Como a inflação impacta as empresas e o que devem fazer os gestores

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Por Rodrigo Paiva

Inflação é um índice que mede a correção dos preços de produtos e serviços em um determinado período. Nos últimos três anos a inflação medida pelo índice IPCA (IBGE) acumula alta superior a 23,50%. Já pelo índice IGP-M (FGV) a inflação acumulada, nos últimos três anos, é superior a 62,50%. Mas qual o índice correto para medir a inflação? A resposta é: “depende”. A metodologia para se apurar a inflação consiste na variação de preços de uma cesta de produtos e serviços, portanto, os dois índices estão corretos dentro de seus respectivos métodos de apuração. Em verdade, cada empresa possui o seu próprio índice de inflação, pois cada empresa possui uma composição única de produtos e serviços consumidos ao longo do tempo.

A inflação pode impactar as empresas de diversas maneiras, tais como, aumento nos custos de insumos, reflexos no reajuste do custo da mão de obra (dissídios) entre outros. Embora exista a possibilidade de repassar os aumentos de custos para os preços, nem sempre essa opção é viável, pois a inflação também reduz o poder de compra dos clientes e consumidores. O impacto da inflação na economia é generalizado, e ainda mais severo para quem está na ponta da cadeia produtiva, ou seja, os consumidores, especialmente os mais pobres.

Outro efeito imediato para as empresas do aumento da inflação é o seu reflexo no custo de sua estrutura de capital e de contratos indexados. Quando ocorre aumento do índice de inflação do país, o Banco Central geralmente também corrige o índice SELIC como medida de contenção da economia, consequentemente, o dinheiro fica mais caro, seja porque os contratos são indexados a indicadores que acompanham a SELIC, ou porque o custo de oportunidade dos investidores aumenta, passando a exigir maior prêmio pelo risco. Assim, a inflação também provoca aumento no custo de capital próprio e de terceiros. Em resumo, a inflação impacta negativamente as organizações por conta do aumento do custo de captação de recursos financeiros, aumento do custo de aquisição de produtos e serviços operacionais e pela redução do poder de compra do consumidor final. Dessa forma, no nível macroeconômico, é muito importante que o governo empenhe os maiores esforços para conter

o descontrole da inflação. Mas e no nível microeconômico, o que os gestores podem fazer para sobreviver em cenários de aumento brusco da inflação?

O primeiro ponto é manter um rígido controle de gastos. Sempre que os gestores percebem o risco de redução do nível de atividade, é preciso reduzir proporcionalmente os gastos fixos. Todavia, a redução de gastos fixos requer planejamento centralizado. Um erro comum das organizações é atribuir uma meta individual de redução para cada gerente. Muitas vezes gastos fixos estão associados a níveis de serviços que representam pontos essenciais da estratégia corporativa e a sua eliminação compromete a competitividade das organizações.

Outro ponto essencial é estabelecer diretrizes consistentes em termos de gestão de contratos e políticas internas. Todos os contratos estabelecem riscos para as partes envolvidas que podem estar mais ou menos explícitos, portanto, é preciso conhecer os riscos envolvidos, realizar simulações de cenários e ter um plano de ação para cada risco significativo. Por exemplo, se há riscos de restrições de insumos ou serviços provocados por eventos externos, algumas ações podem ser tomadas pelos gestores, como a ampliação da cadeia de suprimentos ou mesmo a formação de estoques de segurança de insumos para suportar o período de escassez.

Ser consistente significa manter diretrizes e políticas estabelecidas ao longo do tempo, porém, é preciso suportar as inúmeras pressões internas e externas relacionadas às escolhas. Por exemplo, no caso da Petrobrás, em 2016 foi estabelecida uma política de preço de paridade de importação, que basicamente consiste em repassar para o preço do produto as variações nos mercados internacionais do petróleo, adicionando os custos totais de importação e uma margem de lucro. Essa política teve como objetivo evitar interferência do governo sobre os preços dos combustíveis, garantir a viabilidade da empresa e evitar congelamento de preços por um período, seguido por aumentos escalonados. Todavia, as diversas pressões para abandonar a política de paridade internacional levou a diversas trocas na presidência da Petrobrás nos últimos três anos.

O caso Petrobrás para lidar com a inflação é excepcional, pois a menos que a organização tenha algum tipo de monopólio, legal ou tecnológico, não é possível repassar imediatamente para o preço os efeitos da inflação. Portanto, o caminho para lidar com a inflação é o planejamento e controle. Uma estrutura de governança legítima e diretrizes claras também são fundamentais para que os gestores possam lidar da melhor forma nos períodos de inflação elevada.

Rodrigo é CEO da CONFIDENCIAL ASSESSORIA EMPRESARIAL, professor da FACULDADE FIPECAFI e diretor da área de controladoria da ANEFAC. Possui doutorado em controladoria e contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), é pesquisador e autor artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais.

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