Afinal de contas, para que serve estudar economia?

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Por Diogo Carneiro

O senso comum costuma associar o estudo da economia ao trato com dinheiro, mas será que é só isso?

Quando estamos lendo o jornal ou assistindo ao noticiário e nos deparamos com o termo “economia”, é normal pensarmos imediatamente em assuntos ligados a dinheiro, tais como inflação, juros, taxa de câmbio, emprego, renda etc. Não há nada de errado com esse tipo de associação, mas o campo de conhecimento abordado pela economia não se resume somente a isso.

A palavra economia tem origem nos termos gregos oiko (casa) e nomos (administrar), e pode ser entendida como a administração de um lar. Administrar um lar requer uma série de decisões a respeito das atividades e da alocação dos recursos, e o mesmo acontece em uma sociedade, só que de forma muito mais complexa e em uma escala muito maior.

Portanto, economia é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando a produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida. Muitas vezes encontramos a expressão “economia política”, e isso acontece justamente para eliminar qualquer dúvida de que estamos aplicando este entendimento para uma sociedade, e não para um indivíduo.

Ora, se houvessem recursos infinitos e à disposição de todos, a distribuição e o consumo de bens não seria um grande problema. A questão ganha importância justamente porque não há abundância de tudo para todos. Dessa forma, o grande objeto de estudo da economia é a escassez. Economia, portanto, é o estudo de como a sociedade toma decisões a respeito dos recursos escassos.

Ocorre que as decisões sobre alocação de recursos são tomadas por inúmeros indivíduos, e o resultado costuma ser o produto combinado de uma infinidade de decisões com objetivos e interesses distintos. Assim, a definição mais bem aceita de economia é “a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre diversos propósitos (fins) e os meios que são escassos e possuem usos alternativos”.

Ao longo do tempo, o grande objeto da economia tem se voltado à compreensão das escolhas feitas pelos tomadores de decisão (considerando seus interesses e limitações), a interação entre eles e os resultados alcançados. Para tanto, a economia desenvolveu muitos conceitos e ferramentas que auxiliam na compreensão destes elementos. A ciência da economia é muito mais um conjunto de ferramentas do que uma matéria em si.

Por conseguir analisar tão bem a interação entre inúmeros fatores, interesses, limitações e outros aspectos, a economia tem sido muito útil em indicar soluções para melhorar a eficácia de políticas públicas. Como exemplos, é possível citar os estudos sobre escolhas racionais, a forma como pequenos incentivos que não limitam as decisões afetam nossas escolhas e a melhor compreensão dos fatores que afetam o desenvolvimento humano e o bem-estar social.

Outro ponto muito interessante a respeito da economia é que seu objeto de estudo é a sociedade. Assim, como toda ciência social aplicada, seu conjunto de conhecimento é capaz de se alterar ao longo do tempo, observando novas relações e resultados na medida em que as pessoas e as culturas se modificam.

Embora seja muito importante conhecer os fatores que determinam a riqueza e o dinheiro, saber como as decisões são tomadas em termos de alocação de recursos consiste em uma ferramenta muito mais poderosa. A compreensão dos efeitos dos incentivos, das limitações existentes (por exemplo, informações limitadas ou viés cognitivo), e das interações entre diversas causas pode revelar respostas surpreendentes – muitas vezes bem diferentes do senso comum ou do achismo.

Quando estamos diante de notícias bombásticas a respeito dos impactos de um determinado acontecimento em coisas como PIB, taxa de juros, câmbio, desemprego etc., é importante ter em mente que a economia não se resume somente a isso. O que está por trás é um rico conjunto de ferramentas e técnicas desenvolvidas ao longo de séculos. São instrumentos cada vez mais robustos para fornecer informações e respostas mais ricas e úteis.

Da próxima vez que aparecer uma notícia simplória indicando, por exemplo, o impacto dos juros no emprego de um determinado setor, vale a pena refletir um pouco a respeito da intrincada relação entre os muitos incentivos e fatores que se combinam para chegar a um certo desfecho. Muitas vezes, o resultado correto pode surpreender quem baseia sua análise apenas no senso comum.