Afinal, o preço da ação importa ou não?

Foto: Anna Nekrashevich/Pexels

Por Fábio Sobreira
Analista CNPI-P e Professor da FIPECAFI

Apesar de parecer estranho para quem não está diretamente envolvido com o mercado financeiro, o preço da ação, para alguns analistas e influenciadores digitais de nossa época, não importa, na hora de escolher qual empresa você quer se tornar sócio.

E isto não significa necessariamente que estas pessoas estão acima das questões materiais e que não se apegam a coisas tão mundanas quanto o dinheiro, mas sim, que elas acreditam que há um equilíbrio quase cósmico no mercado, garantindo que todas as empresas estejam justamente precificadas, dadas todas as informações disponíveis no momento da compra de uma ação.

Desde modo, na hipótese de realmente haver um “mercado eficiente” o suficiente para precificar tudo de forma justa, cabe a você, mero investidor, procurar boas empresas com capacidade de crescer seus negócios, aumentar seu faturamento, seu lucro e, consequentemente, seu caixa, em vez de ficar procurando barganhas por aí.

A hipótese dos mercados eficientes foi formulada primeiramente por Eugene Fama na década de 60, em sua dissertação de mestrado, e ganha mais e mais adeptos a cada dia. Estes defendem que, se não há como vencer o mercado, junte-se a ele. Ou seja, invista na Bolsa e ganhe dinheiro estando posicionado de forma genérica, como em ETFs ou fundos passivos, por exemplo, sem se procurar em acertar o “timing” certo para a compra.

Porém, grandes gestores e investidores não concordam com esta teoria e garantem que “Grandes oportunidades de investimentos surgem quando empresas excelentes estão cercadas de circunstâncias incomuns que fazem suas ações serem mal avaliadas”, como disse Warren Buffet, o maior investidor do mundo. Buffet vai ainda mais longe na sua descrença quanto a esta eficiência quando diz que: “Eu seria um mendigo vagando pelas ruas com uma caneca na mão se os mercados fossem sempre eficientes.”

De fato, grandes investidores fizeram fortunas por acreditarem exatamente na possibilidade de haver oportunidades em qualquer tipo de transação econômica, seja na compra de uma empresa, de um imóvel ou de qualquer ação negociada na Bolsa. Mas também é verdade que, na tentativa de acharem estas oportunidades quase de graça perdidas nas ruas, muitos investidores apostam em empresas ruins e sem qualquer perspectiva de melhoras em seus negócios, colocando suas fichas na possibilidade de uma recuperação milagrosa e sem qualquer embasamento.

Alguns gostam até mesmo de investir apenas nas chamadas “penny stocks”, ou ações negociadas por centavos, cuja desvalorização foi tanta que qualquer pequeno aumento em suas cotações traria um gigantesco ganho em seus portfólios, deixando-os com seus bolsos cheios.

Um dos cases mais recentes é o da empresa Oi, cujo preço da ação, em seus tempos áureos há mais de 10 anos, chegou a valer quase 100 reais, mas que hoje são negociadas por centavos, troco de pão ou quase nada. Um prejuízo que pode chegar a 99% do investimento, dependendo de quando a ação foi comprada.

Já em seu histórico mais recente, a empresa saiu de uma cotação de menos de R$ 0,50 em abril de 2020 para R$ 2,50 em janeiro de 2021, um aumento de mais de 400% em apenas alguns meses. Isso fez alguns investidores acreditarem na recuperação da empresa, apesar de os números da empresa ainda demonstrarem uma gigantesca fragilidade em relação a sua capacidade de sobrevivência. Mas logo a expectativa de ganhos gerada por investidores atentos apenas a seu preço acabaria sucumbindo novamente à realidade, trazendo a ação novamente para o patamar dos centavos, deixando novo rastro de destruição de patrimônios.

Estes são aqueles que engrossam o grupo que pensa que é somente o preço que importa na escolha de uma ação, como fazem alguns traders, analistas técnicos ou até mesmo investidores amadores que, sem qualquer critério, fazem apostas no mercado porque “acham” que uma ação vai subir ou cair porque pegaram a dica de fulano ou beltrano na internet.

Enquanto quem olha para os balanços vê uma empresa a ser analisada e quem olha e estuda gráficos tenta enxergar tendências e padrões que indiquem para onde o preço de uma ação vai, quem investe apenas por dicas de “gurus” ou busca aquela oportunidade explosiva muitas vezes vê a ação estourar na própria cara, queimando seu dinheiro em um arriscado jogo contra grandes tubarões e investidores experientes.

A análise fundamentalista, por mais que se valha de dados técnicos e financeiros, olha também para oportunidades e ameaças que estão ao redor da empresa e quais são suas chances de sobreviver ou até mesmo crescer com o tempo e o preço, senhor de todas as oportunidades de mercado, é um termômetro importante na escolha das ações. 

Em nossa história recente, vimos acionistas de empresas como a Cielo e a Magalu que, apesar de terem ainda ótimos balanços, tiveram suas cotações depreciadas em mais de 80% desde suas máximas históricas, deixando àqueles que não se atentaram para seus altos preços extremamente preocupados.

Por melhor que sejam estas empresas, seus indicadores chegaram a atingir números considerados muito acima da média dos seus pares, com valor de mercado acima de 20x seus valores patrimoniais e relação preço sobre lucro passando de 400.

Podemos notar pelo que aqui foi escrito que o assunto é extenso e abordaremos todos os indicadores históricos e atuais das empresas em nossos próximos artigos, certos de que, ainda assim, teremos falado muito pouco quando o assunto é análise fundamentalista de ações.

Espero poder ajudar vocês a abrirem suas mentes para o maravilhoso mundo da Bolsa de Valores, sem levá-los a pensar que Bolsa é Cassino, e que, portanto, pode deixar vocês ricos ou pobres da noite para o dia.

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