A violência contra as mulheres no ambiente de trabalho e no mundo corporativo

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Por Drª Cíntia Araujo, Professora e pesquisadora em Administração

Recentemente, vimos e ouvimos bastante sobre as denúncias de assédio sexual no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que resultou no afastamento do juiz Marcos Scalercio, que, além de atuar no CNJ, também atuava como professor em um curso preparatório para jurídica em São Paulo. Até o momento, foram registradas 87 denúncias de mulheres que trabalham no CNJ e também de uma aluna.

Outros casos que impactaram as redes sociais e debates sobre o ambiente de trabalho, foram o caso das denúncias de assédio sexual feitas por profissionais mulheres de uma grande instituição financeira federal, que apontam como responsáveis executivos e profissionais  do alto escalão da instituição, e o caso escandaloso de assédio moral e sexual ocorrido na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que resultou no afastamento do então presidente da organização, Rogério Cardoso, pivô do escândalo.

            O debate sobre as diversas formas de violências contra mulheres ainda é um tabu no ambiente corporativo. Embora muitas das empresas e organizações venham se ajustando às reinvindicações da sociedade e de diversos movimentos civis, atualizando suas normas de conduta/ética e implementando medidas preventivas como implementação de canais de denúncia e oferecimento de palestras e treinamentos, é sabido, que muitas profissionais mulheres não se sentem seguras em seus ambientes de trabalho, sendo que muitas vezes, mesmo quando são vítimas de algum tipo de violência não têm confiança nos processos organizacionais existentes e acabam por não denunciar tais atos.

            Por isso, hoje, vamos começar uma breve série de textos para apresentar conceitos, perspectivas e propostas de soluções acerca da violência contra mulheres no ambiente de trabalho e no meio corporativo:

  • O assédio moral consiste em atos e/ou condutas abusivas contra uma pessoa, geralmente com intuito de desqualifica-la ou desestabiliza-la psicologicamente. O assédio moral pode ter diversas formas, como declarações que desqualificam a capacidade da vítima, brincadeiras, comentários hostis e ofensivos. Outra característica do assédio moral é a repetição do ato: geralmente, a vítima é exposta a situações de assédio por tempo prolongado, a ponto de sentir-se fragilizada e muitas vezes hostilizada no ambiente em que a violência ocorre, o que afeta sua saúde emocional e psíquica como também seus relacionamentos com demais indivíduos e desempenho.
  • Violência ou assédio sexual por sua vez, configura como um ato ou conduta de natureza sexual feito sem consentimento da pessoa a quem é dirigido ou também sem que a pessoa tenha condições de consentir ou recusar o ato/conduta, causando constrangimento e/ou atentando contra a integridade psicológica e/ou física da vítima. Muitas vezes o assédio sexual é realizado por uma pessoa que ocupa uma posição social e/ou hierárquica superior à da vítima, que busca obter favorecimento ou vantagem de cunho sexual a partir de sua posição.
  • Por fim, temos o racismo. O racismo é um processo no qual um indivíduo ou grupo é hierarquizado (geralmente, em um nível inferior aos demais membros da sociedade), marginalizado (excluído) ou discriminado de acordo com uma marca física. O racismo é reforçado por meio de práticas podem ser definidas e institucionalizadas, familiares, repetitivas e atualizadas no cotidiano das pessoas. Infelizmente, o ambiente de trabalho é um dos locais onde os negros/pardos sentem-se mais descriminalizados e apartados de oportunidades por sua cor de pele. 

Certamente, que assim como observado nas diversas esferas de nossa sociedade, estes diferentes tipos de violência cometidos contra mulheres no ambiente de trabalho e no mundo corporativo são, de modo geral, imbuídos em questões delicadas e complexas como a baixa notificação de delitos devido receio de represálias, a influência das relações de poder (professor(a)/aluna, orientador(a)/orientanda, chefe/liderada), a competitividade masculina tóxica, ausência de medidas de prevenção,  conscientização e educação de todas as partes envolvidas e de medidas de proteção às vítimas.

                Por fim, seguem algumas das fontes utilizadas na elaboração deste texto.

PS: Queridos(as) leitores(as), espero que não se enfadem com a inserção de algumas referências e com a longa descrição de fontes. Creio ser de grande importância que as fontes sejam apontadas para que vocês possam aprofundar-se mais no tema e também desenvolver uma perspectiva holística e independente do tema apresentado. Espero que curtam esta abordagem. 😊

Avila, R. P. de. (2008). As consequências do assédio moral no ambiente de trabalho.

Bellini, D. M. G. (2018). Violência contra mulheres nas Universidades: contribuições da produção científica para sua superação (Scielo e Web of Science 2016 e 2017). Universidade Federal de São Carlos.

Lima, M. E. O., & Vala, J. (2004). As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia (Natal), 9(3), 401–411. https://doi.org/10.1590/s1413-294×2004000300002

Nascimento, A. M. (2004). O assédio moral no ambiente do trabalho. Revista LTr, 8(66), 922–930. Sansone, L. (1996). Nem somente preto ou negro: O sistema de classificação racial no Brasil que muda. Afro-Ásia, 8, 165–187. https://doi.org/http://dx.doi.org/10.9771/aa.v0i18.20904

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