Como avaliar as melhores empresas de crescimento da Bolsa

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Em nossos textos anteriores falamos da importância de olharmos para a capacidade de uma empresa pagar dividendos baseada na relação entre o seu Lucro e o seu Preço, chamado de Taxa de Lucratividade ou Poder de Lucro.

Conseguimos chegar a esta métrica de diversas formas, além da tradicional divisão do Preço sobre o Lucro, para demonstrar a importância de alguns indicadores na hora de avaliarmos boas empresas pagadoras de dividendos.

Peguemos como exemplo a Locamerica (LCAM3), que reportou um Lucro por Ação (LPA) de 2,39 nos últimos 12 meses e tem sua cotação na casa dos 22,23 reais, dependendo da data na qual você está lendo este artigo. Seu Poder de Lucro então seria de “apenas” 10,75%, o que deixaria a empresa em situação ruim para um investidor que quer receber dividendos, já que ele poderia investir hoje em títulos públicos e receber 13,25% sem correr riscos.

Vimos também que é possível analisarmos a relação entre este Lucro por Ação de 2,39 e o Dividendo distribuído por Ação (DPA), que, no caso da Locamerica, foi de apenas 0,56 nos últimos 12 meses, chegando em um Payout de 23,43%. Isto significa que a empresa, distribuiu menos de ¼ de seus lucros em dividendos e tem um Dividend Yield (DY) de apenas 2,52%.Vale lembrar que, neste caso, poderíamos chegar ao Poder de Lucro da empresa como a divisão entre o DY pelo Payout (2,52/23,43), chegando novamente aos 10,75%, que é o quanto a empresa poderia ter pago de dividendos, se quisesse.

Mas há ainda uma terceira forma de chegarmos no Poder de Lucro da Locamerica, desta vez, pela relação entre o seu Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), hoje em 23,92%, com o seu P/VPA, que compara o Preço da ação negociada no mercado com o seu Valor Patrimonial por Ação (VPA), cujo valor é de 2,23. Vê-se, desta forma, que a empresa entrega um retorno de 23,92% para aqueles acionistas que compraram a empresa por seu valor patrimonial, porém, o mercado cobra um ágio nas suas ações, por considerarem-na uma boa empresa, o que reduz substancialmente o Poder de Lucro da empresa, dado desta vez pela divisão entre o ROE e o P/VPA (23,92/2,23), e nos traria novamente um valor de 10,75%, que é o Retorno para o investidor de Bolsa. Novamente, este investidor teria que se contentar com uma empresa que tem hoje capacidade de pagar dividendos menor do que a taxa básica de juros sem risco, a Selic.

Mas um último fator poderia ser avaliado, no caso da Locamerica, que é a capacidade futura de a empresa pagar dividendos, já que ela é uma empresa que pode ser considerada “de crescimento”. Isso se daria pelo fato de seu LPA ter saído de 0,93 em 2017 para 2,39 em 2022, uma Taxa de Crescimento Anual Composta, também conhecida como CAGR, dos últimos 5 anos, de 20,78% ao ano.

Poderíamos utilizar a relação entre o Preço sobre o Lucro da empresa (P/L), que no caso da Locamerica está em 9,30 no momento desta matéria, e dividirmos este valor pelo crescimento de 20,78, chegando a um valor de 0,45.

Esta relação, conhecida como Price-to-Earning Ratio, ou PEG Ratio, foi muito utilizada por Peter Lynch, um dos maiores gestores de fundos da história, o qual considerava que empresas com esta relação abaixo de 1 teria uma relação entre o preço das ações e seu crescimento favorável. Mas Lynch também dizia que as melhores empresas são aquelas cuja relação fosse abaixo de 0,50, como é o caso da Locamerica, hoje em 0,45, o que significaria que, apesar de seu P/L hoje ser desfavorável, esta empresa teria condições de crescer o seu lucro de forma tão substancial que traria ao investidor um retorno excepcionalmente favorável nos próximos anos, o qual compensaria o preço pago hoje.

Apesar de simpatizar com o grande Peter Lynch, eu, que não sou lá muito fã do índice P/L por achar que ele traz uma relação menos clara do que o Poder de Lucro, prefiro calcular qual seria o Poder de Lucro Futuro da Locamerica, caso ela mantivesse o crescimento.

Neste caso, a Locamerica teria, no longo prazo e com um crescimento constante de 20,78% ao ano, seu Lucro, hoje em 2,39, aumentado para 6,14 daqui a 5 anos, um crescimento total de 156,99% no período. Lembrando que 5 anos é o período que eu quero projetar, podendo este ser considerado para 10, 20 ou 30 anos, a depender da capacidade de crescimento da empresa, como é feito nos modelos tradicionais de Valuation.

De qualquer forma, sabemos que um Lucro de 6,14 daqui a 5 anos não é igual a um lucro de 6,14 hoje, devendo este número ser trazido a Valor Presente, ou seja, a dinheiro de hoje, por uma taxa pelo menos igual à taxa livre de risco, a Selic, no caso.

Vou utilizar aqui uma taxa de desconto de 10% a.a., menor que a taxa de juros de hoje, porém, maior que a Selic para 2025 projetada pelo último boletim Focus publicada em 29/04, que era de 7% a.a.

Desta forma, a taxa de desconto total seria de 61,05% em 5 anos (10% a.a.), o que traria nosso Lucro futuro de 5 anos de 6,14 para 3,81 a valores de hoje.

Com isso, nosso Poder de Lucro Futuro, pegando os 3,81 de Lucro daqui a 5 anos a valor de hoje e o preço atual da ação, de 22,23, traria agora um Poder de pagar dividendos futuros de 17,16%, portanto, acima da SELIC atual, de 13,25%.

Tentando aqui simplificar, apesar da complexidade do assunto, quem comprar a Locamerica a preço de hoje, estará levando não seu Lucro passado, mas, com sorte, um lucro futuro crescente acima da Selic, com projeções de crescimento e distribuição maior de dividendos no futuro.

Um investidor que comprar uma ação deve olhar sim para o seu Lucro Atual, pois é ele quem indica a capacidade de pagar dividendos apresentada nos últimos balanços da empresa, porém, para um investidor de longo prazo, é importante ver também qual é a possibilidade futura de uma empresa, principalmente aquelas com crescimento acelerado como é o caso da Locamerica, passar a entregar mais e mais lucros e, possivelmente, distribuir mais dividendos no futuro.

Lembrando que aqui eu estou falando da capacidade de pagar dividendos e não necessariamente que estes serão pagos, o que seria ainda mais complicado de ser projetado, pois dependeria de outra premissa, que seria a decisão de Payout futura da empresa.

Fica aí mais um estudo para os próximos artigos, os quais, espero, ajudem você leitor a olhar com outros olhos para o mercado financeiro, sempre com visão de acionista e investidor de longo prazo – à qual, considero eu, é a melhor maneira de se investir na Bolsa de Valores.

Por Fabio Sobreira

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