Contabilidade e carnaval, isso da samba?

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Por Iago França Lopes

Há aproximadamente dois dias encerramos as festividades de carnaval no país tropical. Uma festa que economicamente teve por capacidade movimentar um pouco mais de  8 bilhões em receita, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Assim, é reconhecido que esses valores são segregados em hospedagem, passagens aéreas, gastos com adereços e fantasias, bebidas e entre outros elementos que compõem o kit folia do brasileiro e dos estrangeiros que procuram o Brasil nesta época do ano. Assim, é observado que esta festa tão popular no Brasil se alinha a um consumo desenfreado de embalagens, plásticos, purpurinas que inclusive colocam em segurança a vida marinha. Posto isso, não podemos negligenciar o nosso papel diante desse desafio.

Assim, mais uma vez a contabilidade precisa se apropriar de algumas de suas formas de prestação de contas e criar medidas que permitam mensurar esse impacto em termos econômicos e sociais e de certa forma apresentar alternativas para que o consumo consciente seja uma pauta cada vez mais presente nesta festa popular do Brasil. Isso porque, é uma festa que chama a atenção de inúmeros patrocinadores, tão logo os recursos destinados a esta folia também demandam ocupar orçamentos destinados para mitigar os malefícios desse elevado consumo de recursos e  dos meios de produção, só em Salvador, Bahia, em 2020 foram recolhidas mais de 456 tolenadas de lixo nos circuitos Barra-Ondina, Campo Grande, Pelourinho, Amaralina e Ilha, enquanto que em São Paulo os valores chegam a  456,5 toneladas de resíduos nas ruas e sambódromo.

Neste ponto, de acumulo de toneladas e mais toneladas de lixo é importante mensurar a responsabilidade social das empresas e do cidadão. Assim, dois lado de uma mesma história precisam ser contadas. De um lado, está as empresas que precisam criar mecanismos de coleta consciente desses resíduos e de outro está o cidadão, que demanda por ações de cunho cada vez mais pró-ambiental nesta festa.

Resgatando ainda o aspecto empresarial, é relevante o incentivo junto ao terceiro setor por exemplo, se a empresa efetivamente não quer se responsabilizar por esses resíduos gerados é preciso criar meios que permitam ações sustentáveis, coletas seletivas, reciclagem de alguns itens, entre outros. É claro que neste ponto estamos falando também de orçamento que garanta que essa ação seja efetiva e que realmente alcance a sua missão, para além de um aspecto superficial e de pouca relevância para as pessoas e para o meio. Assim, ao mesmo tempo que a empresa age de modo consciente e cria demandas orçamentárias para resolver esses problemas está se diante de uma cadeia produtiva, da qual gera-se emprego e renda para os atuantes no terceiro setor. Tal ação, se apresenta como uma forma de incentivar a criação de nichos empresarias alternativos que possam resolver os problemas do excesso de consumo da sociedade e principalmente em festas como o carnaval.

Agora, fazendo um chamamento para o cidadão, para o brincante da festa carnaval, é importante o consumo consciente dos recursos que fazem parte do kit carnaval, principalmente embalagens e alinhar esse consumo junto à instituições e empresas que demonstram uma postura pró-ambiental diante dessa festa linda é um começo para um diálogo alicerçado na preservação do meio ambiente. É claro que em algumas instanciações esse discurso pode chegar como uma utopia, mas é preciso ter esperança, a esperança de Paulo Freire, a esperança do verbo esperançar. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. O que é preciso é  criar práticas que permitam gerir uma sociedade que se responsabilize pelo consumo dos fatores de produção e ao mesmo tempo saiba o valor efetivo das coisas. E isso vale para as empresas e para o cidadão.

Carnaval e contabilidade da samba, sim senhor! O que é preciso é criar uma harmonia que possibilite que um enredo seja contado de modo consciente e pautado em medidas que garantam a nossa estada no planeta e a manutenção de um processo efetivo de prestação de contas dos recursos que são consumidos e gerado pela sociedade.