa do Catar. Yahoo Esportes. https://esportes.yahoo.com/noticias/ditadura-mulheres-popula%C3%A7%C3%A3o-lgbqtia-trabalho-063008639.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAAJpXTO5FajRDW_g4OfhBgBYFBxpD_KlRQr1VIF75krN_5WWzEY0EUZpWf9a4JW07jcKnkiikIJRqBkxZx-uyoeoGKSe9yQmVm_4UYT8dpXyljtXnlAv7VU6AbqW6nwQDWD3FWJhC_kgSBXHvJg2pW88D4a35Qnw8cSWx8HnIJSoz

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